Crônica das Origens da Família

Biografias


28.Pedro Joaquim de Morais

29. Alexandrina Avelina Morais

          Pedro, que também aparece como Pedro Joaquim da SILVEIRA, nasceu no bairro de Pederneiras, município de Tietê, em 1861, filho de Joaquim Rodrigues de Morais e Ângela Maria Benedita.

          Alexandrina, menos frequentemente chamada de Alexandrina da Silveira Navarro, nasceu também no Arraial em 1868, filha de Antônio de Morais Navarro e Antônia Leite de Almeida.

          Casaram-se em Piracicaba no dia 27 de maio de 1884 (ACDPirac, Livro n° 6, Casam. Piracicaba, fls. 26).

          Pedro Joaquim e Alexandrina Avelina moravam perto do Arraial (município de Tietê), em sítio no bairro de Pederneiras. Para ver como este sítio era afastado da povoação, basta contar que, como medida de proteção, Pedro Joaquim mandou construir paliçada em volta de sua residência para defendê-la das onças. Porém, ainda assim era necessário tomar a espingarda e ir caçá-las de vez em quando. À noite seus rugidos eram ouvidos junto à murada, que amanhecia arranhada por suas garras.

          Ele, além de ter seu próprio sítio, administrava outros. Em 1894 estava em São Carlos do Pinhal, onde nasceu seu filho Antonio. De volta a Piracicaba comprou o sítio que leva seu nome ("Pedrinho de Moraes"), bastante afastado do Arraial, novamente.

          Trabalhou também no comércio. Mudando-se para Piracicaba, na rua Boamorte, comprou animais de carga, em sociedade com seu cunhado Ignacio Silveira Moraes, transportando sal de Santos para Piracicaba. Esse sal era levado através da Serra do Mar em meio ao rugido de onças, jaguatiricas, etc. Para proteger a caravana, havia necessidade de colocar um escravo como batedor à vanguarda e outro à retaguarda da tropa. O sal era carregado em gibões de couro, para resguardá-lo das chuvas e carregado no lombo de burros. Saía de Santos, via Cubatão, subindo pelo Caminho de Santos (hoje Estrada Velha), até alcançar o Planalto de Piratininga, entrando em São Paulo apenas para pouso no Ipiranga. De lá atingia Campinas, Monte Mór (então Água Choca) e Piracicaba.

          Os animais eram tratados na cocheira anexa à casa da rua Boa Morte.

          Anos depois Pedro Joaquim voltou ao sítio. De lá foi administrar fazenda, com seus irmão Salvador, adiante da Capivari. Certa noite, após o jantar, Pedro conversava com o mano em seu quarto e ouviram um inusitado rumor junto à senzala. Enquanto calçava as botas, seu irmão partiu para ver o que se passava lá. Quando Pedro Joaquim aproximou-se, lampião em punho, ficou como que petrificado com o que via: em meio aos fâmulos, seu irmão estava sendo surrado. Salvador tentara apartar uma briga de negros e se viu envolvido por ela. Os cativos amotinados lançaram mão do que havia por perto -- paus, chicotes, enxadas -- e se arremeteram contra Salvador. Tanto deram nele que acabaram por prostá-lo. Pedro Joaquim vendo o irmão caído, e cego de ódio e pavor, armou-se de uma foice próxima e investiu contra os revoltosos. À custa de algumas mortes e feridas profundas, conseguiu afastar a escravaria. Os negros se refugiaram na senzala, mas Salvador já estava morto, banhado em sangue.

          Face ao ocorrido, Pedro Joaquim voltou desgostoso ao Arraial e tomou verdadeiro pavor de escravos, dispensando os que possuía.

          Quando a esposa adoeceu, nos idos de 1920, voltou ao Arraial propriamente dito, deixando o sítio para que suas filhas fizessem companhia à mãe. Mas a 20 de outubro de 1923 Alexandrina morreu na Fazenda Velha. Seu corpo foi levado a Piracicaba e depositado no Cemitério Municipal daquela cidade (Cart. Godoy, Óbitos de Piracicaba, nº 37., reg. nº 3695. E ACDPirac, Livro nº 12, Óbitos de Piracicaba, fls. 83.).

          Viúvo, Pedro Joaquim foi morar com o filho Antônio. Por esses anos Antônio comprou um açougue no Arraial. Pedro cismou de trabalhar nele. De nada adiantaram os argumentos do filho sobre sua idade. Pedro acordava cedo para matar os bois e cortar a carne que depois iria ao açougue. Mas um dia, justamente por acordar cedo e sair sob o sereno da madrugada, Pedro Joaquim pegou um resfriado fortíssimo. Foi o argumento definitivo de Antonio para não permitir ao pai sair de casa de madrugada.

          Não se acostumando com a algazarra que os filhos de Antônio faziam, Pedro Joaquim mudou-se para a casa da filha Maria. Perto dela lavrara um pedaço de terra, mais para entretenimento que por necessidade. Para isto saiu na manhã de 3 de outubro de 1934. Roçou um bom pedaço da terra onde pretendia plantar milho para seu cavalo. Estava lá desde a manhã e, quando a noite ameaçou chegar, ainda não voltara. A família ficou preocupada. Pelas seis horas da tarde Maria, a filha, e outros foram buscá-lo para o jantar. Caído de bruços, a foice à frente, com o mato amassado e a terra arranhada, Pedro Joaquim jazia morto. Talvez tivesse tido um ataque de coração e perdesse o equilíbrio. Tentara levantar-se, mas em vão. No solo que cuidava lançou seu último suspiro.

          Seu corpo foi levado para Tiête, onde recebeu sepultura (ACDPirac, Livro nº 12, Óbitos de Piracicaba, fls. 83).