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HISTÓRIA

EUROPA - Período Mesolítico ou Epipaleolítico (10.000-6.500 a.C.)

Introdução

 

A própria denominação mesolítico mostra se tratar de uma época de transição e de ajustamento que veio em consequência das alterações' (bruscas, em escala geológica) resultantes do fim da última glaciação. Na Europa, esse Período é também conhecido como Campigniense.

Sob o ponto de vista climático, o Mesolítico, Epipaleolítico ou, ainda, Campigniense se insere no Período Atlântico (que durou de 7.000 a 3.900 a.C.). Nele, o fim da última glaciação provocou o aumento das temperaturas médias e o degelo das calotas polares escandinavas. Os mares, centímetro a centímetro, se elevaram ao longos dos anos. No meio do Período Mesolítico, a franja costeira estava cerca de 100 metros mais alta que no Período Paleolítico, isolando áreas que hoje se apresentam como ilhas: Inglaterra, Irlanda, Baleares, Córsega, Sicília, o arquipélago grego etc.

A maior umidade do ar aumentou a precipitação pluviométrica. A temperatura se elevou com a retração da área glacial. A combinação dos dois fatores levou à expansão exuberante das florestas, à proliferação de caramujos em algumas regiões e de moluscos na área costeira, assim como a migração das espécies animais de climas frios (como as renas e os bois almiscareiros) para latitudes setentrionais. Outras espécies não conseguiram se adaptar ou foram exterminadas nas caçadas, a exemplo dos mamutes e dos rinocerontes lanudos.

Alguns objetos de pedra polida apareceram no início dessa época, mas a esmagadora maioria dos artefatos ainda era produzida pela técnica de lascagem. Muito lentamente, as comunidades iam aprendendo as técnicas de polimento para, no fim do Período, a indústria da pedra lascada já ter sido completamente substituída pela da pedra polida.

A redução do porte dos animais acelera a produção de micrólitos em relação ao antigo conjunto de ferramentas líticas. Surge, então, a indústria lítica que ficou conhecida como Aziliense. Essa indústria é uma continuidade da Magdaleniense Final e surgiu na zona pirenaica por volta de 8.500 a.C. O conjunto Aziliense foi depois substituído pela indústria Tardenoisiana, que se espalhou por toda a Europa, alcançando a Suíça, a Bélgica e a Escócia.

Nesse Período, as artes em pedras e ossos virtualmente desaparecem.

Durante essa época, o centro da Europa era pouco povoado, situação que perdurou até a chegada dos povos agricultores no Período Neolítico. Assim sendo, a tradição Tardenoisiana em realidade se impôs nas zonas costeiras atlântica e mediterrênea.

No Período Tardenoisiano, a volta do bem-estar das comunidades traz de volta a veia artística. Surgiram no norte da Espanha as pinturas nas cavernas de Altamira, Santamamiñe e Tito Bursillo, por exemplo. Na Itália, as figuras alpinas e as do Monte Savino (Arezzo, Itália). Na França, os grafites do Mont Bédou, na Provence.

Nos Bálcãs, caçadores-coletores epipaleolíticos ocupavam sítios como Peres e Backa Palanka na planície da Panônia ou Pobiti Kamani na Bulgária. As zonas montanhosas eram também povoadas, como Crvena Stijena ou Odmut, nos Alpes Dináricos.

Ao lado deles, havia dois grupos de populações mesolíticas: o da Cultura da Caverna de Franchthi e os da Garganta do Danúbio.

 

O Mesolítico no Mediterrâneo

A Cultura da Caverna de Franchthi

A ocupação da Caverna de Franchthi data do Período Paleolítico e mesolítico. Ela fica na península de Argive, no golfo de Argos.

caverna de Franchthi

Segundo os especialistas, a área sofreu uma alteração climática notável, deixando de ser um local frio e seco para se tornar mais quente e úmido. Árvores espoucaram por toda a parte.

A população local vivia da caça de cervos, corças e porcos selvagens. Os primeiros correspondiam a 70% dos ossos achhados, enquanto os porcos respondiam por 30% deles. Os equinos, caprinos e ratos desapareceram completamente. Os bovinos são escassos. Raposas, lebres, pássaros e ourios são às vezes achados.

 Eles colhiam nozes, cereais e legumes selvagens. As plantas usadas eram as mesmas do Período precedente, exceto por peras e ervilhas selvagens, que começaram a aparecer por volta de 7.300 a.C. O pistache se tornou mais frequente a partir de cerca de 8.000 a.C. e a cevada e aveia selvagem se tornaram mais presentes a partir de 7.000 a.C. Essa mudança na dieta parece indicar que as florestas deram lugar aos campos na região.

Do mar extraíam peixes e moluscos. Os moluscos serviam para alimento, decoração e ritual de enterramento. Eles se tornaram mais corriqueiros na segunda parte do Período mesolítico, principalmente os ossos de peixes grandes.

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Sua indústria lítica produzia objetos de obsidiana, lêminas e micrólitos. Há nela também utensílios domésticos e decorativos feitos em pedra e em mármore, como o vaso ao lado.

Na caverna de Franchthi foram encontrados os despojos de 15 a 34 indivíduos, alguns pareciam em posição deliberadamente retorcida, com rochas sobre eles, com cinzas sobre e debaixo dos corpos. Alguns ainda exibem seus enfeites, que consistem de conchas cuidadosamente perfuradas, sugerindo um enterro ritual. Os restos humanos mais antigos (abaixo, à esquerda) datam deste Período e são de um jovem de cerca de 25 anos, sepultado numa cova rasa perto da entrada da caverna. Ele foi enterrado em posição contraída e coberto com pedras do tamanho de u'a mão. Análise laboratorial mostra que ele sofreu de malária e morreu de pancadas na cabeça. Em sua cova não há bens pessoais, fazendo crer que àquela época não havia se desenvolvido um sentimento de posse nem preocupações com a vida após a morte.

 

Sua indústria lítica produzia objetos de obsidiana, lâminas e micrólitos. Há nela também utensílios domésticos e decorativos feitos em pedra e em mármore, como o vaso ao lado.

 

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Já uma criança de poucas semanas enterrada no Período Neolítico Inicial levava consigo uma pequena vasilha de mármore e metade de um vaso de argila. Essa metade de vaso foi interpretada como um sacrifício simbólico numa cerimônia fúnebre. Por ser raro o acompanhamento de bens nas covas de crianças, crê-se que se tratava de alguém importante.

 Há sinais de cremação, sem que se tenha certeza se propositais, o que seria pioneiro na região. Outros ossos fora encontrados espalhados no sítio, talvez falta de respeito ou indiferença pelos mortos, de canibalismo ou de ação de predadores. Todavia, pode ser também um ritual próprio daquela gente, pois o uso de ornamentos feitos de conchas e carapaças de moluscos por vivos e mortos afasta a hipótese de indiferença ou desrespeito.

Esses sinais de status se repetem num outro túmulo do Neolítico Médio no sítio de Parália, onde uma senhora de cerca de 40 anos levava um pote muito bem elaborado e lâminas de obsidiana. Ela era talvez uma artesã conceituada

O achado de pequenas pedras com traços de ocra sugere a hipótese do uso do tingimento ou de uso de agentes químicos para a preparação de couros ou para a cura de doentes.

 

O Mesolítico Centro Europeu

 

Nos Bálcãs, caçadores-coletores epipaleolíticos ocupavam sítios como Peres e Backa Palanka na planície da Panônia ou Pobiti Kamani na Bulgária. As zonas montanhosas eram também povoadas, como Crvena Stijena ou Odmut, nos Alpes Dináricos.

A Cultura de Robenhausen

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Antropomorficamente, seus habitantes tinham crânios redondos, um tipo alpino.

 

Viviam da caça, possivelmente apenas para a obtenção de couros e ossos, e da pesca. No Período Neolítico, também passaram a criar animais domésticos e a produzir uma cerâmica rústica.

Essa cultura acabou na Suíça com a Idade do Ferro, mas se conservou na área danubiana até a romanização da Europa.

Na Itália, a Cultura de Robenhausen evoluiu para a das Terramaras no fim da Idade do Bronze. Os Terramaras preferiram mudar-se para vilarejos fortificados, nos brejos ou perto do curso de rios. As populações das Terramares tinham crânios longos, de tipo Mediterrâneo, mas associados a objetos de bronze já se achavam pessoas de crânio redondo, como os dos Robenhausen.

A Cultura de Lepenski Vir

A Cultura de Lepenski Vir apareceu por volta de 6.400 a.C. O sítio-guia dessa cultura situa-se perto de Orsova, às margens do rio Danúbio, que ali forma um enorme rodamoinho. Outros vilarejos mesolíticos da mesma cultura se espalhavam nas costas arenosas do Danúbio servo: Icoana, Ostruvul, Corbului, Padina, Vlasac e meia dúzia de outros.

Essa cultura passou por três fases distintas. As duas primeiras duraram juntas cerca de 800 anos e mostram uma complexa sociedade nômade, enquanto a terceira (c. 5.600-4.900 a.C.) já mostra uma comunidade razoavelmente sedentária. Eles só abandonavam as casas duas vezes ao ano, quando o Danúbio sofria enchentes, mas retornavam assim que o nível das águas baixavam

 

 

Habitavam casas em forma de tendas, feitas de couros estendidos sobre estruturas de madeira. O assoalho era coberto de arenitos e o teto por vezes coberto por um emplastro grosso feito a partir de pedras calcárias. Elas eram dotadas de uma lareira, geralmente com sinais de restos de peixes assados, ficava no centro de cada edificação.

 

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Imagens do assentamento de Lepenksi Vir

 

Diversas delas abrigavam lages com uma depressão no centro, decerto altares, que  suportavam figuras antropomorfas esculpidas na pedra. Algumas dessas esculturas eram monumentais, outras combinam características humanas e de peixes. A maioria das figuras repete o formato do rodamoinho do trecho local do Danúbio.

 

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�dolos achados em Lepenski Vir
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Dentre os artefatos, há alguns decorados e outros sem decoração, tais como miniaturas de machados de pedra ou estatuetas. Artigos de ossos e de conchas são mais raros.

Viviam da caça e da pesca dos grandes peixes que ali vinham se alimentar dos menores.

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 A Cultura de Lepenski Vir acabou em 4.900 a.C., após o contato com as comunidades agropecuaristas da Cultura de Starcevo-Cris, dos quais recebiam alimentos e cerâmicas em seus negócios comerciais. Os cientistas acreditam que Lepenski Vir foi abandonada pelos habitantes iniciais e se transformou ao longo do tempo em centro ritualístico das populações neolíticas. Parece que a última função das casas de Lepenski Vir foi servir de jazigo para indivíduos.

 

O Mesolítico do Norte da Europa

A Cultura Maglemose

Os cientistas dizem que a Dinamarca é resultado de duas glaciações. As partes central e oriental são cobertas de solos argilosos e depósitos de morena deixados pela última era glacial, a de Würms, localmente conhecida como de Weichsel. As regiões norte e ocidental têm solo arenoso, com dunas de areias, deixados pela Glaciação de Riss.

No Período Atlântico, o nível do mar subiu tanto que as áreas do norte da Dinamarca foram fragmentadas em ilhas. A população dessas regiões se encontrava principalmente nas áreas costeiras e vivia da pesca de peixes e lagostins, além da caça da foca. No interior, a floresta se adensou e ali cresceram o carvalho, a tália, o olmo e os freixos. O cervo e a rena substituíram a fauna antiga, composta de bisões, mamutes, rinocerontes lanudos etc.

Ao se adaptar ao fim do período glacial, isto é, ao aumento das florestas e à elevação do nível do mar, o Cro-Magnon fez surgir uma cultura conhecida como Maglemose, que vigorou no sul da Suécia e Noruega, na Dinamarca, norte da Alemanha, da Polônia e da Inglaterra (como o sítio de Star Carr, Yorkshire) e que teria existido entre 7.500 e 5.700 a.C.

As gentes dessa cultura eram também chamadas de Povos da Floresta. Continuavam caçando animais pequenos, pescando nos rios, lagos e praias, além de colherem frutos e mel silvestre.

Os assentamentos dessas comunidades ficavam geralmente às margens de espelhos ou cursos de água.

Seu elemento cultural característico é o machado com cabo, mais eficiente na derrubada de árvores que seu antecessor paleolítico.

Nessas sociedades, pela primeira vez na HISTÓRIA, se achou sinais de lobo doméstico, o ancestral dos cachorros.

Na área dinamarquesa, a turfa preservou um bom número de armas e ferramentas, de ossos de animais abatidos e de restos de habitações dessa era.

Ela foi substituída pela de Kongemose (5.700-4.600 a.C.) e Ertebölle (4.600-3.200 a.C).

Cultura de Ertebölle

Essa cultura era desenvolvida pelos caçadores e pescadores Cro-Magnons da Escandinávia por volta de 4.600 a.C. e em seus vilarejos foram encontrados maciços monturos de conchas e de restos de moluscos. Fabricavam ferramentas líticas, principalmente machados de pedra polida.

Alimentavam-se de frutos do mar e deixaram monturos de ostras.

Essas gentes realizavam cerimônias religiosas nas áreas aquáticas, envolvendo oferendas de artefatos e sacrifícios de animais ou, vez por outra, humanos. As cerimômias eram seguidas de festividades.

Seus cemitérios eram dotados de acompanhamento mortuário, demonstrando uma clara noção de ancestralidade e crença na extracorporalidade.

  Por volta de 5.400 a.C., os Ertebølles aceitaram a tecnologia ceramista dos povos agricultores vizinhos, mas a abundância dos recursos marinhos tornava desinteressante a adoção tanto da agricultura quanto da pecuária. Sua cerâmica era usualmente marrom ou cinza, de tonalidade carregada, decorada por incisão ou pressão das unhas. Também produziam objetos entalhados em madeira e canoas.

 

Segue o Neolítico europeu



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