Couto Reys escreveu que "o general Correia de Sá erigiu em 1652 um templo na margem meridional do Paraíba em que se celebrasse o Santo Sacrifício da Missa, com orago de São Salvador, entregando sua administração aos religiosos beneditinos que o acompanhavam, os quais o receberam exercitando suas funções de párocos e os mais ofícios eclesiásticos".
Não encontramos o documento episcopal ou real que autorizou essa ereção. Mas, contrariando Couto Reys, é certo que em 1648 a igreja já existia, pois o heréu Miguel Riscado pediu em seu testamento (deste dito ano) para ser nela enterrado (Arquivo do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, doc. 871-3):
De qualquer modo, já havia em Campos dos Goytacazes uma igreja, pois o mesmo general aforou em 2 de março de 1660 uma sorte de terra. No documento lê-se (PHENEE SILVA e SUGAWARA, 2012, pág. 29):
Não se sabe onde ficava tal primitiva igreja de São Salvador. Já se cogitou ter sido no bairro do Beco, no distrito de Donana ou na Cruz das Almas (depois conhecida como Fazenda do Visconde). O historiador Augusto de Carvalho (CARVALHO, 1888, p. 292 e ss.) afirma tê-la identificado como a atual igreja de N. Sra. do Rosário do Saco.
Como era feita de materiais muito frágeis (madeiras, adobe e cordas), não é de se estranhar que ao longo do tempo o edifício da igreja se deteriorasse. Por isso, ata de Câmara de 1712 determinava a reconstrução da igreja e atribuiu ao cap. José de Madureira Machado a administração das obras.
Os historiadores lembram que quando o Visconde de Asseca e seu irmão João Correia de Sá receberam terras no norte fluminense (São Salvador e São João da Barra, respectivamente) em Carta de Doação de 17 de julho de 1674, com a obrigação de formar em suas capitanias uma vila com igreja, casa da Câmara e casas para 30 casais.
Em Campos dos Goytacazes, o compromisso não foi cumprido, segundo uma carta da Câmara de Campos ao Governador Luís Vahia Monteiro, datada de 6 de mario de 1730. Nela se diz que foi tudo feito pelo povo às suas expensas. Por isso, os vereadores solicitaram o confisco da doação real.
A capela teve diversos curas, quase em bases anuais. Abaixo listamos os que pudemos identificar. O primeiro beneditino era também procurador do general Benevides em Campos e, por ele, assinava os documentos de aforamentos de terras.
Alguns curas conseguiam se relacionar bem com seus fiéis. Outros, porém, tiveram sérios problemas com suas ovelhas. Depoimentos em um dos processos conduzidos em Lisboa pelo Tribunal do Santo Ofício em 1695 (PT-TT-TSO-IL-28-12242), testemunhas relatam terem presenciado que os párocos anuais eram frequentemente hostilizados pelos moradores e dela saíram descompostos, como o padre Luís Correia (que seria um homem turbulento, que havia mandado derrubar casas e destruir lavouras), o padre Francisco Gomes Maroco e os freis Fernando e Bernardo da Fonseca (p. 147). Também o padre Manuel Godinho foi hostilizado (ibidem, p. 154v).
Pedro Serpes de Mendonça viveu em Campos no tempo do vicariato do padre Antônio Moreira e testemunhou que o padre, diante de uma discussão entre fiéis na porta e adro de igreja, foi até eles com um Cristo na mão, para apartá-los. Mas os exaltados não quiseram sossegar, antes desacataram o Cristo e deram uma cutilada no padre, botando-lhe o braço fora (ibidem, p. 155).
A capela foi elevada à condição de sede paroquial em Carta Régia de 17 de julho de 1674. com isso, os beneditinos foram afastados da administração de igerja, substituídos por padres regulares.
Conta-se que o núcleo urbanizado, instalado como vila em 1676, e a igreja ficavam muito longe do rio, de modo que os moradores pediram sua transferência para local mais próximo, a três quartos de légua do núcleo original. Assim, a vila, com sua igreja matriz, foram transferidas em 1678 para onde é hoje o centro da cidade, então terreno dos beneditinos. A igreja teria ficado onde é hoje a igreja de São Francisco.
Com a deterioração do edifício, um outro templo foi construído no mesmo ano de 1678, ficando o primeiro à serventia da Ordem de São Francisco da Penitência.
O vigário colado Francisco Gomes Sardinha foi respondeu a diversos processos por simonia, desleixo e até por propostas indecorosas a confitentes suas (PT-TT-TSO-IL-28-3252, 12242, 16939 e 18011), acusações lançadas por fiéis seus. Destituído do cargo, foi levado para os cárceres do Tribunal da Inquisição em Lisboa, onde morreu.
Em 1862, ela foi reparada às expensas do Visconde de Araruama e dos comendadores João de Almeida Pereira, Julião Ribeiro de Castro e Joaquim Ribeiro de Castro. Mas em 1878, ele precisava de novos reparos, que foi levado a cabo graças ao auxílio financeiro de paroquianos.
A diocese foi criada em 4 de dezembro de 1922, através da Bula Ad Supremae Apostolicae Sedis Solium do Papa Pio XI. Sua jurisdição se estende pelo norte e noroeste fluminense.
A atual Catedral foi construída por diligência do vigário Uchoa.
Quando elevada a freguesia, o território de São Salvador abrangia a antiga Capitania da Paraíba do Sul, entre os rios de Itapemirim (ES) ao norte e o rio de Macaé (RJ) ao sul. Para oeste, ia até a serra do Mar. Com a elevação da paróquia de São João da Barra, ficou a leste por ela limitada. Mais tarde, teve ao sul divisa com N. Sra. do Desterro do Capivari (Quissamã) e a oeste com São Fidélis de Sigmaringa.
Em 1785, dividia-se com a freguesia de São Gonçalo pelas estradas da Fazenda Velha e Chapéu de Sol, até a lagoa de Piabanha. Para a parte sul e sudeste, correndo rumo ao sertão de Macabu. Pelo norte, correndo pela estrada do Curral Falso até a Fazendinha. Dividia-se com freguesia de Santo Antônio dos Guarus pelo lugar da Coroa, atravessando o fundão rumo direto ao sertão das Frexeiras, no além Paraíba. E deste ponto, o rio Paraíba servia de divisa.
Nome | Função | Período | |
---|---|---|---|
CAPELÃES | |||
Fernando de São Bento, frei | 1649-16.. | ||
Antônio Rodrigues Moreira | 1664-16.. | ||
Luís Correia | |||
Francisco Gomes Maroco | |||
VIGÁRIOS | |||
Manuel Bastos | 1674 | ||
Francisco Gomes Sardinha | colado | 1678-1689 | |
Tomás da Fonseca (1) | |||
Paulo, frei capuchinho | interino | 1689-1693 | |
João dos Santos Siqueira | 1693-1708 | ||
Felipe da Madre de Deus, frei | 1708 | ||
Felipe Santiago Pereira | confirmado | 1708-1710 | |
Roque Pinto | encomendado | c. 1710 | |
Martinho de Amorim | 1710-1712 | ||
Felipe de Santiago Pereira | a.1712-1720 | ||
Manuel Furtado de Mendonça | 1722 | ||
Brás Lopes do Prado | 1723-1735 | ||
Luís Lourenço da Cunha | 1735-1735 | ||
João de Amorim Bezerra | 1733-1736 | ||
João Clemente | 1736-1763 | ||
Afonso Bernardo de Azevedo | 1763-1777 | ||
André Duarte Carneiro | 1777-1780 | ||
Manuel Ribeiro de Almeida | 1780 | ||
João de Almeida Carvalho | 1781-1782 | ||
Bartolomeu Martins da Mota | 1782-1804 | ||
João Batista de Aguiar | 1804-1806 | ||
Eduardo José de Moura | 1806-1829 | ||
João Carlos Monteiro | 1829-1866 | ||
Francisco da Cruz Paula | 1866-1867 | ||
Luís Ferreira Nobre Pelinca, monsenhor, dr. | 1867-1895 | ||
Joaquim Júlio de Magalhães | 1895-1896 | ||
Antônio Maria Correia de Sá, monsenhor | 1896-1915 | ||
Achilles de Melo | 1915-1918 | ||
Olímpio de Castro | 1918-1919 | ||
Antônio Carmelo, dr. | depois cura da Catedral | 1919-1931 | |
Felício Magaldi | cura da Catedral | 1931 | |
João de Barros Uchoa, monsenhor | cura da Catedral e vigário geral | 1931-1940 | |
Joaquim Taumaturgo Caminha de Albuquerque, monsenhor | 1959 |
(1) desistiu da nomeação.
(2) COUTO REIS informou que em 1718 era vigário o padre Manuel de Vasconcelos França
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