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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Escócia - West Lothian

Edimburgo

O nome da cidade é pronunciado êdimbró pelos locais.

Depois da época dos romanos, a tribo dos votadinos que morava nessa área (o Lothian) passou a ser conhecida por gododdin, resultado das miscigenações e conquistas comuns nesse período.

A primeira referência histórica ao castelo de Edimburgo (Din Eiyn ou Fortaleza de Eidyn) trata de reunião do rei Mynyddog Mwynfawr com seus guerreiros e o bardo Aneirin antes de atacar os anglos em Catraeth (hoje Catterick, em Yorkshire), no ano de 600 d.C. Na fuga para seus territórios tribais, os gododdins foram perseguidos pelos germânicos. Din Eidyn foi sitiado e tomado em 638. O lugar passou a ter o nome anglo de Eidyn burgh, com o mesmo significado.

Um castelo real emergiu no outeiro quando o rei escocês Malcolm II bateu os ingleses em 1018 na batalha de Carham, assegurando a região do Firth of Forth para os escoceses.

A cidade se espalha em volta do castelo e ao largo do Firth of Forth, uma enseada marítima. Ao pé da rocha fica um jardim enorme (o Princes Street Gardens), cortado por diversos pares de trilhos da estrada de ferro. Nesse jardim fica o Centro de Informações da cidade e diversos gaiteiros ali se exibem.

O jardim é limitado pela Princes Street, onde há um monumento alto (Scott Monument) que parece um topo de torre de catedral gótica, todo trabalhado, mas enegrecido pelo tempo. Essa Princes Street tem em um de seus extremos a catedral de St. Mary, com torres chamadas de Spires, pontiagudas e longas.

Para além dessa Princes Street vem o setor comercial da cidade, cortado por ruas retas e perpendiculares entre si, com prédios modernos e bonitos.

Como toda capital, o centro da cidade ostenta prédios enormes e pesadões.

Visitamos o Castelo de Edimburgo, uma fortaleza sobre um morro alto, dominando o local. A vista de lá de cima (principalmente da Argyle Battery) é simplesmente maravilhosa. Ao longe se vê o Firth of Forth, o braço de mar sobre o qual construíram uma ponte ferroviária em aço vermelho e formato de bolas de futebol americano alinhadas. À noite ela é iluminada e fica superbonita.

Dentro do castelo alguns museus: o militar, o dos fuzileiros navais etc. Numa torre, na Crown Square, estão as jóias da Coroa (ali chamadas Honours of Scotland), compostas de uma coroa de ouro e pedras preciosas sobre um veludo vermelho, uma espada toda em ouro, um cetro de ouro com uma pedra preciosa do tamanho de um ovo no topo, colares, anel. Algumas dessas jóias foram presentes de Papas aos reis Jaimes IV e V.

Essa ala do castelo era residência dos reis da dinastia Stewart. Nela está o quartinho onde a rainha Mary de Scots deu à luz ao rei James VI em 1566.

Outro cômodo lindo no castelo é o Salão Nobre, onde ocorriam as grandes cerimônias no castelo. Ali estão expostas armaduras e armas medievais. Na extremidade oposta à porta está uma lareira de pedra, em cujo topo estão esculturas em estilo greco-romano.

O teto é em madeira escura e nele estão esculpidas figuras. Várias peças nesse teto são pintadas em cores vivas.

A capela de Santa Margaret é o edifício mais antigo que sobreviveu do castelo medieval. Foi construída a mando do rei David I (1124-1153) e dedicada a sua mãe Santa Margaret, que morreu no castelo em 1093 e foi levada a Dunfermline, onde recebeu sepultura.

No castelo há uma área usada como cemitério dos cães que serviram na guarda real.

Ao lado da Capela de Santa Margaret fica exposto o Mons Meg, um canhão feito em 1457 e que tem uma boca larga. Foi presente de casamento dado ao rei James II. Ele foi feito em Mons, hoje na Bélgica em 1449. Atirava bolas de aço de até 150 quilos.

Pelos meados do século XVI ele se tornou um canhão usado apenas para salvas de tiro, pois era de muito difícil manejo nas guerras. Sua última salva de tiros foi em 1681, saudando o nascimento do futuro rei James VII (ou James II, na Inglaterra).

Junto ao Mons Meg ficam as Prisões Francesas, para onde muitos dos jacobitas foram mandados em 1746. Também ali ficaram os prisioneiros da Guerra dos Sete Anos, entre França e Inglaterra (1757-1763).

Na Mill's Mount Battery fica o canhão que todos os dias (exceto no domingo) abre fogo exatamente à uma hora da tarde. Serve como cronômetro para os moradores das vizinhanças.

À noite assistimos a um espetáculo que não pode ser perdido: o Military Tattoo. Várias bandas marciais do Reino Unido e colônias tocam e executam coreografias complicadíssimas, entrelaçando-se em diversos ângulos. Os gregos tocaram o Zorba e marchavam no ritmo. No final, saíram em passos curtíssimos e rápidos. A platéia delirou! Os jamaicanos, com os tradicionais tambores de gasolina, sambavam. Era uma zona aparente. O comandante do batalhão parecia mestre-sala de escola de samba. Outro delírio! Mas a base do espetáculo são as bandas de gaitas de fole.

No meio teve um showzinho hollywoodiano mostrando a SWAT inglesa em ação, descendo por cordas do topo do castelo para enfrentar uma rebelião (do IRA, talvez). Muito som de tiros, helicópteros.

A parte alta da cidade nas proximidades do castelo é chamada de Royal Mile, em torno da High Street, rua que sai do portão do castelo. Nessa área fica o Scottish Whisky Heritage Center, onde são exibidas centenas de marcas de whisky escocês e como ele é feito.

Também na Royal Mile fica a Câmara Obscura, uma apresentação holográfica da cidade.

Ali pertinho fica a Deacon Brodie's Tavern, assim chamada em homenagem ao diácono Brodie, um vereador da cidade que era um respeitável de dia, mas à noite se transformava em jogador, assaltante de casas e ladrão. Acabou na forca. Baseado nele Robert Louis Stevenson escreveu o romance Jekyll e Hyde, o médico-monstro.

Também nessa área fica a Catedral de São Giles, a High Kirk of Edinburgh. Ela é uma reconstrução de uma igreja que ali foi ereta em 1150 pelos monges de São Giles. E a casa em que morava John Knox, fundador da Igreja da Escócia (perto de Netherbow Gate).

John Knox foi o responsável pelos conflitos religiosos que se seguiram ao assassínio do cardeal Beaton em 1546, morto por escoceses em seu castelo de St. Andrews pouco depois do reformista George Wishart (a quem Knox admirava) ser executado à morte na fogueira. Ali Knox começou sua cruzada contra o papismo.

Em 1559 ele foi indicado ministro da igreja de São Giles.

Defronte a High Kirk fica um largo para pedestres. Dali partem os passeios noturnos pelo lado negro da cidade, onde são contadas histórias sobre crimes, bruxas, feiticeiras, bem como visitados os lugares onde eles ocorreram.

Um dos temas dominantes de Edimburgo é a feitiçaria. Durante 250 anos, entre 1479 e 1722, não menos de 17.000 pessoas foram torturadas e executadas como bruxos ou bruxas.

As torturas eram crudelíssimas. Ferros quentes, roda, botas de aço que eram aquecidas e resfriadas seguidamente ... Em 1644 Agnes Finnie foi condenada por isso.

Um garoto passou por sua casa em Potterow dizendo nomes feios. Ela enfurecida com os insultos disse que ele iria ficar manco. Poucos dias depois o garoto agonizava de uma paralisia que começou em sua perna. Logo se levantou uma chuva de acusações contra ela, todas envolvendo má fortuna e morte e ela foi levada à morte na fogueira.

Outra história conta que cinco rapazes de Edimburgo estavam caçando coelhos no morro conhecido como Arthur’s Seat numa tarde de verão em 1846. O cachorro deles começou a cavar e destapou a entrada de um covil. Dentro estavam 17 minúsculos caixões arranjados uns sobre os outros em três camadas. Dentro de cada um estava um bonequinho de madeira. Alguns deles estão expostos no National Museum of Antiquities, na Queen Street.

Também em Edimburgo vivia o prefeito Thomas Weir (nascido em Carluke em 1599) e sua irmã Jean. Ele havia servido na Irlanda e foi capitão na Edinburgh’s City Guard. Comandava esse corpo policial em 1650. Eram tidos como pessoas muito piedosas e ele pregava para a comunidade. As mulheres do grupo chamavam-no de Angelical Thomas. Em 1670 ele confessou a amigos que vivia uma vida dupla em um de seus sermões. Confessou incesto com sua irmã. A comunidade tomou isso como insanidade temporária de Weir, mas a notícia se espalhou, principalmente porque na hora da confissão estava presente o reverendo John Sinclair. Sinclair tinha inveja mortal da capacidade oratória de Weir e viu na ocasião a chance de prejudicar seu desafeto. Eles foram absolvidos da acusação de bruxaria, mas foram levados à forca na Gallow Lee (perto de onde está hoje o Playhouse Cinema). Jean tentou arrancar suas roupas antes da execução, mas o carrasco não permitiu a indignidade.

Estas e outras histórias estão no livro Strange Tales of Old Edinburgh, de Ian Ansdell.

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