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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Espanha - Andaluzia

Granada

Chegamos a Granada, a Ilíberis romana, uma cidade de porte médio, com ruas largas e boas de dirigir.

O ponto alto dali é seguramente a Alhambra. No alto da cidade, leva-se uns vinte minutos a pé para subir até sua entrada.

A Alhambra (do árabe al-cala hamrá, castelo vermelho) é uma área amuralhada enorme, que abriga a medina (cidade), a alcáçova(fortaleza), o alcácer(palácio) dos Nasries, as ruínas do palácio dos Abencerrajes, o palácio de Carlos V (hoje museu de belas artes) e o palácio da Generalife.

Embora já existente no século XI, ela só foi residência real no século XIII. Os primeiros reis granadinos (os zíries) tiveram seus castelos nas encostas da colina do Albaicin. Os emires nasries começaram a restauração da velha fortaleza. No tempo do rei Iusuf I se iniciou a construção do palácio real.

A partir de 1492 o sítio virou corte dos Reis Católicos e muita coisa da edificação original foi alterada.

O castelo tem por fundo os picos sempre brancos de neve da Sierra Nevada.

A alcáçova é simples, mas de suas torres se tem uma visão espetacular da cidade espalhada aos pés das colinas. Dali se vê seus principais edifícios, como a Catedral, a Praça Nova etc. Dali se vê também o recinto que serviu de masmorra e o pátio da fortaleza.

Uma jóia rara é o palácio dos Nasríes. Ele é todo formado de figuras geométricas. As piscinas e jardins têm forma quadrilátera, a torre principal é cúbica e os arcos das colunas são curvilíneos. Nas paredes há o constante bruxulear do reflexo do sol sobre as piscinas. De todos os cantos se ouve o som de água caindo das incontáveis fontes. As águas entram nas piscinas sem provocar ondas ou perturbar a placidez do espelho de água. Os pátios são grandes e claros, geralmente com uma piscina no centro. No passado, flores e árvores aromáticas eram plantadas junto às paredes. Hoje essa flora foi substituída por corredores de mármore.

As janelas que dão para o pátio são recobertas por gelosias (grades finas de madeira trançada), de forma que as mulheres pudessem ver o pátio sem serem vistas.

As portas que levam dos pátios aos recintos são construídas de modo a formar três áreas gradualmente mais escuras. Nas laterais das portas há nichos onde eram colocadas flores. Em muitas portas, os arcos eram feitos de miríade de cones de cabeça para baixo, como estalactites, feitas de gesso.
As paredes são recobertas de azulejos até a altura de metro e meio. No restante há profusão estonteante de rendilhados e versos em árabe. É incrível e indescritível. Só vendo para apreciar.

Na Alhambra, o palácio contém as três áreas usuais de um palácio muçulmano: o mexuar (sala de audiências públicas e administração de justiça), a residência real (aqui o Cuarto de Comares ou Serrallo) e o harém (na Alhambra, o Cuarto de los Leones).

Entra-se pelo mexuar, que no período católico foi reformado para virar uma capela. Todavia muito do original acabou sobrando. Ao fundo do mexuar há um nicho voltado para Meca. Seu interior é todo rendilhado e suas janelas oferecem uma vista linda da cidade.

A sala de La Barca (do árabe baraca, saudação ou bênção) leva à Sala dos Embaixadores, onde o emir recebia as credenciais dos embaixadores. Ela é rodeada por doze saletas com janelas, onde ficavam os conselheiros do emir. No chão há uma área que é proibido pisar. Nela estava, no passado, escrito o nome de Alá. O teto dessa sala provoca um efeito mágico, pois vai se inclinando por patamares até um oco circular cheio de moçárabes. Cada nível de teto ou moçárabe representa um dos sete céus do Corão.

Dali se passa ao pátio do Quarto Dourado, onde o sultão dava suas audiências públicas. Segue o Pátio dos Leões, com uma fonte central sustentada por leões de pedra de cuja boca verte água. Nos extremos do pátio estão dois pequenos avancées, com frontispício rendilhado. A água da fonte por quatro canais perpendiculares, simbolizando os quatro rios do paraíso islâmico, que rega os quatro cantos do mundo.

Nas laterais do pátio ficam a sala dos Abencerrajes, a sala dos Reis e a sala das Duas Irmãs, todas elas com paredes belissimamente decoradas. Na sala dos Abencerrajes há uma fonte cujo fundo está manchado com ferrugem. Diz uma lenda que o sultão Boabdil (apelido de Maomé XI, 1486-1492) encontrou no Generalife sua favorita Soraia de amores com seu aparentado Amed, da família dos Abencerrajes. Fulo de raiva, mandou decapitar cada um dos membros dessa família. A sentença foi executada nessa fonte e a água, ao cair para a cidade baixa, vinha avermelhada. Dizem que um rio de sangue jorrou da Alhambra.

A sala das Duas Irmãs foi feita para impressionar os visitantes, tão luxuriante são os rendilhados de sua decoração.

A seguir se passa pelos aposentos de Carlos V, bem mais recentes, pelos banhos árabes (que estavam em reforma), por um corredor de onde se vê abaixo a cidade e, por fim, pelo Partal, outro palácio (mais antigo) do qual só restou um grande espelho de água e um pórtico.

Da Alhambra se vai rodeando a muralha até o Generalife (do árabe gennat alarif, jardim do arquiteto). O conjunto é formado por um jardim de ciprestes aparados para formar pequenos interiores quadrados. No meio, um comprido espelho de água quebrado por fontes. Ao fim do conjunto a torre de La Vela e o Pátio da Canaleta (onde um sistema gravitacional lança jatos de água para cima, caindo dentro da canaleta.

Na cidade fica a Catedral construída em 1505. Seu interior é gigantesco, assim como as grossas colunas que sustentam o altíssimo teto. Tudo muito claro. Há capelas laterais, mas nenhuma com decoração muito trabalhada. No centro há dois conjuntos enormes de tubos do órgão. No altar, uma cúpula de prata maciça, sustentada por seis colunas. Atrás, no alto, coloridos vitrais. Em cada lado estão dependurados dois turíbulos enormes.

No topo da parede sobre a porta principal, uma estela de cores amarela e vermelha.

Perto fica a Capela Real, com os sepulcros em mármore dos Reis Católicos (Fernando e Isabel), Felipe, o Belo, e sua esposa Joana, a Louca (que viveu no mosteiro de Tordesilhas) e do infante Miguel. Abaixo do sepulcro, na cripta, estão os caixões com os restos deles. No museu da capela ficam a coroa da rainha Isabel, seu cetro e a espada de D. Fernando. Há também outros objetos religiosos ligados ao casal.

Em Granada assistimos a um espetáculo de fandango, um ritmo derivado da música litúrgica bizantina. Muito sapateado, palmas (um ritmo difícil de acompanhar), caras bravas (tópicas dessa dança) e uma música meio gritada e lamuriante.

 

Segue Málaga ...

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