Crônica das Origens da Família

Biografias


20.José Antônio Teixeira

21. Etelvina da Silva Pena

            José Antônio Teixeira nasceu em Viana do Minho, Portugal, no dia 29 de março de 1856, filho de Albano José Teixeira e Isabel Maria Teixeira.

            Etelvina da Silva Pena, nasceu em Itaocara, onde foi batizada, conforme se vê na certidão que transcrevemos:

"Aos vinte e dois de Agosto de mil oito centos e secenta e oito nesta freguesia, baptisei e pus santos oleos a inocente Itelvina, nascida a oito meses, filha legítima de Miguel Teyxeira Pena e Dona Nizia Prudencia da Silva: forão padrinhos Delfino Teixeira Pena e Dona Josuina Baldoina da Veiga Pena. E para constar fis este assento que assigno".
O Vigrº Jose Joaqm Pera Carvº"


            José Antônio veio de sua terra natal em 1865 mais ou menos, quando contava nove anos de idade, com o pai. Não se sabe se nesta ocasião sua mãe ainda vivia.
            Em Itaocara conheceu Etelvina, moça muito bonita e filha de família de posses do lugar. Com ela se casou no dia 12 de junho do ano de 1884, como se vê em certidão constante do livro de casamentos da Matriz de São José de Leonissa:

"Aos doze de Junho de mil oito centos e oitenta e quatro, nesta freguesia depois de feitas as admoestações canonicas e sem impedimento algum em minha presença e das testemunhas abaixo asignadaz, por palavra do presente na forma do Sagr. Conc. Trid. e Const. do Bispado pelas duas horas da tarde se receberão em matrimonio Jose Antônio Teixeira, filho legitimo de Albano José Teixeira e Isabel Maria nascido e baptisado em Portugal, no Bispado de Braga; com Etelvina da Silva Penna, filha legitima de Miguel Teixeira Penna e Nisia Prudencia Penna natural desta freguesia onde são moradores. Para constar assigno este.
O Vigrº Jose Joaqm Pera Carvº

            Etelvina passou a assinar-se PENA TEIXEIRA.coronel Teixeira

            O casal passou a residir no lugar denominado Batatal. Lá, depois chamado Coronel Teixeira em sua homenagem, vivia do comércio, quer no empório de secos e molhados ao lado de sua casa, quer levando mercadorias aos sítios das redondezas. Geralmente ía a cavalo a essas fazendas, levando artigos e amostras e coletando as propostas de compra de suas mercadorias.

            Quando a estrada de ferro Leopoldina criou a estação de Batatal, José Antônio foi seu primeiro agente. A par disto, cuidava de sua produção de cana-de-açúcar nas terras que a ele couberam como herança dos pais da mulher.

            Em fins da década de 80 seu lar rompeu-se. É difícil precisar como começou o período crítico do casal. Uma primeira versão diz que José Antônio teria se apaixonado por uma moçoila que viera de São Sebastião do Alto para fazer seu enxoval na casa de Etelvina. Vendo o namorisco entre Leopoldina e seu marido, Etelvina teria abandonado a casa, mesmo com a desaprovação de sua irmã Prudência. Uma segunda versão garante que José Antônio, em suas andanças pelas fazendas das vizinhanças para comerciar seus artigos, conheceu uma moça de nome Leopoldina, filha de um tal de Leôncio (fazendeiro ou capataz) e Perciliana de Castro, mulatos ambos.

            Chegando aos ouvidos de Etelvina que o marido estaria flertando com Leopoldina, largou o lar, levando consigo o caçula Albano, com meses de idade.

            Uma última corrente assegura que Etelvina teria fugido de casa com o agente da estação de Batatal para Boasorte. Desgostoso, José Antônio fez ver a Leôncio que a filha estaria melhor em companhia dele, José Antônio. É difícil dizer o que realmente teria acontecido apenas pela análise documental, eis que José Antônio teve com Leopoldina seu primeiro filho em fevereiro do ano de 1891, como consta da certidão que transcrevemos, e Etelvina teve uma menina de nome Etelvira em junho do mesmo ano, como se vê na certidão abaixo. Contudo, as datas parecem indicativas da primeira ou segunda versão.

"Certifico que revendo neste meo Cartorio o terceiro livro de registro de Nascimentos no mesmo afolhas Cento e Cessenta e cinco e verso achou-se o assentamento cujo theor abaixo segue: 'Numero dusentos e cincoenta e trez' Aos quatro dias do mez de Junho de mil oitocentos e noventa e um, neste primeiro districto de Paz, Cidade de S. Fidelis, Estado do Rio de Janeiro compareceo em meo Cartorio Secundo Pinheiro e em prezença das testemunhas abaixo assignadas declarou: Que no dia dois do Corrente, a meia noite, nesta Cidade, nasceo uma criança do sexo feminino, de nome 'Etelvira' filha natural delle declarante Secundo Pinheiro, natural de Macahé e de Etelvina Penna, natural de S. José de Leonissa, ambos residentes nesta freguesia, sendo avos paternos da mesma criança Anastacio Pinheiro e Antonia Pinheiro e materno Miguel Penna e Nizia Penna, do que para constar lavrei este termo que commigo assignão o declarante e as testemunhas José Manoel de Senna Pires e José Cupertino de Castro, residentes nesta freguesia. Eu José Agostinho Nogueira da Rocha Escrivão que o subscrevo e assigno.
José Agostinho Nogueira da Rocha, José Manuel de Senna Pires,
(a) José Cupertino de Castro".

 

           

 

 

 

 

 

 

          E o registro de batismo informa-nos de que:

"Aos treze de Novembro de mil oito centos e noventa e dois, na Matris de São Fidelis baptisei solemnemente e pus os Santos Oleos a innocente Itelvira, nascida a desoito mezes, filha natural digo filha adulterina de Etelvina da Silva Teixeira; forão padrinhos Jose Cupertino de Castro e Elvira Candida de Barros, e para constar fis este assento.
O Vigrº Encomdo. Luiz Theodoro Soares"

            Os fatos expostos parecem desmentir a versão de que que Etelvina, doente dos pulmões, tenha ido morar com a irmã Francisca na Colônia, perto de São Fidélis. E não achamos na Colônia a certidão de óbito de Etelvina.

            José Antônio chamou a sua casa Leopoldina de Castro, como já vimos. A certidão de casamento de Otávio, filho do casal insinua que José Antônio e Leopoldina eram casados no civil, ao dizer que Octavio era filho "civilmente legitimo de José Antônio Teixeira e Leopoldina de Castro". Mas isto não pôde ser confirmado pelos filhos e netos do casal.

            A 15 de dezembro de 1897 falecia Etelvina. Dizia seu filho Alberto Antônio que ela foi sepultada na Colônia, de onde surgiu a versão de que ela residia naquele bairro. Afirmava esse seu filho que já dormira sobre a sepultura da mãe. Não conseguimos, contudo, identificar esta tumba dentre as que lá existem.

            José Antônio, que até 12 de abril do ano seguinte não houvera providenciado inventário, recebeu intimação do juiz de paz para fazê-lo sob pena de perder a herança. Herança que compreendia cinco alqueires de terras em capoeiras e matos, casas, forno para cozer telhas e alguns animais.

década de 1910            Ele se naturalizou brasileiro, tendo ascendido em Itaocara ao posto civil de Tenente-Coronel. Além de canavicultor, tendo construído engenho de aguardente com o rótulo de "Teixeirinha", montou uma fábrica de cerâmica a partir dos fornos herdados da mulher. Em Cantagalo fêz construir uma fábrica de chapéus "palheta" no andar térreo do sobrado onde residia.

            Em Batatal, bairro de Itaocara, além do engenho e da fábrica de cerâmica, foi proprietário de vasta área de terras para cultura. Comprou as fazendas Sereno, Namorado e Cachoeira Alegre, esta logo vendida ao sogro de seu filho Luís.

            Em Cantagalo vendeu uma casa a Avelino Antônio Martins em 1900. Neste negócio teve um grande desgosto, pois foi acusado através de carta, de velhaco e mercenário. Avelino Antônio a considerava superavaliada. Entristecido, José Antônio simplesmente absorveu a acusação.

            José Antônio iniciou-se na Maçonaria no dia 12 de novembro de 1898, como vê num certificado que ficou na posse de sua neta Maria Lúcia Teixeira, em Itaocara. Apesar disso -- e se sabe da proibição que pesava sobre os católicos de então de filiarem-se à maçonaria --, sempre foi convidado para padrinho das cerimônias de Lavapés da Quinta-feira Santa, o que mostra a benevolência com que a Igreja tratava seus poderosos e ricos fiéis.

            Um prazer a que o coronel sempre se entregou foi viajar. Inúmeras vezes foi à Europa, lá se demorando por meses a fio. Como as fotos que de lá chegavam sempre o mostravam acompanhado por belas mulheres, criou-se a idéia de que ele mantinha um outro lar. Houve quem dissesse que a própria Etelvina lá vivia, tendo sido forjada sua morte. Alegam os defensores dessa idéia que José Antônio jamais se casou com Leopoldina, o que poderia regularizar a situação dela e dos filhos. Mas essa hipótese fantasiosa não resiste a um primeiro exame, eis que, legalmente, José Antônio era viúvo e, como tal poderia casar-se.

            Em 1920, por exemplo, esteve em Portugal e lá visitou Braga, Guimarães, Fafe, Vila do Conde, Porto, Lisboa e outros locais. Depois disso esteve ainda por três outras vezes na Europa, viajando nos navios "Aurigny", "Auvigny" e "Asie", respectivamente.

            Sempre atencioso com os netos, jamais negava alguma palavra de estímulo a eles. A Jair, certa ocasião, enviou cumprimentos por estar aprendendo a escrever. Talvez soubesse não ter sido o neto a escrever-lhe um bilhete que recebera. Contudo, não negou seu estímulo, o que encheu Jair de orgulho por ter sido elogiado pelo avô.

            Um outro prazer do qual não abria mão era o de bem comer. Seu desjejum consistia de pão-de-ló e um copo de vinho português. Não admitia mesa que não fosse farta.

            Sentindo-se doente chamou um médico, que diagnosticou um crescente estreitamento da laringe. Disse ao coronel que, operado, ele poderia viver ainda por muitos anos, porém teria de submeter-se a dieta alimentar. José Antônio preferiu continuar com o prazer das refeições, reafirmando que de nada valia continuar vivo se não podia comer bem.

            Tempos depois, arrastando sua doença, estava em Batatal quando seu estado agravou-se. Fraco por não se alimentar convenientemente, posto que apenas podia ingerir líquidos, repousava na cama quando chamou os filhos e decidiu ir para Cantagalo. Antes, contudo, ordenou que o levassem a uma janela na cozinha da qual se divisava o rio Paraíba. Os filhos perguntaram porque ele queria ser levado até lá, a que José Antônio nada respondeu. Só na cozinha, amparado pelos filhos, ele disse que desejava ver pela última vez o rio, pois sentia que não mais teria oportunidade de fazê-lo.

década de 1920            De fato, levado a Cantagalo, José Antônio faleceu na rua Benjamim Constant, nº 11 (atual rua Chapot Prevot), às quatro e meia da tarde do dia 2 de dezembro de 1924. "Causa mortis": inanição estanose do esôfago.

            Seu corpo foi levado para Itaocara em trem especial da Leopoldina. Quando seu filho Alberto foi pagar pelo transporte, o representante da linha ferroviária se recusou a receber o dinheiro, alegando ser aquela a última homenagem da Leopoldina a seu primeiro agente no local.

            De Itaocara o cortejo partiu para Batatal, acompanhado pela banda "Amizade", lá sendo sepultado em mausoléu na parte mais alta do cemitério, que está postado na encosta de uma colina próxima.

            Leopoldina continuou residindo em Batatal, onde faleceu às 13 horas do dia 20 de dezembro de 1954, com 92 anos.

            Em homenagem à memória deste homem, foi decidido pela família reunir-se anualmente. A 11 de outubro de 1981 se deu o I Encontro Nacional da Clã dos Teixeiras do Batatal.

            Almirante (pseudônimo de Renato Teixeira, neto do coronel) publicou um caso que lhe foi narrado por Manuel Ribeiro Gonçalves. Diz-se que o fato teria ocorrido em 1926, mas deve haver erro, pois o coronel morreu em 1924, como vimos. Diz o artigo, denominado "Juca e Rosita".

"            Na casa comercial do coronel Teixeira trabalhavam, além de Manoel, seus filhos e um rapaz de nome Juca, que o coronel tinha criado.
            Juca e Rosita, filha do coronel, cresceram juntos e na adolescência apaixonaram-se. Logo que o pai da moça descobriu o romance, tratou de impedir sua continuação e começou a tratar o Juca com muita frieza, proibindo Rosita de encontrar-se com ele. Ao contrário do que o coronel esperava, a paixão dos dois namorados aumentou ainda mais.
            Num certo domingo, Rosita estava sentada ao pé de uma árvore quando viu chegar Arlindo, um rapaz conhecido. Este, querendo brincar, apontou a espingarda para a moça dizendo que ia atirar. Desastrado, ao mover a arma, ela atirou e atingiu a moça, ferindo-a gravemente.
            Mesmo sabendo que sua filha ia morrer e negando-se a atender aos pedidos da moça, o coronel recusou-se a deixar o Juca entrar no quarto para despedir-se dela.
            No dia seguinte, movido pelo remorso, os parentes concordaram que o Juca fosse ao enterro.
            O rapaz chegou chorando e depositou em cima do corpo de sua amada um buquê de rosas brancas e um bilhete que dizia "Rosita, você que gosta de mim, venha buscar-me, pois não posso ficar sozinho neste mundo".
            Naquele dia e nos dias seguintes o assunto foi comentado com emoção e espanto, que mais aumentaram quando alguém trouxe a notícia de que o Juca tinha morrido de um colapso às quatro horas, mesma hora do enterro de Rosita".