A documentação brasileira que repousa no Arquivo Nacional-Rio, lamentavelmente não especifica de que vila ou comuna de Vaud terá partido, sem passaporte e sem matrícula oficial a família Friaux. Sabe-se, porém, que alguns dos filhos do casal teriam sido batizados em Lausanne. Eram eles em número de cinco indivíduos, os quais, viajando a bordo do Elisabeth-Marie em 1819, alcançariam as costas do Novo Mundo.
De idioma francês e religião protestante, o armeiro Isaac Auguste Friaux, de 37 anos, sua esposa Eléonore Bertin, bem como os filhos Louis, Félix e Louise, ocupariam em Nova Friburgo por um breve tempo, a casa 3 e o lote 25. O arrendamento na colônia, por dois anos, de uma ferraria, sugere uma tentativa de permanecer o patriarca e sua família na serra, contudo, frustradas as expectativas, logo partiriam eles para a vasta região de Cantagalo. O casal, não obstante, terá ainda uma filha, nascida em Nova Friburgo, em 17 de abril de 1820, denominada Maria Joaquina Friaux, demonstrando haver sua mãe feito parte do percurso já em estado de gravidez.
Durante o curto período em que ocuparia a casa 3, seria esta família assediada pelo chefe Porcelet, no sentido de que abjurasse ao protestantismo, o que finalmente ocorre nos primeiros dias de abril de 1820 (Porcelet. Pierre Louis de– Manuscrito p. 73.).
Estabelecidos como agricultores de café, permanecem os Friaux por vários anos em Cantagalo, mais exatamente na Penna, onde em 12 de julho de 1837 Louise se casará com Henri Christe, filho de Pierre Joseph Christe e Elisabeth Fleury. O ano de 1844 parece não colher a família em condições satisfatórias sob o ponto de vista financeiro, já que em julho hipotecam eles sua chácara, benfeitorias e três escravos a Meyrat e Cia. pelo débito de um conto e cinqüenta e um mil trezentos e setenta réis, quantia não tão expressiva, mas que implicara no empenho dos bens.
Pouco depois desta época surgem novas pistas sobre a família, desta vez com pais e filhos estabelecidos na região de São Fidélis, povoado à época pertencente a Campos dos Goitacazes, situado a cerca de 180 quilômetros ao norte de Nova Friburgo. Lá encontraremos em meados do século XIX, referências a Auguste Friaux e sua mulher Eléonore Bertin, cujo filho, assinalado como Francisco (François - talvez o mesmo Félix com nome composto), casado com Marianne Crelier, provavelmente viúva, deixaria descendentes, com o sobrenome grafado na forma “Fiaux”. Marianne Crelier, por sua vez, era filha de Henri-Joseph Crelier, de Bure, e Gertrudes Royer, imigrantes do Jura chegados ao Brasil também durante o movimento de 1819.
A carência de documentos não permite estabelecer com precisão a prole do casal acima, havendo porém registro de pelo menos uma filha , Eugenia Fiaux, nascida em São Fidélis aos 8 de junho de 1842. Quanto a Louis Friaux, este é também referido, casado que estava com Marie-Madeleine Crelier, irmã de Marianne. Mais prolífico que seu irmão, seria Louis Friaux, ancestral de expressiva descendência a partir dos doze filhos que teria com a mulher.
A história não registra a data de falecimento do patriarca dos Friaux, no entanto sabe-se que Eleonore Bertin, assinalada como ‘Leonarda Breten’, morrerá em São Fidelis, ainda casada, aos 06 de agosto de 1860. Esta cidade do noroeste fluminense deve, pois, ser considerada o núcleo de dispersão da família para outras regiões brasileiras, em finais do XIX e início do XX.
Isaac Auguste Friaux foi casado com Eléonore Bertin. Descendentes:
1.1 Louis Samuel Jacob Friaux, da freguesia de Lausanne, Cantão de Vaud, e casado em Cantagalo em 15 de abril de 1836 com Marie-Madeleine Crelier, nascida a 15 de fevereiro de 1817, filha de Henri-Joseph Crelier e Gertrude Royer. Ela morreria de febre tifóide, em 5 de abril de 1871. O casal residia, na época, em Rio do Colégio arrabaldes de São Fidélis.
O casal teve:
2.1 Maria Carolina, nascida em 5 de abril de 1841 e batizada em São Fidélis em 15 de julho de 1841. Casou-se na mesma vila a 5 de fevereiro de 1863 com Francisco Agostinho Falquet (Farquet) filho de Jean Augustin Farquet e Marguerite Terretaz, estes dois já falecidos em 1841.
2.2 Ângelo Friaux, nascido em 24 de maio de 1843.
2.3 Amélia Friaux, nascido em 1º de abril de 1845.
2.4 José Friaux, nascido em 8 novembro de 1846.
2.5 João, nascido em 27 de janeiro de 1849.
2.6 Luís Friaux, nascido em 11 de janeiro de 1851.
2.7 (outro) João Friaux, batizado. em São Fidélis aos 15 de maio de 1853, com 7 meses de idade.
2.8 Agostinho Friaux, nascido em 2 de novembro de 1854 e falecido de tisica na laringe em 11 de junho de 1885. Era solteiro e negociante de profissão.
2.9 Antônio Friaux, nascido em 27 de setembro de 1856 e falecido de febre tifóide em 10 de setembro de 1894. Era casado com Maria José (...).
2.10 Carlos Friaux, nascido em 2 de dezembro de 1858.
2.11 Francisco Friaux, nascido em Cantagalo aos 5 de junho de 1859 e falecido solteiro às 23 horas do dia 5 de setembro de 1900, vítima de bronquite. Era lavrador de profissão.
2.12 (...) Friaux, nascido em 23 de janeiro de 1861.
1.2 Félix Friaux, provavelmente o mesmo François Friaux casado com Marianne Crelier, irmã da anterior.
Pais de:
2.1 Eugênia Friaux, nascido no dia 8 de junho de 1842.
1.3 Louise Friaux. Assinalada como “Luiza Agostinha Fiaux”, casou-se em Cantagalo em 12 de julho de 1837 com Henri Christe, filho de Pierre Joseph Christe e Elisabeth Fleury. Deixaram os filhos mostrados no tit. CHRISTIE.
1.4 Maria Joaquina Friaux, nascida em Nova Friburgo aos 17 de abril de 1820. Casou-se aos 26 de setembro de 1842 em Cantagalo, com Luís José Gonçalves, filho de José Gonçalves Neves e Lauriana Maria do Bonsucesso.
Dados complementares:
O sobrenome era também utilizado na forma “Fiaux” em seu
cantão de origem, o que acabou prevalecendo no Brasil. Auguste Friaux
não deve ser confundido com o francês Claude Friaux, aqui chegado
a bordo do Debby Elisa, mas sem qualquer vínculo com a migração.
Tinha ele 41 anos e seguiria para Nova Friburgo e depois Cantagalo, vila na
qual estabelece um hotel em cujo prédio hoje funciona a Câmara
de Vereadores. Os dados sobre a família, relacionados à São
Fidélis-RJ, nos foram gentilmente cedidos pelo genealogista Marco Polo
Teixeira Dutra Phenee Silva.
Este texto é uma versão revista e ampliada do tópico sobre a familia Crelier, publicado inicialmente no livro "Imigrantes", Henrique Bon, Ed. Imagem Virtual, 2004. O livro pode ser adquirido diretamente do autor, através do contato acima.
Retornar para as Famílias serranas de origem estrangeira