O suíço Simon Antoine Mettraux, que chegaria ao Brasil em 1819 a bordo do Daphne, pertencia a uma antiga família do Cantão de Fribourg, cujas origens remontariam ao século XIII. Inicialmente denominada Godion, em torno do ano de 1400 assumiriam seus membros as formas, Mestral, Mestraul, Métral e posteriormente Mettraux, em alusão a alguma função exercida por um de seus representantes (Archives d' État de Fribourg).
Posteriormente um ramo da família, liderado por Jean Mestraul, que participara da guerra da Suabia, sendo agraciado por Carlos V com um brasão e o senhorio de Vuissens, altera uma vez mais o nome, adotando o correspondente germânico D’Amann, com o qual seus descendentes passariam a ser conhecidos. Simon Antoine Mettraux, no entanto, pertencia ao ramo “francês” da família.
Nascido em Fribourg, aos 20 de fevereiro de 1798 de uma prole de sete indivíduos, de religião católica, sexto filho do comerciante Jean Mettraux e de sua esposa Catherine Monnerat (Catherine pertencia ao ramo desta família estabelecido em Fribourg. Os Monnerat que chegam ao Brasil em 1819, eram naturais do Jura). Ainda solteiro e se expressando fluentemente em francês e alemão viajaria ele para o Brasil na condição de primeiro professor da colônia, cabendo a Bonaventure Bardy, que efetivamente exerceria a função, o segundo posto, conforme o Registro dos Colonos Suíços existente no Arquivo Nacional. As motivações que o fariam abandonar o país de origem permanecem algo obscuras, já que nem condições sociais adversas, tampouco graves dificuldades de ordem econômica pareciam fazer parte do rol de suas preocupações.
Traçar um perfil aproximado de alguém que terá vivido no século XIX, com dados o bastante para resgatar do anonimato um cidadão comum, não será, certamente, tarefa das mais simples. Um episódio, contudo, citado por Martin Nicoulin em “La Genèse de Nova Friburgo” baseado em apontamentos do abade Dey, contemporâneo da migração, permite-nos uma aproximação do estado de humor que se apossava do jovem que mal saíra dos 21 anos e já empreenderia uma jornada sem volta, em 4 de julho de 1819. Segundo o relato, no momento exato em que os colonos, com suas famílias e pertences, abandonavam o porto de Estavayer-le-Lac, ante um cais abarrotado, rumo a Holanda, o “professor Mettraux” nadava despreocupadamente entre os barcos (Nicoulin, Martin – A Gênese de Nova Friburgo, pg. 135).
Nada sabemos sobre Simon até a costa batava, bem como até o seu embarque no Daphne em 11 de setembro de 1819, navio hamburguês que o traria, juntamente com outros 197 colonos, para o Novo Mundo. No entanto, portava o mesmo passaporte, não ficando este retido com Nicolas Sebastien Gachet, artifício utilizado pelo inescrupuloso organizador da colônia para assegurar dos menos aquinhoados o pagamento de taxas indevidas.
Recebera Mettraux na Suíça o número de matricula oficial 587, número pessoal 636 e já na Holanda o número de embarque 176. Uma vez no Brasil viria a ocupar a casa 8, sendo agraciado com o lote 41, juntamente com os Moser, Rime, Thorin, Lambelet e Fauchez. Como se sabe, o acampamento por tempo excessivo em uma região insalubre próxima a Dordrecht, as condições higiênicas insatisfatórias, motivadas pelas circunstancias, a precária qualidade de víveres fornecidos pelos organizadores do evento, viriam adoecer em grande parte um grupo que durante todo o trajeto pelo Reno mantivera-se saudável em sua maioria. O confinamento em pequenos espaços a bordo dos navios faria o resto e no caso específico do Daphne, 31 imigrantes desapareceriam sobre o mar. Mettraux no entanto, sobreviveria sem seqüelas aparentes a esta prova, chegando ao Rio de Janeiro em 4 de novembro de 1819, integrando o primeiro contingente a pisar em solo brasileiro, já que as outras seis embarcações se mostrariam por demais morosas.
Uma vez em Nova Friburgo, Simon passaria a destacar-se como um dos líderes dentro da colônia, ocupando a vereança municipal em torno de 1821. No entanto, ele, que jamais exerceria a função de professor no Brasil, abandonaria precocemente as glebas coloniais e já em 1824 vamos encontrá-lo na Pena, uma sesmaria pertencente a câmara de Cantagalo e hoje incorporada ao município de Cordeiro.
Desconhecemos a velocidade com que este imigrante amealhou seu patrimônio, contudo, sua propriedade na Penna, vizinha a de Henri-Joseph Crelier e Jacques Vuichard, contava em 1837, com 14.000 pés de café, sobrado, engenho de pilões e sete escravos, estando, porém, hipotecada a Froelisch & Cia por conta de uma dívida de aproximadamente dois contos e trezentos mil réis, também a Meyrat & Cia, em função de débito de um conto e quinhentos mil réis e ainda a François Brassier, devido a um conto de réis de empréstimo (Cartório do 1o Ofício de Cantagalo. Livro 5).
Desconhecemos também o desenrolar dos débitos, contudo, manteria Mettraux as suas terras. Sobre estas, um registro efetuado 25 de fevereiro de 1856, fornece-nos mais alguns dados preciosos, permitindo saber que Mettraux adquirira parte das mesmas do genebrino Antoine Louis Chevrand, bem como outro tanto do igualmente colono Jacques Vuichard. Estavam os dois sítios “de terras unidas” estimados em 40 alqueires, fazendo limites com o dinamarquês Edouard Cathermoll, o também suíço Henri Bon, bem como Manoel Joaquim de Macedo e Antônio de Faria Salgado.
Em relação as terras adquiridas de Jacques Vuichard, terá sido este um negócio entre sogro e genro, uma vez que em 1827 casara-se Simon com Marie Françoise Vuichard, nascida em Semsales a 20 de junho de 1803, filha daquele e de Marie Esseiva. O matrimônio renderia a ambos sete filhos, todos curiosamente registrados com o sobrenome paterno ostentando discreta corruptela.
Simon Antoine permaneceu todo o restante de sua existência em Cantagalo, como cafeicultor, vindo a falecer em 22 de julho de 1878, lhe atribuindo o livro de óbitos da igreja matriz de Cantagalo a idade de 86 anos. Sua esposa Marie Françoise o seguiria um ano após, mais precisamente em 18 de junho de 1879, aos 76 anos.
Simon Antoine deixaria no Brasil vastíssima descendência,
significativamente maiores em linha feminina, e por isso em sua quase totalidade
assinando outros nomes de família, adquiridos por matrimônio. Os
poucos remanescentes que conservam o sobrenome estão hoje radicados no
Rio de Janeiro e Florianópolis, não havendo em Cantagalo ou Nova
Friburgo, qualquer representante em linha masculina da família, ainda
que se possa contar às centenas, principalmente no primeiro município
citado, os indivíduos em cujas veias corre o sangue do pioneiro, entre
os quais se encontra o autor deste livro.
Jean Baptiste Mettraux (Vonderweid alias Mettraux), de Neyruz,
nasceu em 20 de abril de 1760 e foi batizado em Prez verz Noréaz aos
20 de abril de 1760, filho ilegítimo do patrício friburguês
Jean Mettraux, de Neyruz, com Catherine Vionney, du Cret, legitimado em 12 de
janeiro de 1787.
Comerciante de profissão, casou-se em 2 de outubro de 1786 com Catherine
Monnerat. Sete filhos, dos quais o sexto, assinalado abaixo, migraram rumo ao
Brasil, permanecendo os demais na Suíça (Archives d' État
de Fribourg).
Ele morreu em Fribourgos em 19 de fevereiro de 1839.
O casal teve:
1.1 Simon Antoine Mettraux, nascido em 20 de fevereiro de 1798, imigrante do Daphne e casado em Cantagalo com Françoise Vuichard, filha de Jacques Vuichard e Marie Esseiva.
Filhos:
2.1 Luís Mettrau, nascido em 1828 e casado com Luísa Hartmann Lemgruber, nascida em 1849, filha de Marcos Lemgruber e Joaquina Cândida de Jesus.
Figura de destaque na política e no comercio cantagalenses, que nas eleições primarias de janeiro de 1861 obteria 422 votos (15º mais votado), foi sócio a partir de janeiro de 1858, do suíço Louis Assinare em uma casa de pasto (pensão) e hotel situado à rua Direita, negócio que adquire em sua totalidade em 1864. Posteriormente com um dos irmãos fundaria as empresas Mettrau Irmão e Cia. e Luís Mettrau e Cia., dedicadas entre outras atividades, à comercialização do café. Transferindo-se para a côrte, se manteve no ramo dos negócios, fundando com auxilio do sogro Marcos Lemgruber e tendo como sócios José Batista Lemgruber e seu irmão Augusto Luís Mettrau a firma de comissões de café Lemgruber, Mettrau e Cia.
Ele faleceu em 9 de fevereiro de 1878, aos 50 anos de idade.
Tiveram:
3.1 Luís Lemgruber Mettraux, nascido em 5 de março de 1869, casado com Alice Bretas Bhering.
Engenheiro civil pela Escola Minas de Ouro Preto, radicou-se em São Sebastião do Alto, onde se elegeria em várias ocasiões vereador. Dedicou-se posteriormente a projetos de construções de estradas em Minas Gerais.
Ele faleceu em 1960, no Rio de Janeiro, sem deixar descendentes.
2.2 Frederico Antônio Luís Mettrau, nascido em 1833 e falecido a 6 de agosto de 1875 aos 43 anos, solteiro. Era fazendeiro no distrito de Santa Rita do Rio Negro. Não deixou descendência conhecida.
2.3 Maria Carolina Mettrau, nascida em 24 de julho de 1839 em Cantagalo (distrito do Pena) e batizada em 29 de abril de 1840. Casou-se com Geronimo Gavino, italiano.
Pais de:
3.1 Marcos Mettrau Gavino, nascido em cerca 1860 e falecido solteiro.
3.2 Luísa Mettrau Gavino, nascida em 29 de setembro de 1869.
2.4 Maria Luísa Mettrau, casada com Alexandre Maria Crelier, filho de Henri-Joseph Crelier e Gertrudes Royer. Com os desdendentes mostrados no tit. CRELIER.
2.5 Maria Elisa Francisca Mettrau, casada com Ângelo Maria Crelier, filho de Henri-Joseph Crelier e Gertrudes Royer. Sua descendência vai igualmente listada no tit. CRELIER.
2.6 Maria Virgínia Mettrau, casada com Jorge Bon, filho de Henri Bon e Anne Marie Bussinger. Uma vez precocemente viúva, casa-se ela com o belga Jean-Joseph Gustave Decnop, filho de Pierre Decnop e Marie-Catherine Wulters.
As duas primeiras filhas de Maria Virginia Mettraux cresceriam na companhia do padrasto Decnop, razão pela qual alguns erroneamente as tomam como pertencentes também a esta família de origem belga.
O primeiro casamento produziu:
3.1 Maria Georgina Bon, casada com José Francisco Cosendey. Com a prole descrita no tit. COSENDEY.
3.2 Maria Amélia Bon , casada com Elói Perisset, francês (esta família Perissé francesa não deve ser confundida com a de origem suíça chegada em 1819 a Nova Friburgo).
3.3 Augusto Decnop.
3.4 Florimundo Decnop.
2.7 Augusto Luís Mettrau, nascido em 1845 e casado com Elisa Machado Dumans, filha de Carlos Dumans e Clara Machado.
Eles geraram:
3.1 Aristides Dumans Mettrau, nascido em cerca 1878 em Santa Rita do Rio Negro e casado em 8 de dezembro de 1904 em Nova Friburgo com sua prima Joventina Dumans Machado, de 19 anos de idade, filha dos falecidos Augusto José Machado e Maria Dumans.
O casal teve:
4.1 Maria Elisa Machado Mettrau, nascida em 18 de dezembro de 1909 em Nova Friburgo e falecida no dia 30 do mesmo mês.
4.2 Antônio Augusto Machado Mettrau, casado com Nancy Caire.
Pais de:
5.1 Evandro Caire Mettrau.
4.3 Isa Machado Mettrau, casada com Fernando Torquato de Oliveira.
4.4 Aída Machado Mettrau, casada com (...) Kerr.
4.5 Maria José Machado Mettrau, casada com (...) Carneiro da Cunha.
3.2 Augusta Dumans Mettrau, casada com o advogado Manuel Joaquim de Albuquerque.
Dados complementares:
Na verdade não há, no momento, como se estabelecer documentalmente a ascendência do patrício Jean Mettraux, avô do imigrante, já que em torno de 1750, vários homônimos, participavam do patriciado friburguês. De qualquer forma, subsistem nos Arquivos Cantonais de Fribourg, dados sobre a família, suficientes para se estabelecer uma linha desde o primeiro que adotou o sobrenome até o século XVIII.
Johannod Godyon, de Neyruz, falecido antes de 1374, foi pai de:
1.1 Johannod Godyon, posteriormente Jean Mettraux, dito Godillon ou Godion, de Neyruz e Matran, recebido na burguesia de Fribourg em 1374. Faleceu antes de 1394.
Pai de três filhos, entre os quais, o terceiro, segue:
2.3 Pierre Mettraux, de Mattran. Fribourg (1409) e Neyruz. Pai, ao menos de dois filhos, dos quais, o segundo segue:
3.2 Pierre Mettraux, de Fribourg e Neyruz, citado em 1485. Pai, ao menos, de:
4.1 Jean Mettraux, de Fribourg e Neyruz citado em 1523. Pai de:
5.1 Jean Mettraux, citado em 1580. Pai de:
6.1 Claude Mettraux, citado em 1660. Pai de:
7.1 Jean Mettraux, citado em 1673. Pai de:
8.1 Noé Pierre Mettraux, bat. em Matran em 19 de outubro de 1671 e falecido a 20 de abril de 1702. De Fribourg em 1697 e Neyruz, governador de La Chapelle de Neyruz. Casou-se com Françoise Mettraux. Teve ele pelo menos dois filhos, dos quais o segundo segue:
9.2 Jean-Pierre Mettraux, de Fribourg e Neyruz, nascido em cerca 1700 e falecido cerca 1759. Casado em Mattran aos 28 de julho de 1726 com Marie-Marguerite Zenos, de Zesopelou. Ao menos nove filhos, dos quais dois com nome de Jean-Pierre, possíveis de ser, um ou outro, ancestral do imigrante.
De qualquer forma, indicam as fontes a maior probabilidade de Simon Antoine
Mettraux, ser descendente da linha que provém de Noé Pierre Mettraux
(8.1) e não de outro ramo desconhecido .
Este texto é uma versão revista e ampliada do tópico sobre a familia Bapst, publicado inicialmente no livro "Imigrantes", Henrique Bon, Ed. Imagem Virtual, 2004. O livro pode ser adquirido diretamente do autor, através do contato acima.
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