Introdução
Os primeiros ancestrais do gênero Homo surgiram nas zonas tropicais e sub-tropicais da África durante o resfriamento do clima ocorrido no Plioceno Superior (2,5-2 milhões de anos atrás). Estabeleciam-se em um território, onde exploravam uma área extensa.
Conviviam, então, subespécies de parântropos e subespécies primitivas do gênero Homo.
Os hominídeos, nesse estágio evolutivo, já não se restringiam às florestas e nem mais viviam em árvores. A exposição maior aos predadores, decorrentes do viver no solo, elevou o número de mortes no bando e obrigou essas criaturas a adotarem estratégias de proteção do grupo, principalmente da prole indefesa. Com isso, a vida grupal se intensificou. Aprimorou-se a repartição do alimento entre os membros do grupo, a divisão de tarefas intragrupal e o surgimento de unidades familiares. O convívio mais intenso favoreceu o desenvolvimento da comunicação oral. A sexualidade se tornava progressivamente contínua para aumentar a reposição de indivíduos e garantir a continuidade da espécie.
Uma característica da evolução dos hominídeos foi o progressivo aumento do volume do cérebro em relação ao corpo. A relação entre o volume do cérebro e a altura de um indivíduo moderno é duas vezes maior que a de um australopiteco. Para comportar cérebros maiores, o crânio lentamente mudou de formato, tornando-se mais alto e perdendo o achatamento frontal.
O aumento relativo do cérebro habilita o exercícios de novas funções, como a concentração, a retenção na memória, além de controles neuro-musculares mais complexos e eficientes.
Uma outra alteração importante na conformação óssea dos hominídeos foi introduzida pela cocção de alimentos, que tornou a mastigação mais fácil, não exigindo dentes tão grandes e tornando desnecessárias bocas tão proeminentes.
O gênero Paranthropus
Alguns historiadores identificam os parântropos com os australopitecos robustos (Australopithecus Africanus), recusando-se a criar uma classificação específica para eles. Outros os vêem como tipos primitivos do Homo Erectus, que estudaremos adiante.
Mais ou menos na mesma época e na mesma região do sul da África em que vivia o A. Africanus coexistia o Paranthropus AEthiopicus, de características semelhantes, porém mais robusto.
A seguir, a evolução fez surgir no leste da África o Paranthropus Bolsei, que viveu entre 2,6 e 1,2 milhões de anos atrás. Os primeiros exemplares foram encontrados na Garganta de Olduvai, na Tanzânia. Ele era bastante parecido com os Paranthropus AEthiopicus do sul da África.
O parântropo tinha estatura em torno de 1,55 metros. Seu cérebro tinha volume de cerca de 500 cm3.
Ele vivia em áreas de clima seco e a escassez de alimentos fê-lo adotar como tática de sobrevivência uma dieta baseada em frutos e raízes, comidas de mastigação difícil, porém mais abundante na região.
Já separados do Australopitecus Africanus, se desenvolviam três espécies: o Homo Rudolfensis, o Homo Habilis, o Homo Ergaster e o Homo Erectus.
Há os que consideram tais espécies do gênero Homo como meras variedades regionais desse gênero.
O Homo Habilis ou Rudolfensis
Esta espécie surgiu há 2,5-2,3 milhões de anos na África. Não se sabe se evoluída do A. Africanus ou do A. Afarensis ou se de alguma linha paralela à dos australopitecos.
Pela análise de seus ossos de animais associados aos humanos, eles viviam num ambiente bem mais seco e amplo que as florestas onde habitavam as espécies anteriores.
Sua compleição frágil certamente fazia dele presa de outros carnívoros.
O Homo Habilis, que por algum tempo foi contemporâneo do Australopithecus Africanus, já era onívoro, como mostram os restos faunísticos em seus sítios. Ao lado do consumo de vegetais duros e fibrosos para suprir suas necessidades energéticas, matava pequenos animais, roedores em geral, além de consumir carcaças de animais já mortos por outros predadores ou de causas naturais. Comia a carne e sugava o tutano dos ossos.
Por substituir parte da dieta vegetal pela caça, seu crânio perdeu a crista sagital que nos A. Bolsei era necessária para fixar músculos que permitiam mastigar vegetais duros e fibrosos. Além disso, os dentes do H. Habilis apresentam molares e pré-molares menores e menos esmaltados, porém dentes incisivos maiores que os dos Bolsei. Ou seja, necessitavam menos dos molares e mais dos incisivos para mastigação.
O consumo de proteína das carnes resultou no lento aumento da capacidade craniana. O volume do cérebro do H. Habilis já era de 600-680 cm3 e já apresentava área diferenciada para comportar uma linguagem pobre em sons, mas articulada. Grande parte desse aumento pode ser creditado ao maior consumo de proteínas animais.
O cérebro maior fomentou maior eficiência nas caçadas, tanto pelo aprimoramento e desenvolvimento de ferramentas, quanto pela melhoria na capacidade de comunicação. Um e outro permitiram a evolução da caçada em grupo e, portanto, a obtenção de proteínas em maior número e com menor esforço e risco.
Dessa era são os artefatos mais antigos presumidamente feitos por humanos: ferramentas muito simples, geralmente cortadores de vegetais e plantas, feitas de pedra lascadas. Entretanto, muitas vezes, é difícil distinguir os artefatos humanos daqueles produzidos por fenômenos naturais, tão toscos eram. Por essa razão, ainda há sérias dúvidas sobre a capacidade do H. Habilis de produzir ferramentas.
Os mais antigos desses instrumentos foram encontrados em Taung, Sterkfontein, Swartkrans, Kromdraai, Makapansgat (África do Sul), na Garganta de Olduvai (Tanzânia), bem como em Koobi Fora, Lothagam e às margens do lago Omo ou Turkana (Quênia). São datados de 2,5 a 1,8 milhões de anos atrás. A elaboração de ferramentas, de qualquer modo, indica uma capacidade de abstração mental necessária ao planejamento da forma futura do utensílio.
A coleção de artefatos deles é denominada de indústria olduvaiana, um conjunto de peças utilitárias obtidas a partir de matéria prima disponível no local: seixos ovóides de obsidiana, rochas basálticas, sílex, quartzita e material vulcânico, polidos pela erosão de águas e ventos.
Sua preparação consistia na lascagem por percussão direta ou indireta sobre uma pedra grande (núcleo), usando uma pedra dura como marreta e outra como bigorna. Desse modo, produziam três tipos de artefatos do tamanho de uma laranja. Um deles tinha uma extremidade naturalmente arredondada e a extremidade oposta pontiaguda ou com uma borda cortante (talhadeiras ou choppers). Outra apresentava duas extremidades opostas pontudas ou cortantes (chopping tool). A terceira era composta de utensílios feitos a partir de lascas poliedrais toscamente retocadas.
Tais ferramentas eram adaptadas para serem seguras com a palma da mão, sem a necessidade de dobrar o dedo polegar. Ao lado dos instrumentos de pedregulho, produziam também lascas retiradas de pedras maiores, chamadas núcleos.
Se essa indústria compreendia também artefatos em madeira ou outro material orgânico, deles não sobrou traço. A indústria olduvaiana durou mais de um milhão de anos, mas evoluiu um pouco nesse período.
Na fase inicial da indústria, a padronização era muito baixa. Em Olduvai, 80% dos artefatos eram produzidos a partir de seixos e o restante de lascas. Em Koobi Fora, os seixos respondiam apenas por 5% da indústria, enquanto em Omo, não havia objetos de seixos, mas apenas de lascas de pequenas dimensões.
Dado que a indústria lítica deixou artefatos duradouros, os arqueólogos usam-na para a periodização da história do Homem. A tradição olduvaiana inicial define o chamado Período Arqueolítico (arqueo=antigo, em grego).
O Homo Ergaster
O Homo Ergaster (em grego, ergaster=trabalhador), parente próximo do Homo Erectus, era anatomicamente assemelhado a ele, embora pareça mais inteligente, pela comparação do crânio de um e outro. Era tão alto quanto o homem moderno. Seus restos podem ser encontrados no nordeste da África (onde viveu entre 1,8 e 1,5 milhões de anos atrás), mas principalmente na Ásia (como a caverna de Chou-kou-tien, na China e em Java). Daí se moveram para as zonas temperadas do oeste da Ásia no fim da Idade do Gelo (cerca de 1,4 milhões de anos atrás).
O mais famoso exemplar da espécie Homo Ergaster é o Garoto de Turkana, que teria morrido afogado há 1,6 milhões de anos.
Mais ou menos na mesma época e na mesma região do sul da África em que vivia o A. Africanus, coexistia o Paranthropus AEthiopicus, de características semelhantes, porém mais robusto. Por isso, muitos cientistas consideram que parântropo é apenas um outro nome para o australopitecos robusto (Australopithecus Africanus), recusando-se a criar uma classificação específica para eles.
À medida em que acabava o Plioceno Inferior, surgia na África um novo gênero, o Homo Erectus, que iria se afirmar e se espraiar também pela Eurásia.
Segue o Surgimento do Homo Erectus
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