Crônica das Origens da Família

Biografias


14.Antônio de Moraes

15. Belentina Teixeira da Silva

          Antônio, batizado Antônio PEDRO, nasceu em São Carlos (SP), onde o pai administrava fazenda, no dia 27 de março de 1894, segundo sua filha Guiomar. Esta data é, no entanto, conflitante com as existentes em outros documentos que examinamos: a certidão de casamento fala em 8 de abril e uma carteira de identidade, tirada em Sorocaba, informa seu aniversário em 17 de abril. Antônio foi filho de Pedro Joaquim de Moraes e Alexandrina Avelina de Moraes.

          Aos quinze anos já administrava fazenda em São Carlos, pois contava que nessa ocasião, vindo a cavalo para Piracicaba, notou um cometa nos céus. Não conhecendo o que poderia ser "aquela coisa", não conseguia afastar seus olhos do firmamento, apenas chegando a seu destino graças ao instinto de seu animal. Esta viagem também marcou Antônio de outra forma: o pai não o deixou voltar a São Carlos e matriculou-o numa escola, de onde só saiu nas vésperas de se tornar professor para voltar à administração de fazendas em Piracicaba mesmo. Nessa ocasião morava com os pais na rua Boamorte e estudava num dos mais conceituados colégios da cidade: o "Sud Menucci".

          Belentina nasceu no Arraial de São Bento a 21 de junho de 1898, filha de José Teixeira da Silva e Carolina da Silva Martins. Embora seu pai desempenhasse um papel semelhante ao dos atuais despachantes, o nascimento de Belentina só foi registrado a 6 de junho de 1915, no Cartório de Capivari (Livro 33, fls 55v).

          Durante a adolescência, Belentina e as irmãs foram bastante protegidas pelo pai que não as deixava (e também à mulher) afastarem-se de casa, limitando sua liberdade ao perímetro domiciliar, incluindo o quintal. Apenas aos domingos, quando os homens não trabalhavam nas lavouras, permitia-lhes passear e brincar na roça. Festa nem é bom falar. A educação dos irmãos era propiciada através de professor particular. As filhas não participavam das aulas. Só depois de casada Belentina, por exemplo, aprendeu a escrever seu nome.

          Como parecia sina da época, no casamento de seu irmão Ataliba Teixeira, no dia 2 de abril de 1918, Belentina conheceu Antônio de Moraes, também convidado para a solenidade. Menos de um ano depois se casaram.

          O namoro era feito às encondidas do pai de Belentina. Maria, irmã de Antônio, a levava a sua casa, onde os namorados podiam conversar. Até que José descobriu a trama e não mais deixou que Belentina saísse de casa.

          Mas a 24 de dezembro de 1918 Antônio e Belentina se casaram no Arraial (Cart. Reg. Civil de Tietê, Livro nº. 10 de Casamentos, fls. 29 e 30).

          O casal viveu no próprio Arraial seus primeiros anos. Antônio estabeleceu-se como comerciante e Belentina cuidava da horta e da casa. No armazém, Antônio vendia açúcar, sal, farinha, bebidas e outros gêneros desta espécie. Estes produtos vinham de carroção de Piracicaba, à força de quatro parelhas de burros e só mais tarde foi substituído por um caminhão.

          Em 1928, vendeu o armazém para plantar algodão na Fazenda Velha, produto esse negociado em Piracicaba antes mesmo do plantio.

          Ele também administrava os negócios de sua sogra. Isso ajudava a manter em relativa calma o relacionamento entre ambos. Por isso, apesar de brigarem constantemente, a sogra sempre procurava fazer as pazes, desculpando-se estar nervosa quando da briga. E uma trégua se reestabelecia entre ambos.

          Recebeu em 1934, como herança de Carolina, a quinta parte dos créditos devidos por Antônio Ferraz da Silveira (217$600) e Paschoal Guerini (629$900), 6.913$336 dos demais herdeiros, um lote de 20 alqueires no Arraial de São Bento, um crédito do Paschoal Guerini no valor de 29.771$665 e outros créditos que somaram 379$700.

          Após a morte da sogra, foi para Piracicaba e comprou chácara no bairro Campestre. Nesta ocasião ocorreu um episódio que deixa bastante à mostra o gênio de Antônio: a horta que mantinha no quintal de sua casa era constantemente invadida por porcos de propriedade de vizinhos (alguns italianos e seus filhos). Dizem até que os próprios vizinhos abriam rombos na cerca de forma a facilitar a invasão, contado alimentar os seus suínos sem despesas. Inúmeras vezes Antônio reclamou disto àqueles confrontantes até que, num dia não muito humorado, Antônio se dirigiu à polícia local e explicou o caso, sendo autorizado a tomar as providências que realmente tomou. Esperou que todos os porcos entrassem na horta e a tiros os abateu mandando depois avisar os vizinhos e convidando-os para irem buscar seus animais. Furiosos os donos dos suínos juraram vingança, anunciando nos botecos que iriam matar Antônio. Este se limitou a responder mostrando a espingarda. "podem me procurar; estou em casa". Afortunadamente os ânimos serenaram-se depressa e as dissenções findaram por aí.

          Depois disto, Antônio foi dono de armazém no Mercado Municipal de Piracicaba e locador de casas de sobrado também nessa cidade. Anos mais tarde, foi administrador do Cemitério Municipal.

          Mudaram-se para Bandeirantes (PR), para onde ele foi especialmente como administrador de fazenda do Dr. Pacheco Chaves, por indicação de Benedito de Moraes. Só três anos depois, em 1944, voltou ao Estado de São Paulo, empregando-se como porteiro da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba. Em 1953 voltou a Piracicaba e adquiriu açougue na Paulista (bairro assim denominado pois aí há uma estação que foi da antiga linha ferroviária desse nome). Nessa ocasião, Belentina descobriu que o marido tinha uma filha natural nascida por volta de 1933. Por fim vendeu o açougue e arrumou emprego de porteiro da fábrica de massas "Júpiter", da qual se aposentou para cuidar da catarata.

          Morava, nesta ocasião na Rua São José. Após isto, em 1958, foi para a Rua Bom Jesus; mudando-se para a casa que o genro Romeu havia comprado na Paulista no ano seguinte.

          Certa tarde de domingo escutava pelo rádio o jogo do XV de Novembro, time de futebol da cidade, pela Divisão Especial do Campeonato Paulista. Findo o primeiro tempo do jogo, sentiu-se mal e foi deitar-se. Poucos minutos depois sofreu um derrame que o privou da fala, da visão e paralisou todo o seu lado esquerdo.

          Neste estado viveu cerca de sete anos e para tudo necessitava do auxílio da mulher. Até sua higiene exigia que Belentina, sempre miúda, levantasse todo o peso do marido. Como consequência Belentina foi atacada por uma doença nos nervos que as mãos já não mais paravam de tremer. Por fim, às dez horas da noite do dia 29 de agosto de 1966, a morte vem libertar Antônio de seu pesadelo. Morreu na casa de seu genro Luiz Gonzaga. Seu corpo foi levado para o cemitério no qual por anos ele foi administrador.

          Belentina ficou na mesma casa, em companhia da filha, genro e netos, conformada com sua doença e sem dela reclamar. Em meados de 1978 morre o genro Luiz Gonzaga. Apesar de não ser religiosa praticante, Belentina acreditava nos ensinamentos cristãos; tanto que contou ter visto o espírito do genro -- de quem tanto gostava -- passar pelo corredor da casa cobrando missa por sua alma.

          Belentina adoeceu mais seriamente para morrer às nove horas e vinte e cinco minutos do dia 9 de setembro de 1978, sendo sepultada ao lado dos pais no Cemitério Municipal de Piracicaba.