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CADERNOS DE VIAGEM

AMÉRICA DO SUL - Argentina

Buenos Aires

Boca

De San Telmo fomos à Boca. No caminho vimos uma casa amarela que teria pertencido ao almirante irlandês Brown, aquele que derrotou a esquadra brasileira no rio da Prata. Passamos pelo estádio do Boca Juniors e seguimos para o porto do Riachuelo (riacho que desemboca no Plata). Ali o ônibus parou para que conhecêssemos El Caminito, uma rua que deu nome a um tango famoso. É uma viela bem cuidada, onde artistas expõem artesanatos, muitos dos quais relacionados com o tango, outros cantam e tocam ...Boca

Na redondeza as casas são pobres e velhas. Muitas têm paredes de chapas onduladas pintadas de cores berrantes. A guia disse que chamam àquela "arquitetura" de Gótico Latino (gotas en la tina ou gotas na lata). Vale a pena ver.

Voltamos costeando o imundo Riachuelo, entrando novamente Boca adentro, onde as calçadas são altas, porque a área inunda com facilidade quando chove. Passamos pelo Puerto Madero, antigas docas em tijolo aparente, hoje recuperadas.


Riachuelo

Finda a excursão, voltamos ao Puerto Madero e deu para ver que o outro lado, o lado do rio, ele parece as margens do Sena. Várias lojinhas e barzinhos para se tomar um chá ou café. Estudantes de arte pintavam. Entre as lojas e o rio a passarela. Grades evitam queda no rio. Alguns guindastes desativados dão o tom ao ambiente. No fim, uma ponte e, ancorado, um barco histórico argentino, aberto à visitação.

Em frente ao Puerto Madero ficam o enorme prédio do Correio Central e o Luna Park, ginásio famoso pelas lutas de boxe que apresenta.


Depois da ponte, o porto onde param os alíscafos e ferry-boats para Colonia del Sacramento. Tentamos novamente a travessia, mas não haveria volta senão para o dia seguinte. Caminhamos mais um pouco e achamos um barco que fazia uma volta pelo Plata.

Ele saía da enseada até um canal formado por pedras, criado pelo homem para proteger o porto, saía do canal até um lugar chamado Nunes, numa viagem de cerca de hora e meia sobre as barrentas águas do Prata. Via-se as docas, os parques, o aeroporto urbano... Ao contrário de outros passeios, raramente o capitão dava alguma informação do que era visto.

O vento era gelado prá caramba, apesar do sol. Na volta não resisti e fui para a parte de baixo, que era fechada por vidros por todos os lados. Cansado, cochilei por alguns segundos. O passeio é uma das coisas que não se deve perder na capital portenha.


Andamos o restinho da tarde pelas ruas do centro e pelo shopping Galerias Pacifico. À noite voltamos a San Telmo, onde jantamos e assistimos a um show de tango no La Ventana, um local de espetáculos antigo. As mesas eram muito juntinhas e a comida deliciosa. Muito veludo vermelho e luz indireta davam o clima. O palco é pequeno, como devia ser na época de ouro do tango.

A dança é realmente um encanto, mas um tanto cansativa. A maioria da platéia era brasileira, como constatou o "mestre de cerimônias", que perguntava pelas mesas ao microfone e pedia uma salva de palmas para os países à medida em que eram identificados. Houve, também, dança gaúcha e música andina (a parte mais bonita, para meu gosto).


Tomamos primeiro a linha B e fomos ao ponto final, no bairro de Caballitos. Um bairro finíssimo. Passeamos pela Av. Alberti, visitamos a igreja de Santa Julia, muito rica e moderna, lembra a igreja de São Gabriel, em São Paulo. Conhecemos o bairro. Prédios novinhos, muitos em tijolos aparentes. Ruas calmas (é bem verdade que estávamos na manhã de domingo). Ziguezagueamos pelo bairro até sair Av. de la Plata, bastante movimentada, onde está a igreja de San Juán Damascén. Visitamos o templo e tomamos a linha A e depois a linha C para o centro.


Plaza de la Fuerza Aerea

Paramos na Plaza de la Fuerza Aerea. Estivemos na estação central, que lembra um pouco a Estação da Sorocabana, em São Paulo, porém mais modesta. Era nossa idéia pegar um trem até o delta do Tigre e passear de barco pela foz do Paraná, mas o trem levaria duas horas só de ida, o que tomaria todo o nosso dia.

Circulamos pela praça onde está a réplica da Torre de Londres e cruzamos a rua. Do outro lado há um memorial pelos soldados mortos na guerra das Malvinas. Uma parede de mármore marrom, onde estão inscritos os nomes dos mortos. De guarda dois soldados, que revezam de lado de um modo tão engraçado, pois parecem movidos a corda ou a pilha. Neste memorial presenciamos uma cena realmente tocante. Meio ressabiado, um garoto de cerca de 13 ou 14 anos veio, colocou uma rosa vermelha sobre uma das lápides, passou a mão carinhosamente sobre um dos nomes e saiu chorando silenciosamente. Aquele nome, pelos nossos cálculos, seria do pai dele.


Subimos pela Calle Florida até a Plaza San Martí e dali fomos ver a embaixada brasileira e a Plaza de la Recoletafeira da Recoleta. Perto, visitamos a igreja del Pilar que deu origem ao bairro. Ao lado está o cemitério de mesmo nome. Nele estão enterrados alguns dos maiores nomes da história argentina: Rosas, Mitre, Sarmento, Avellaneda (presidentes argentinos), Velez Sarsfield e, no túmulo da família Duarte, a famosa Eva Perón.

Cruzamos a Recoleta até encontrarmos a linha D do metrô, a mais antiga delas (fundada em 1916). É um encanto. Colunas de ferro toda trabalhadas, escadas rolantes com pisos de madeira. Os trens parecem saídos de algum filme antigo. Os vagões do trem se mexem como geléias. As portas são fechadas manualmente. Junto às portas há bancos em forma de quarto de círculo, que no passado serviam para os cobradores se sentarem. Os bancos são feitos com ripas de madeira, as janelas são de suspender e têm borboletas para segurá-las. Todas as madeiras são claras, tornando o ambiente leve. Há espelhos nas paredes, para o retoque da maquiagem. As alças chacoalham violentamente quando o trem corre. No teto, bocais com luzes fracas (40 W, eu acho) oscilam com a variação da corrente elétrica. Vale a pena ser visto.


Paramos na estação final dessa linha. Dali, apesar dos protestos do Mancini, rumamos para o cemitério da Chacarita. O bairro agora é classe média baixa. Casas mais modestas. Cruzamos uma linha de trem, passamos por um grande mercado brechó e saímos na Av. Dorrego, que dá no cemitério.

Lá fui ver as sepulturas de Carlos Gardel e do gen. Juán Perón. Uma senhora que visitava me mostrou a tumba onde estava um rapaz que morreu com Gardel no acidente de avião em Medellín. A tumba de Gardel parece ser mais visitada. Permanentemente há fãs dele. Uma senhora colocou um cigarro por entre os dedos da estátua. Tangos cantados por ele são tocados o dia inteiro. Há inclusive uma placa com homenagem de uma rádio de São Paulo.

A tumba de Perón está sempre com flores, mas não vi pessoas lá. Aliás, a maioria das pessoas mal sabia onde fica.

Peguei o metrô de volta. Já caía a noite. Circulei um pouco pela Calle Florida e Calle Lavalle e voltei ao hotel para dormir, pois levantaríamos às 4h 30min da manhã para voltar ao Brasil.

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