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HISTÓRIA

A Afirmação do Homem Moderno

Introdução

 

O aquecimento do planeta há cerca de 40 mil anos atrás fez as savanas africanas se expandirem pelo Oriente Médio, facilitando a entrada de animais e do homem moderno na região. No final do Período Pleistoceno, o gênero Homo Sapiens já substituíra completamente o velho estoque de H. Erectus na África e na Ásia. Esse gênero também chegou à Europa, onde conviveu por uma dezena de milhar de anos com o Homo Sapiens Neanderthalensis. E começava a jornada do homem pelo Novo Continente.

Há muitas evidências de que entre 20 e 10 mil anos atrás, aproveitando-se do baixo nível do mar, houve migração de grupos asiáticos para a América do Norte através do Estreito de Behring, no Alasca. Teorias em evolução também defendem que grupos da Macronésia conseguiram atingir as costas chilenas nessa época. E uma tese bastante polêmica estatui que grupos africanos teriam aportado no Brasil há cerca de 40 mil anos atrás, vindos diretamente das costas ocidentais da África ou cruzando a Ásia, sem se estabelecer ali por muito tempo, uma vez que anatomicamente são negróides e não asiáticos. O exemplar mais famoso desse povo de origem africana é, sem dúvida, a célebre Luzia.

A conexão entre os neandertais e os homens modernos na Europa ainda é causa de polêmicas acesas. As principais teses ainda em discussão afirmam que:

 

  • no Pleistoceno Médio moravam na Europa populações pré-neandertais (H. Antecessor e H. Heidelbergensis), antecessores dos neandertais. Os neandertais europeus teriam se espalhado pelo Oriente Médio e Ásia Central. Enquanto isso, na África setentrional, os Cro-Magnons formavam o embrião dos homens modernos (H. Sapiens Sapiens);
  • nessa mesma época tanto os pré-neandertais quanto o pré-sapiens já viviam na Europa como gêneros distintos. O primeiro levaria aos neandertais e os segundos aos homens modernos;
  • os neandertais europeus, ou alguns deles, teriam originado os homens modernos da região. Tal tese sofre um argumento de peso: ressaltado o paleoantropomorfismo dos neandertais, não teria havido tempo suficiente para sua transformação em Homo Sapiens no espaço de poucos milhares de anos. Mapeamento genético realizado por cientistas russo e suecos em ossos de 20 mil anos de idade, mostram que o DNAmit dos neadertais é 7% diferente da sequência genética dos humanos. E calcula, com base na velocidade evolutiva do DNAmit, que os H. Neanderthalensis e os H. Sapiens, se tiveram um ancestral comum, teriam se separado há pelo menos 600 mil anos. Ou seja, há muito mais tempo que os restos fósseis apontam.
    Em resposta, o arqueólogo João Zilhão sustenta que o homem moderno é anormalmente homogêneo em termos genéticos. Estudos do DNAmit nos macacos africanos, nossos parentes vivos mais próximos, mostram uma genetodiversidade ainda maior que a encontrada entre humanos e neandertais. Daí, conclui que a uniformidade genética apenas sustenta a tese de uma origem única dos humanos (a tese da Eva mitocondrial).

 

A Afirmação do Homem Moderno

 

No final do Período Pleistoceno Superior, teria se concluída uma alteração importante na conformação orgânica e no funcionamento do cérebro do H. Erectus. Ele aparentemente foi se tornando mais complexo, com áreas de especialização (inteligência tecnológica, inteligência social, inteligência abstrata etc.) agora integradas.

 

composição da inteligência

 

A maior umidade do ar aumentou a precipitação pluviométrica. A temperatura se elevou com a retração da área glacial. A combinação dos dois fatores levou à expansão exuberante das florestas, à proliferação de caramujos em algumas regiões e de moluscos na área costeira, assim como a migração das espécies animais de climas frios (como as renas e os bois almiscareiros) para latitudes setentrionais. Outras espécies não conseguiram se adaptar ou foram exterminadas nas caçadas, a exemplo dos mamutes e dos rinocerontes lanudos.

Com isso, se tornou capaz de compreender e aceitar um mundo menos simplista, permitindo a abstração e o desenvolvimento de um sentimento religioso. A explosão cultural decorrente desse fenômeno teve impactos na organização social, na especialização e consequente aumento no número de tipos de ferramentas, no modo de se expressar, no desenvolvimento de trocas e comércio etc.

A nova engenharia permitiu a compreensão e a aceitação de um mundo menos simplista. A nova visão de mundo teve reflexos na estrutura social, na maior complexidade tecnológica (elaboração de ferramentas mais especializadas na execução de tarefas específicas), na padronização industrial, num modo de expressar-se mais rico, e assim por diante.

Os mais antigos achados da nova espécie são encontrados na África e têm 40 mil anos de idade, como os exemplares da Rodésia, de Haua Fteah (Líbia) e Jebel Irhoud (Marrocos).

Na Europa, são identificáveis dois biotipos de homens modernos. Um deles, conhecido como Homem de Cro-Magnon, era alto, de ossos longos e cabeça grande e alongada. O outro biotipo, o Homem de Combe-Chapelle-Brün, era mais baixo, de faces estreitas e grandes saliências superciliares.

O H. Sapiens, egresso de regiões temperadas ou quentes, tiveram dificuldades em se adaptar ao clima frio da Eurásia. Pensa-se que a taxa de natalidade seria inicialmente baixa, acompanhada de uma alta taxa de mortalidade, principalmente por doenças pulmonares, de alta incidência entre as crianças. Esta seria uma das razões pelas quais eles levaram dezenas de milhares de anos para se tornarem a raça dominante na Europa.

Graças à sua capacidade intelectual e à tecnologia dela resultante, foi pouco a pouco encontrando soluções para melhorar sua qualidade de vida, tais como a invenção da agulha com olho, feita de osso, que permitiu a confecção de roupas mais adequadas ao meio ambiente. Com isso, a população de homens modernos passou a dar saltos de crescimento demográfico. As populações maiores talvez tenham acarretado a extinção dos neandertais na Europa.

Viviam em grupos nômades e suas habitações levavam isso em conta, pois eram de material facilmente abandonável ou portátil.

Os Cro-Magnons caçavam em bandos. Com os grandes animais já, seus alvos prediletos eram touros, renas, cervos e ursos. As mulheres colhiam os frutos silvestres. A alimentação foi enriquecida com a pesca e a técnica de charquear a carne, permitindo sua conservação até o consumo no inverno. O Cro-Magnon era um habilidoso caçador, que se valia do arco e da flecha como instrumento de caça. Fabricava e usava, também, lanças, arpões e armadilhas. Aparentemente o cavalo já estava domesticado nessa era.

A indústria pré-aurignaciana, que havia desaparecido tanto na África quanto no Oriente Médio, reapareceu na Europa de 40 mil anos atrás sob o nome de tradição aurignaciana, acompanhando dejetos e restos mortais das populações de homens chamados genericamente de proto-Cro-Magnons (H. Sapiens Sapiens). Ali, ela veio acompanhada de uma indústria óssea e se caracteriza pela padronização das pontas de lanças. A tradição aurignaciana deu início na Europa ao chamado período tecnológico conhecido por Paleolítico Superior.

Sua indústria na Europa era rica em artigos feitos em ossos, como facas, alfinetes, anzóis, arpões, pontas de flechas e lançadores de dardo. Também objetos interpretados como amuletos eram feitos de ossos de animais.

A indústria pré-aurignaciana reapareceu também no Oriente Médio. No Curdistão iraquiano revelou artefatos de 35 mil anos de idade, produtos de uma tradição batizada de baradostiana. Na Síria e na Palestina, apareceu o conjunto emiriano, composto de artefatos lascados musterienses-levalloisianos e com uma ponta de projétil típica da região.

No sítio de Haua Fteah (Líbia), a tradição pré-aurignaciana foi retomada na mesma época que na Europa e recebeu o nome de indústria dabbiana. Ao lado dela, o norte da África via o desenvolvimento das indústrias aterense (em que lascas e não lâminas eram produzidas pela técnica de Levallois), silsiliana e sebekiana.

Também ligadas ao homem modernos estão a sofisticação de estilos e matérias-primas de suas manufaturas, a complexidade da organização social, o aprimoramento da arquitetura do local de residência, o desenvolvimento do comércio com comunidades vizinhas e a arte.

As novas tradições tecnológicas são bem mais efêmeras que as anteriores, mostrando uma capacidade de sintonia muito mais fina com o meio ambiente. Ou seja, uma capacidade de especialização que permitiu criar novas tipologias para atender muito mais adequadamente às suas necessidades.

Na Europa, a indústria aurignaciana não se apresenta como uma adaptação de culturas antigas ao meio ambiente, mas como um verdadeiro aporte de nova tecnologia.

Há sinais de que eles tivessem um calendário lunar para monitorar o movimento estacional dos animais.

Outro traço da cultura deles são os complexos rituais de caça, nascimento e morte. Também característica dessa nova cultura foi a presença de trabalhos artísticos com chifres de veados.

Ele desenvolveu a arte rupestre, bem como esculturas e estatuetas portáteis, basicamente símbolos de uma deusa-mãe. Na área franco-cantábrica, as pinturas nas paredes das cavernas estavam em geral na áreas mais profundas e escuras, o que nos leva a pensar em sentidos rituais ou cabalísticos associados às trevas.

Na África oriental e meridional estão as evidências mais antigas, 40 mil anos atrás, do uso de enfeites pessoais no corpo. Também na África e na Europa, usavam pedaços de minerais para fazer desenhos coloridos nas paredes das cavernas.

Línguas Anciãs do Homem Moderno

 

Durante a expansão pelo mundo, o homem moderno levou um sem-fim de línguas, dialetos de uma família conhecida como eurasiana. Eram provavelmente línguas pobres, tonais (isto é, nas quais o tom de voz altera o sentido da palavra), repletas de interjeições e provavelmente de tipo aglutinante (ou seja, formando os étimos por prefixação, sufixação e justaposição, como em português empobrecimento = em + pobre + ci + mento). Os linguistas identificam os termos tik (dedo e o numeral 1) e pice (piolho ou retirar piolho) como fósseis dessas línguas arcaicas. Do primeiro veio o tik >digt >digitus >dedo.

Com o decorrer dos milênios, tal família se fragmentou em outras subfamílias: a nostrática no Oriente Médio, norte da África, Índia e Europa, a dene-caucasiana na Ásia central, no Extremo Oriente e no norte da América e a níger-cordofaniana da África subsaariana e meridional.

 

 

As línguas dessas famílias se desenvolveram localmente, como um ajustamento entre as comunidades que permaneceram em contato mais frequente. As famílias mais estudadas até o momento são as do ramo nostrático. No Oriente Médio, Anatólia e norte da África se desenvolveram as línguas camito-semíticas (sumério, acádio, idiomas anatólios, aramaico, egípcio e berbere). Na área circumpôntica européia línguas indo-européias, na faixa mediteterrânea européia uma família que abrigava o etrusco, o sardo e possivelmente o lígure. Acreditamos que o ibero e o tartéssio sejam frutos de imigrantes do norte da África. Na zona atlântica possivelmente se falavam línguas da mesma família do basco.

 

 

Segue a Revolução Agropastoril



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