No dia seguinte fomos trocar de carro e nos dirigimos a Saint Joseph, a 80 km de Kansas City. Lá visitamos primeiramente a casa onde foi morto Jesse James, assassinado por seu liderado Bob Ford. Na bilheteria você recebe um aparelho como um telefone e quando se vira para pontos marcados, esse aparelho sintoniza um áudio que vai explicando o que você está vendo.
Conta-se que Jesse James estava desarmado para não chamar a atenção dos vizinhos, que o conheciam por outro nome. Bob Ford, então com 20 anos, e um seu primo se interessaram pela recompensa que o governador ofereceu por Jesse, vivo ou morto, a quantia de 10 mil dólares e o perdão pelos crimes. Eles fingiram estar com medo de voltar para casa deles e se hospedaram na de Jesse. Então, quando Jesse estava pregando um quadro na parede, Bob chegou na janela, pelas costas de James e acertou um tiro na cabeça dele. O governador não quis pagar o prêmio e mandou processá-lo por ter atirado em um homem desarmado. Condenado, recebeu o perdão do governador à última hora.
Bob abriu um bar e dez anos depois foi assassinado por um admirador de Jesse James.
Do bando de Jesse também participava seu irmão Frank, um ávido leitor de Shakespeare. Frank se entregou ao governador e cumpriu pena de vários anos. Saiu da prisão e morreu bem velho nas primeiras décadas deste século.
Ao lado da casa de James visitamos o Pattee House Museum, fundado em 1858 como hotel de luxo. Ele serviu três vezes como hotel , duas vezes como colégio para meninas e por 80 anos como fábrica de camisas.
Durante a Guerra Civil, foi escritório do exército ianque. O Secretário de Estado de Lincoln, Seward, falou de um dos balcões a uma platéia hostil.
Foi quartel general da Pony Express, pois aqui seus fundadores (Russel, Majors e Waddell) tinham seus escritórios.
Desde 1965 a Pattee House é um museu onde se vê uma réplica de uma cidade antiga (esta, contudo, está dentro do museu e não ao ar livre), com banco, cadeia, barbearia etc. Há também uma velha locomotiva com dois vagões, tudo bem asseado e lustroso.
Na cadeia eram exibidos revólveres antigos, recortes de jornais contan-do histórias de fascínoras do início do século. Um era Mark Dunn, condenado à morte, que recebeu um latão de querosene de sua irmã. No fundo falso haviam duas pistolas, com as quais ele fugiu, matando dois ajudantes de xerife. Foi recapturado e enforcado em 1904.
Noutro recorte de jornal se lê que Miss Mary Hammer, uma senhora de 83 anos foi encontrada morta e cheia de ferimentos no curral de sua fazenda. Acreditava-se que tivesse sofrido um ataque cardíaco e sido pisoteada pelos animais.
Tempos depois um bandido (Columbus MacCrary), capturado ao tentar passar duas notas muito antigas em St. Joseph, confessou que matara a velhinha com golpes da muleta dela e roubara suas economias.
Do museu fomos ver as estrebarias do famoso Pony Express, uma empresa que se formou em abril de 1860 sob a promessa de um deputado do Kansas de conseguir subsídios federais. A empresa deveria funcionar como correio, posto que as encomendas então iam de navio pelo Canal do Panamá ou contornando o Cabo Horn, levando muito tempo para serem entregues. A Pony se programou para entregar suas cargas em 10 dias entre essa cidade de Saint Joseph e a cidade de Sacramento, na California, para onde a corrida do ouro levou cerca de 3 milhões de pessoas, que queriam um canal rápido e constante de notícias e despachos de cargas (ouro para o leste, bens e produtos para o oeste). Era uma distância de 3.200 quilômetros.
No inverno a carreira demorava de 14 a 16 dias. A Pony montou vários postos no caminho, comprou 500 cavalos de raça e passou a contratar pessoas (preferencialmente jovens menores de 18 anos, órfãos e dispostos a arriscar a vida diariamente). O cartaz que pedia empregados era bem claro:
que se traduz por: Procura-se pessoas jovens, magras e fortes. Devem cavalgar bem e serem capazes de enfrentar a morte a cada dia. Dá-se preferência a órfãos. Salários de 25 dólares semanais. Inscreva-se no escritório da Pony Express.
Um dos contratados foi o famoso Buffallo Bill. A primeira equipe a fazer o trajeto era composto de John Fry, Theodore R. Ranahan, Richard Erastus; "Pony Bob" Haslam, Warren Upson e Billy Hamilton.
Os cavaleiros partiam em disparada de um posto a outro, normalmente distantes de 120 a 160 quilômetros um do outro. Ali passavam a correspondência para outro cavalo e retomavam o trajeto até que chegassem ao posto onde passavam a carga a outro cavaleiro. Eram três trocas de cavaleiros no trajeto. O tempo médio de cada troca era de 3 minutos. A empresa se extinguiu com a chegada do telégrafo em 1861 e, depois, a ferrovia.
Neste museu do Pony Express há um painel em semicírculo mostrando a paisagem de cada trecho da viagem: pradarias, desertos, as Rochosas. Para tornar mais clara a mudança, há no teto um aquecedor elétrico que faz o espectador sentir calor quando está defronte da paisagem do deserto. Adiante, um refrigerador torna frio, gelado, o painel em que é mostrada uma nevasca nas Rochosas, enquanto jogos de luzes reproduzem os raios nos painéis das tempestades do deserto.
O caminho era muito perigoso. Além dos índios, aquilo era um território nascente, sem infra-estrutura. Um dos cavaleiros se viu a meio a uma enchente de verão que apagou a trilha por onde ele iria passar. Com isso, ele por pouco não se perdeu e morreu de fome e sede. Outro enfrentou uma borrasca nas Montanhas Rochosas e também quase morreu.
Na tarde do mesmo dia fomos para Weston, que deveria ser uma cidadezinha de pioneiros, mas já se modernizou. Nela está uma casa que foi de Daniel Boone.
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