Crônica das Origens da Família

Biografias


6. Francisco Silveira Mendes

7. Guiomar de Moraes

          Francisco nasceu na zona rural de Piracicaba, no bairro do Mato Alto, a 15 de novembro de 1916, filho de João Mendes da Cruz e Anna Olympia da Silveira.

          Guiomar foi filha de Antonio de Moraes e Belentina Teixeira da Silva. Nasceu no Arraial de São Bento, na Fazenda Diamante, pertencente ao bairro do Olho d'Água, a 16 de novembro de 1919, em Piracicaba.

          Ambos moravam com os pais. Francisco ajudava o pai na lavoura e estudava em Saltinho, povoação próxima a sua casa. Guiomar esteve no Arraial até a idade de cinco anos, enquanto o pai tinha armazém naquela paragem. Daí foi para a Fazenda Velha e em 1935 mudou-se para Piracicaba. Seu estudo foi bastante fracionado por essas mudanças de residência.

          Dali, os pais de Guiomar foram para uma chacára no bairro do Campestre.

          A educação dela foi bastante rígida, como era costume à época. As meninas não podiam frequentar bailes ou orações à noite. Mesmo à luz do sol só lhes era admitido participar de festas religiosas ou das chamadas "festas de padroeiro". Para irem às "brincadeiras dançantes" (bailes), Guiomar e as irmãs diziam aos pais que estariam em casa de colega, e daí uma rápida escapadela aos bailecos.

          Guiomar algumas vezes passava temporadas na casa de sua avó Carolina. Essa sua avó não confiava a guarda de sua casa e suas criações a outrém que não Guiomar. Assim, toda vez que necessitava ir à cidade (Piracicaba, em geral) pedia a Antonio de Moraes que deixasse a neta tomando conta do sítio. Lá, Guiomar prendia os bezerros ao cair da noite, alimentava as galinhas e os porcos, cuidava da horta. Enfim, administrava a casa. No seu jeito rude, Carolina explicava gostar da neta por ser "parecida com ela: ruim".

década de 40          Em 1937, morando no Campestre, seus pais receberiam uma visita que teria significado especial na vida de Francisco e Guiomar. João Mendes, compadre de Antonio e Belentina, vinha trazer o convite de casamento de uma filha dele, Esther. Nesse casamento, Guiomar conheceu Francisco, irmão da noiva.

          Pouco depois, Francisco e Guiomar reencontraram-se casualmente numa festa. Numa terceira ocasião, no bairro de Monjolinho, novo encontro. Francisco, nessa oportunidade, cedeu seu cavalo a Itagiba, irmão de Guiomar, para poder ir à pé conversando com ela. A partir daí passaram a se ver com frequência.

          Em 1940 Francisco se muda, acompanhando seus pais, para o bairro do Barreirinho. No mesmo ano, a 14 de setembro, Francisco e Guiomar se casam em Piracicaba.

          O casal ficou morando no Barreirinho com os pais de Francisco. O ritmo de vida não era costumeiro para Guiomar: ainda de madrugada estavam todos em pé. Após uma chícara de café, os homens partiam para o trabalho na roça, ficando as mulheres cuidando da comida e da limpeza da casa. Por volta das oito horas da manhã era servido o almoço. Novamente o trabalho na lavoura e em casa. Ao meio-dia servia-se o jantar. Pelas três da tarde vinham o banho e a ceia. Às seis, por fim, todos iam para seus leitos. Tão diferente da casa de Guiomar onde cada um destes atos era retardado pelo menos em duas horas ...

década de 40          Francisco administrou fazendas nas proximidades de Piracicaba até que, em 1951, comprou uma "venda" na estrada que ligava o Arraial de São Bento a Piracicaba.

          Em 1954 adquiriu uma pequena propriedade, parceladamente, no bairro do Serrote, Nele plantava milho, arroz, feijão, melancia e café. Tinha também pomar e horta no terreno. A ojeriza a dívidas, no entanto, provocou novo fracasso, a ponto de sustentar a família basicamente com a produção do sítio. Era uma época de poucos doces e poucos artigos comprados. O dinheiro muito escasso nesse período. Forçado pelas dívidas, vendeu o sítio e foi novamente trabalhar como administrador de fazendas.

          Depois comprou um caminhão em sociedade com o primo Juca, viajando como acompanhante do motorista, por alguns meses, ao norte do Estado do Paraná. A família ficou residindo na cidade de Piracicaba. Mas logo abandonou essa profissão pelo cargo de administrador da Chácara Nazareth, hoje loteada, mas que àquela época produzia todos os tipos de frutas passíveis de serem produzidas no País. Era este um capricho de seu proprietário. A chácara produziu também, café para exportação e criava gado.

          Por fim, Francisco passou a trabalhar como recebedor de cana-de-açúcar na balança da Usina Costa Pinto, no bairro do Tamandupá, onde morava. Nesta mesma função passou para o bairro do Paraíso ("Paraisolândia"), em 1977. Em 1980 construiu casa na cidade de Charqueada, sede do município de igual nome. Aliás, nessa cidade o casal batizou, em fins de 1979, o neto Pedro Augusto. Em Charqueada, aposentado, Chico vivia satisfeitíssimo. Frequentava diariamente um barzinho onde podia jogar bocha e conversar com os amigos, aprendeu a dirigir e comprou um carro Volkswagem ao filho José, automóvel esse que trocou mais tarde. Nele andava pela cidade.

          Já a vida de Guiomar seguia bem mais solitária. Com o marido permanentemente fora, ela vivia em casa cuidando dos afazeres domésticos ao som de um rádio (no qual Chico invariavelmente ouvia pelas manhãs o "Programa Gil Gomes", em que o locutor Gomes contava, com cores de suspense e detalhes, crimes hediondos e sensacionalistas). Vez por outra uma prosa com as vizinhas.

com o neto André

          O dia 2 de setembro de 1987 parecia ser mais um desses dias monotonamente comuns. Chico saiu cedo para a bocha, jogou truco, voltou para almoçar e foi novamente embora. Ao cair comprou dois pedaços de pizza no bar e encaminhou-se para casa pelas 8 horas da noite. Deitou-se cedo, como de costume. Tarde da noite foi ao banheiro e na volta sentiu uma dor enorme e desmaiou. Tinha sofrido um derrame cerebral, que paralisou seu lado esquerdo. Foi levado para o hospital de Charqueada e dali para Piracicaba.

          O casal mudou-se para uma casa de fundos próxima à do filho João e agora mora numa casa perto do colégio " Mons. Jerônimo Gallo", ambas na Vila Resende.

          Chico, homem de vontade férrea, faz regularmente exercícios motores e espera um dia voltar a andar. Como todos que sofrem, dessa doença, tornou-se extremamente emotivo e chora por qualquer coisa. Emagreceu muito e adquiriu uma palidez preocupante, mas progressivamente se recupera.

          Guiomar tem um feitio sisudo, ríspido e agressivo que por vezes assusta. Quando o marido tem acessos de choro, ela fica brava rapidinho: "Pare com isso, Chico! Um puxa homão desses...". Numa ocasião, ela não se deu bem com esse seu jeito. Estava ralhando com o neto André e esse, então com dois ou três anos de idade, fez seu mais doce olhar, abriu a palma da mão esquerda e, apontando com o indicador direito, perguntou: "quer comidinha, vó ?". Desmontou-a.

          Aliás, esse neto percebeu o jeito da avó e vive a provocá-la. Certa ocasião, passando férias na casa dela, André falava com a mãe ao telefone e, olhando-a com o canto dos olhos, reclamava que ela não o deixava sair à rua nem um pouquinho (justo ele que não parava em casa). A resposta foi fulminante: "Seu moleque mentiroso, te esquento a bunda.". André riu às escâncaras.