HISTÓRIA
DA ÁFRICA
Holoceno
Inferior
Introdução
O deserto do Saara há cerca de 40 mil anos atrás era coberto de florestas, resultado das estações chuvosas do período climático conhecido como Kamasiano. Mas, as glaciações norte-européias e alpinas trouxeram um clima seco levou a uma progressiva e constante desertificação do norte da África, a partir do terceiro milênio antes de Cristo.
Durante esse período de desertificação, diversos grupamento humanos habitavam a região do Saara. Na região sub-saariana, densas florestas povoadas de animais perigosos não permitiram ao ser humano ocupar o coração da África e o povoamento foi mais visível nas orlas marinhas.
A gravação de figuras nas pedras (pés, girafas etc.) em cavernas, como a de Apolo XI, na Namímbia, atesta a presença humana no sul e no leste da África entre 27 e 19 mil anos atrás. As figuras humanas podem mostrar personagens mitológicos ou xamãs em transe.
Entre 20 e 8 mil anos antes da Era Cristã, os povos do Continente Negro viviam da caça e da coleta de mamíferos, aves e insetos, da pesca e de apanhar plantas selvagens.
A indústria associada a essa gente ainda era a acheulense. Lâminas e pontas bifaces foliformes foram achadas no centro e no sul da África. No sul e no leste há 14 mil anos atrás estavam presentes também indústrias de micrólitos geométricos. Os artefatos eram encravados em bastões de madeira ou de osso e serviam de armas e de utensílios domésticos. Tais indústrias definiam un período tecnológico conhecido como Idade Antiga da Pedra.
Por volta de 14 mil a.C., os homens contavam entre seus equipamentos de caça com arcos e flechas, além de dominarem a técnica de usarem veneno extraído de ervas do mato para matarem suas presas ou os animais que os ameaçavam.
Os mortos eram sepultados com contas feitas de conchas e ferramentas feitas de pedra, às vezes em jazigos cobertos por pedras pintadas.
A chegada da agropecuária
A pecuária não parece ter sido originalmente um fenômeno africano, mas chegado ao continente vindo do Oriente Médio por volta de 7.000 a.C., data dos ossos mais antigos de animais domésticos, encontrados no deserto ocidental do Egito, então uma área bem mais úmida que é hoje..
A agricultura veio aproximadamente na mesma época e se estabeleceu muito bem nos cursos dos rios, em particular do Nilo, cujas enchentes resultantes do degelo do Kilimanjaro sobre as águas do lago Vitória propiciavam uma fertilização natural das terras marginais. Nessa área foram introduzidas as plantações do trigo e da cevada.
Além da agricultura e da pecuária, a produção de cerâmica também chegou pela mesma via ao norte da África. Junto também a metalurgia veio para o Egito e se espalhou pela costa mediterrânea, mercê das intrincadas redes de comércio nessa bacia.
A bacia do Mediterrâneo
Na bacia do Mediterrâneo, as intensas trocas comerciais com a Europa e Oriente Médio levaram à introdução da agropecuária, da técnica ceramista e da tecnologia do ferro em tempos remotos, por volta de 8.000 a.C.
Também ali se desenvolveu nos milênios II e I a.C. o fenômeno megalítico. Os mais antigos estão na Argélia e Tunísia. Mas no primeiro milênio antes da Era Cristã tal arquitetura também apareceu na Etiópia.
A caverna de Hana Fteah (Líbia) revelou restos de cabras e ovelhas domésticas datadas de 5.000 a.C. O gado vacum só foi introduzido na região mais tarde.
A área do Saara
Entre 100 mil e 40 mil anos atrás, parte do Saara era habitado. A região era bem mais úmida até o III milênio a.C. Os maciços de Tassili e Tibesti (sul da Líbia) e Hoggar (sul da Argélia) já eram habitados por grupos humanos, pois nas proximidades dessas áreas foram encontradas pinturas rupestres representando búfalos, elefantes e girafas.
O atual deserto do Saara tinha um regime de chuvas que permitia a manutenção de grandes oásis verdejantes, para os quais se dirigiu a economia pecuarista há cerca de 10 mil anos atrás.
Embora ainda habitável e apto a receber a economia pecuária, o Saara parece que não era úmido o suficiente para permitir a agricultura. A ampliação da superfície saariana ocorrida a partir de 2.500 a.C., decorrente do fim de um ciclo chuvoso e da consequente desertificação das florestas no Saara, levaram também à extinção das moscas tsé-tsé, letais para o gado, viventes em tais florestas. Desse modo, se pode ampliar a área de exploração pecuária na região. Na região sub-saariana a agricultura só chegou na Era Cristã pela existência de tais moscas nas florestas.
Os povos pecuaristas deixaram três sítios importantes no Saara: os maciços de Tassili e Ahaggar (Argélia) e Tibisti (Líbia).
Os principais centros pecuaristas, eram os maciços de Tassili e Tibesti e Hoggar. Figuras nas cavernas próximas a esses centros exibem manadas de gado e seres humanos negros dançando.
Há pinturas também nas cavernas no entorno de Ouennat, Ennedi, Air, Adrar e Zemmour.
Talvez a umidade não fosse abundante o suficiente para sustentar a agricultura no Saara.
Essa nova base econômica se instalou também no Vale do Nilo, atingindo a Núbia (hoje Sudão). E ali também foi possível a introdução da agricultura do trigo e da cevada. No Sudão foram encontrados traços do uso do sorgo e do painço datados de 4.000 a.C.
Numa e noutra área, junto com a agricultura-pecuária, também chegaram a tecnologia do fabrico de cerâmicas.
O vale do Nilo
No vale do Nilo, a agricultura começou pelo plantio de trigo e cevada, mas por volta de 4.000 a.C., o painço e o sorgo locais já estavam domesticados também no Sudão.
A nova base da economia produziu uma explosão econômica. A regular cheia do Nilo fertilizava as terras e permitia colheitas fartas e a acumulação de riquezas. A sociedade se estratificou e surgiu uma elite que levou à criação de um estado.
Velozmente, as sociedades marginais do Nilo se urbanizaram.
O acúmulo de riquezas permitiu a cobrança de polpudos impostos e o financiamento do Estado para guerras de conquista e para a realização de obras monumentais, como as pirâmides. A escrita se desenvolveu inicialmente para registrar as operações comerciais e a administração pública.
Através do vale de Rift (Grande Fossa Africana, no Quênia e Tanzânia) a pecuária se expandiu e chegou ao meio-leste africano. No Quênia, os primeiros sinais dessa economia datam de 1.500 a.C. Época em que na Etiópia se cultivava a banana e em Uganda e Somália se consumiam o sorgo.
Por volta de 500 a.C., a pecuária chega ao norte da Tanzânia.
A área sub-saariana
Na região ao sul do Saara, as florestas impediram o desenvolvimento de comunidades humanas e, consequentemente, a expansão da agrupecuária e da tecnologia do ferro por muitos séculos.
Só por volta de 2.000 a.C. que a pecuária chegava ao norte da Nigéria, fugindo da seca que assolou a área do Saara. Essa onda chegou ao sul nigeriano em 500 anos (sítio de Ntereso) e ao vale do rio Senegal. Na foz desse rio, foram encontrados túmulos megalíticos datados de 1.500-1.000 a.C.
Mais ou menos nessa época, se desenvolveu ali o uso do inhame, do dendê, do arroz da Nigéria e da ervilha-de-vaca na região de savana-floresta. Na área de savana, passou-se a cultivar o sorgo, a veandzera e o vônio. E nas partes mais áridas, o painço.
Cerca de cinco séculos depois, a pecuária chegava às costas atlânticas entre o Senegal e a Nigéria. Outra frente pecuarista entrou no Chade, possivelmente vindo do Saara, e uma terceira se expandiu do sul do Sudão para o norte de Moçambique.
Foi provavelmente essa gente que produziu as pinturas em pedras encontradas na Zâmbia e oeste de Moçambique, datadas de 1.000 a.C.
A região não conheceu a Idade do Bronze ou a do Cobre. No primeiro milênio antes da Era Cristã, a metalurgia do ferro chegou cruzando o Saara, possivelmente mediada pelos tuaregues do deserto, vinda das colônia cartaginesas do Mediterrâneo.
Pelos anos 600 a.C., já se minerava cobre em Akjouit (ou Adrar). Por volta de 500 a.C., a metalurgia do ferro chegava a Mali. Entre 500 a.C. e 300 a.C., se desenvolvia no norte da Nigéria a Cultura Nok, ceramista.
A introdução da metalurgia impactou a produção agrícola e, a exemplo do que ocorreu no resto do mundo, a geração de excedentes resultou no aumento das trocas comerciais com os ambientes vizinhos, em sociedades mais estruturadas e no surgimento de lideranças ou governantes. Num segundo momento, surgiram organizações urbanas e proto-estados tribais.
Por volta de 500 a.C., começou a diáspora dos pecuaristas da Nigéria, falantes de dialetos bantos, por todo o centro e sul da África. Eles introduziram nessas regiões o uso de instrumentos de ferro, o cultivo de cereais e a fabricação da cerâmica.
A destreza metalúrgica permitiu o desflorestamento mais acelerado, a eliminação das moscas tsé-tsé em vastas áreas, onde o gado pôde ser introduzido.
O urbanismo só chegou à região no fim do primeiro milênio da Era Cristã.
Nos cinturões de savanas ao sul do Saara, por volta do século VIII d.C., comercializava-se ouro, marfim e escravos com os estados árabes do norte do continente. Em troca, deles recebiam sal, cobre e cavalos.
Em Ibgo Ukwu foram achados objetos de bronze e de cobre, dos séculos VIII e XI d.C., e uma rica câmara mortuária de um líder local.
O sul da África
No sul da África seguia o modo de vida baseado na caça e coleta de frutos. Pinturas artísticas em rochas, datadas de 28 mil anos atrás, atestam uma vida confortável na região da Namíbia.
A cerâmica usada pelos kói-kói, povos das franjas dos montes Calaari (Namíbia e noroeste da África do Sul) foram datadas de cerca de 2.000 a.C.
Também no Zimbábue e nas costas da África do Sul há pinturas datadas de 1.000 a.C.
Trazida pelos povos de fala banta da região sub-saariana, a pecuária chegou ao sul do Continente Negro entre 500 e 1.000 d.C. Na região, a pecuária foi um fenômeno introduzido exogenamente e não decorreu da aculturação dos povos aborígenes. A posse de manadas representava mais status social que resultados econômicos.
Os fazendeiros da África Meridional plantavam sorgo, painço, feijões e ervilha-de-vaca.
Produziam artigos de ferro e cerâmica. Esta apresentava estilos típicos de cada grupo linguístico. Um deles era claramente associado aos povos de falares bantos da Nigéria, Camarões e Mali. Outro, facilmente associável aos povos originários do vale de Rift (Quênia e Tanzânia) e de Moçambique.
Nos séculos seguintes, pequenos estados tribais se formaram a partir da acumulação de riquezas decorrentes do comércio, como mostra o sítio de Schroda, do século IX d.C.
Culturas locais passaram a se diferenciar. A Cultura Zimbábue surgiu da exploração de minas. Mapungubwe, a vila capital do povo dessa cultura, ficava a certa distância das minas.
A Cultura de Zimbábue declinou e praticamente se extinguiu antes do século XI, quando a retomada da exportação de ouro e marfim e a importação de cerâmicas, contas de vidro e de tecidos reaqueceu a economia local até que uma grande seca no fim do século XIII acabou definitivamente com a poderosa elite governante, abrindo caminho para as futuras colonizações européias.
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