HISTÓRIA
GERAL
O Surgimento do Homo
Erectus
Introdução
Transcorria o período Pleistoceno Inferior entre 2 milhões e um milhão de anos atrás.
Usualmente o período tecnológico chamado de Paleolítico Inferior correspondia aos períodos cronológicos do Pleistoceno Inferior e Médio. Hoje em dia adota-se nova nomenclatura, definindo-se como Arqueolítico o período correspondente ao Pleistoceno Inferior e reservando o termo Paleolítico apenas para o Pleistoceno Médio.
A revisão tenta ajustar-se a dois fenômenos importantes: a plena afirmação do Homo Erectus e o aparecimento de instrumentos líticos bifaces (isto é, com duas bordas opostas cortantes).
Tal revisão exigiu definição mais apurada dos limites entre o Pleistoceno Inferior e o Médio. Um congresso realizado em 1973 na Nova Zelândia convencionou que o Pleistoceno Médio é o período que vai do ciclo faunístico Cromeriano stricto sensu (interglacial Günz-Mindel) ao início do Eemiano (interglacial Riss-Würm). A adoção destas definições se justifica pela coincidência do Cromeriano com outro limite importante: a inversão do magnetismo terrestre (início do período paleomagnético de Matuyama). E este momento também coincide com o aparecimento de artefatos bifaces na Europa.
Há quem defenda critérios paleontológicos e estabeleça o limite entre Pleistoceno Inferior e Médio na glaciação de Würm, quando ocorreu grande migração de roedores euro-asiáticos e quando chegaram à Europa os mamíferos que formam a base da atual fauna européia, substituindo completamente a antiga fauna vilafranquiana.
O Homo Erectus
O Homo Erectus teve existência em parte do Pleistoceno Inferior e no Pleistoceno Médio.
Ele era mais alto que os H. Habilis e tinha face e dentes menores que ele. Sua taxinomia ainda é motivo de debates. Alguns pré-historiadores abrigam neste gênero todas as formas hominídeas do período entre 1,7 milhões e 120 mil anos atrás, atribuindo as diferenças entre eles a adaptações ao meio-ambiente. Outros reservam o termo apenas para os exemplares da China e Indonésia e entendem que os espécimens africanos desse período pertenceriam a um gênero ainda não determinado. Outra corrente entende que um gênero conhecido como Homo Ergaster teria surgido nesta época.
Parece fora de dúvida de que era uma forma evoluída do H. Habilis, possivelmente com uma capacidade maior de comunicação oral.
Seus fósseis mais antigos estão na África, onde foram encontrados restos atribuídos a ele na Etiópia, Quênia e Tanzânia, além de um exemplar mais recente, o Atlanthropus Mauritanicus, no norte do continente.
Os sinais mais antigos do Homem na região asiática são datados de 1,8 milhões de anos (Hsihoutu, província de Shangxi, na China) e de 1,7 milhões de anos (Yuanmou, província Yuan, também na China). Sítios do H. Erectus, datados de 1,8 milhões de anos, foram achados em Java (Indonésia), enquanto outros, de 1,7 milhões de anos, foram localizados em Dmantsi (Geórgia). Um sítio em Longuppo (China) dá sinais de ser também deles.
Tais sítios mostram que o H. Erectus se expandiu rapidamente pela Ásia atrás da caça de mamíferos ou que surgiu autoctonamente na África e fora dela.
Se houvesse uma sequência espacial com datação cronologicamente crescente, estaríamos autorizados a concluir que o H. Erectus teria emigrado a partir do Continente Negro. Com os dados disponíveis, contudo, temos de manter aberta a hipótese de evoluções locais tardias das espécies asiáticas.
Alguns esqueletos javaneses foram inicialmente classificados como pitecântropos ou magântropos. Seriam evoluções regionais, entre fins do Pleistoceno Inferior (c. 1,2 milhões de anos) e inícios do Pleistoceno Superior (100 mil anos atrás), de espécies oriundas da África muito antes do desenvolvimento do Homo Erectus.
Na área de Sangiran (Java), os restos ditos megântropos foram associados a australopitecos, enquanto os dos pitecantropos da formação de Pucan (correspondente ao horizonte de Djétis, do Pleistoceno Inferior) foram associados aos H. Habilis. Os pesquisadores reconheceram, também, que os pitecântropos de Modjokerto (enterrados nas formações de Kabush e Notopuro, associados ao horizonde de Trinil, do Pleistoceno Médio) e os pitecântropos de Solo (recuperados ma localidade de Ngandong, datados de fins do Pleistoceno Médio e início do Pleistoceno Superior) estão relacionados com o H. Erectus.
Não há fósseis indicando que teriam chegado à Europa antes de 800 mil a.C., decerto porque os caminhos para ela e para as estepes russas estava fechada pelas neves que cobriam as montanhas da Turquia. Também não conseguiram transpor o estreito de Gibraltar antes disso.
Seguindo a tradição onívora do H. Habilis, o H. Erectus desenvolveu uma incipiente economia de caça e coleta. Matava pequenos animais, roedores e macacos jovens, para alimentar grupo. Certamente ainda aproveitava carniças de animais maiores, como rinocerontes, bovídeos, cervídeos, cavalos e avestruzes. Os sítios mais antigos mostram pouca variação do cardápio. Alguns poucos sítios à beira-mar trazem à luz um consumo limitado de moluscos. Outros poucos mostram alguns sinais de consumo de frutos silvestres.
Com o tempo, talvez com o crescimento dos bandos, passaram a perseguir animais maiores. Para tanto, desenvolveram um arsenal mais elaborado de artefatos de pedra e talvez de ossos e madeiras (que não chegaram aos nossos tempos).
A arma de caça era por excelência a lança com ponteira feita de madeira ou presa de elefante. Servia para abater cavalos, cabras, uros, veados etc. Os caçadores atacavam preferencialmente os animais jovens, mais fáceis de isolar do grupo e que tinham carne mais tenra.
No curso do Paleolítico Inferior, o consumo das carnes do tronco dos animais caçados foi substituído pelo consumo das carnes e músculos das patas em várias comunidades. Há sítios em que se observa a perfuração do crânio de animais para a extração de seus cérebros. A caça em grupo mostra a capacidade de se organizar e comunicar do H. Erectus.
A inclusão mais frequente de carne à dieta vegetal levou ao aumento da capacidade craniana para 800 (exemplares mais antigos) a 1.300 cm3 (exemplares europeus mais recentes). Os exemplares dos Sinanthropus Pekinensis tinham capacidade craniana entre 815 cm3 (exemplares mais antigos) e 1.225 cm3. (exemplares mais novos). Cérebros maiores por sua vez podem produzir comportamentos sociais mais complexos, favorecendo estratégias alimentares mais eficientes.
A inteligência mais evoluída levou ao domínio do fogo (mesmo o natural) e à fabricação de vestimentas, fatores que permitiram à espécie deixar o calor da África e se arriscar nas regiões mais frias do norte da África e o Oriente Médio.
Em Koobi Fora (Quênia), Malka-Konturé (Etiópa), Olduvai e Kalambo Falls (Tanzânia) se observam sinais de um local de vivenda temporária datada de 1,9 a 1,6 milhões de anos de idade. Neles coincidem localizações pavimentadas por manufaturas líticas e restos de mamíferos esquartejados ou consumidos no local. Os ossos são de animais típicos do deserto: elefantes, cavalos, rinocerontes, girafas e antílopes.
Em um dos sítios de na Garganta de Olduvai, restos de australopitecos robustos datados de 1,9 milhões de anos foram encontrados ao lado de espólios de australopitecos graciosos. E o solo estava recoberto de artefatos de pedra e pedaços de ossos. Seriam formas arcaicas de H. Habilis ou de H. Erectus? Neste sítio, havia uma área central onde as ferramentas eram pequenas e afiadas, ao lado de ossos esmagados. Imagina-se que ali a carne era cortada em nacos e os ossos esmagados para deles retirar o tutano. Em contraposição, na área periférica, os artefatos eram maiores e havia menos ossos esmagados. Pinta-se o quadro de que seria uma área para esquartejamento preliminar da caça e que nesse momento, os ossos sem tutano eram já descartados ao lado de peças inúteis, como cascos e chifres.
Também em sítio na Garganta de Olduvai (1,7 milhões de anos) foi recuperado um alinhamento de pedras em semicírculo, a mais antiga construção humana até agora encontrada.
Em alguns abrigos foi possível identificar áreas de uso. Os restos de comidas ficavam perto da lareira, enquanto as atividades industriais ou de açougue eram feitas no exterior do recinto. Em outros, quer ao relento, quer em abrigos, existem áreas pavimentadas com pedras chatas sobre as quais deve ter sido erguida uma cabana.
A indústria lítica associada à fase arcaica do Homo Erectus era ainda a tradição de Olduvai, herança do H. Habilis. A indústria se beneficiou com a noção de simetria apreendida por eles, quando começaram a surgir instrumentos com duas bordas lascadas (os protobifaces), uma evolução relativa à fase anterior da indústria.
Na chamada tradição olduvaiana evoluída, identificável a partir de 1,1 milhões de anos atrás, se tornavam crescentemente frequentes nos sítios da África e Oriente Médio os protobifaces (instrumentos com duas bordas cortantes, produzidos em seixos ou lascas de pedra grandes). Esse aparecimento é interpretado como uma tendência em direção a uma nova tradição industrial: a indústria acheulense, rica em bifaces. De fato, para a África, a sequência olduvaiano evoluído-acheulense parece segura, pois comparece em sítios tão diversos quanto os de Olduvai, Ubeidiya, Gadeb, Melka-Konturé e Chesowanja, além de sítios no Marrocos e possivelmente alguns do sul do continente, hoje em estudo. Em tais lugares, sobre as camadas ocupadas por fabricantes de conjuntos olduvaianos vão aparecendo e se tornando dominantes os protobifaces e, depois, os bifaces.
A tradição acheulense, cuja fase inicial produzia objetos mais toscos é chamada de abbevilliense na Europa, ainda fabricava utensílios de grandes dimensões, herdados de tradição olduvaiana, mas cada vez menos frequentemente. Na nova indústria, crescia a fabricação dos instrumentos peróides bifaces (espécie de clavas com pontas pronunciadas e cortes em duas faces), dos perfuradores (utensílios com fios cortantes, cuja presença é frequente junto a restos de elefantes e hipopótamos), de cutelos (artigos semelhantes às clavas, mas com lâminas quadradas) e triedros (objetos pontiagudos ou serrilhados em formato triangular).
Nela surgiram algumas obras em osso, mas raras e sem padronização.
A indústria acheulense conviveu com a olduvaiana e é comum encontrar ambas presentes na mesma área ou em áreas próximas. Não se sabe com certeza se seriam comunidades distintas em diferentes estágios tecnológicos ou se as tradições representavam meras adaptações funcionais, isto é, os homens fabricariam peças utilitárias sob uma ou outra tradição à medida em que estivessem executando uma ou outra atividade.
Na África, a dualidade industrial ocorreu por milhares de anos, mas apenas a acheulense se expandiu para além da África.
A indústria acheulense foi levada pelo H. Erectus para o Oriente Médio e daí partiu em duas direções. Uma chegou à região dos Cáucasos, onde desenvolveram um estilo local conhecido como "acheulense tipo Kudaro". Uma segunda atingiu os altiplanos iranianos e dali para a Índia e China. Ela não ultrapassou os maciços montanhosos do norte da Ásia.
Na China, é identificada uma linha evolutiva, de Kehe-Tiengtsu, que se inicia no Pleistoceno Inferior (fase de Hsihoutu-Lantian) e prossegue no Pleistoceno Médio, até o início do Pleistoceno Superior (fase de Tingtsu, datada do Würm Antigo). A indústria encontrada neste sítio compreende basicamente lascas, frequentemente retocadas, algumas talhadeiras e perfuradores. Tal tradição no glacial de Riss, quando os artefatos de lascas se tornam prevalecentes na indústria. Aparentemente esta indústria foi a base para a indústria de micrólitos de lascas do Pleistoceno Superior local.
Na China (sítio de Chou-kou-tien) foi encontrado por todo o acampamento restos humanos que apresentavam a base do crânio quebrada e intencionalmente removida. Alguns desses crânios mostravam sinais de carbonização. Não se logrou identificar se se tratava de canibalismo ou ritual mágico. Também se desconhece se isso era feito com pessoas vivas ou se depois da morte. Tampouco se sabe se os mortos eram membros da comunidade ou indivíduos de agrupamentos humanos vizinhos.
O
Homo Erectus Africano
O
Homo Erectus Asiático
segue a Evolução do Homo Erectus
Criado e administrado por Marco Polo T. Dutra P. Silva