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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - França - Provence - Alpes - Côte d'Azur

AVIGNON

Dia 13. Fomos visitar a cidade de Avignon, que por alguns séculos substituiu Roma como sede da Cristandade.
Começamos pelo majestoso Palácio Papal. Dizem tratar-se do maior edifício gótico da cristandade.
A visita começa por um pátio interno quadrado. Suas paredes são de concreto, com algumas aberturas para portas no térreo e janelas no segundo andar. Por uma desta janelas, o Papa costumava dar a tradicional bênção urbi et orbi aos fiéis reunidos no pátio. No dia de nossa visita, o pátio estava tomado por arquibancadas de madeira e palcos, pois iria hospedar um festival de música. Percorre-se o edifício, passando ao lado da Sala do Concílio (hoje selada), pela a sala dos julgamentos, onde teriam sido conduzidas sessões do Santo Ofício, os aposentos papais, o consistório, a Grande Capela e a sacristia que abriga os cenotáfios papais, réplica dos túmulos papais que pontificaram em Avignon.
O Papa Bonifácio VIII recebeu em Roma reclamações de que os mosteiros estavam sendo taxados de modo indevido e emitiu em 1296 uma bula (Clericis laicos) condenando os senhores que cobravam impostos indevidos, sujeitando tais tributos à aprovação da Santa Sé. O rei Felipe o Belo tomou isso como invasão nos assuntos de Estado. Embora o Papa tenha emitido outra bula (Etsi de statu) esclarecendo que isso não se referia aos direitos senhoriais e que podiam ser cobrados diante de uma emergência, os ânimos continuavam quentes.
Depois de complicações que envolvem a captura, por Filipe, do bispo Bernardo Saisset, defensor do papa, o conflito reacendeu-se. Em dezembro de 1301, Bonifácio enviou a Filipe a bula Ausculta fili ("Ouça, Meu Filho"), defendendo a supremacia papal. Muitos historiadores sugerem que, em 1301, nessa altura, Bonifácio acrescenta uma segunda coroa para si, na tiara papal, para simbolizar a superioridade da autoridade espiritual em relação à autoridade civil. A rivalidade entre os dois atingiu o seu auge logo depois, quando Filipe começou a lançar uma forte campanha difamatória contra Bonifácio. Em 18 de Novembro de 1302, Bonifácio emitiu uma das bulas mais importantes da história do papado: Unam Sanctam, onde ele declara a superioridade do poder espiritual sobre o temporal, no entanto, o documento possuiu pouca repercussão e não foi aceito pelo corpo de fé.
Em resposta, Guillaume de Nogaret, ministro-chefe de Filipe, acusou Bonifácio de ser um "criminoso herético" para o clero francês. Em 1303, Filipe e Nogaret foram excomungados. No entanto, em 7 de setembro de 1303, um exército liderado por Nogaret e Sciarra Colonna da família Colonna, surpreenderam Bonifácio em seu retiro em Anagni. O Rei e os Colonna exigiram que ele renunciasse, Bonifácio porém, respondeu que prefereria morrer. Reza a lenda que, em resposta, nessa altura um membro da família Colonna deu um no rosto de Bonifácio, que ainda é lembrado no folclore local de Anagni. Bonifácio foi espancado e quase executado, mas foi libertado da prisão após três dias por intervenção dos habitantes locais.
O Papa morreu e isso gerou revolta na população, que expulsou ambos de Roma. A cidade caiu em desordens. Para não piorar a situação, resolveram eleger Papa não um deles, como de costume, mas ao arcebispo de Bordeaux, Bertrand de Got.
Dada a situação da Itália, ele foi coroado em Lion e estabeleceu a sede pontifícia em Avignon.
A ele seguiram-se outros sete papas franceses. Urbano V tentou voltar a sede a Roma em 1367, mas não conseguiu por muito tempo e em 1370 estava de volta a Avignon. Gregório XI tentou novamente reestabelecer o Papado em Roma em 1375 e nela morreu em 1378. Su corpo foi levado à sepultura na igreja de São Vítor, em Marselha, onde fomos e ali não há traço de seu túmulo.
O conclave começou para eleger o novo Papa. O Sacro Colégio tinha então quatro italianos, um aragonês, um genovês e dezessete franceses. Neste dia, sete dos franceses estavam ausentes em Avignon. O bispo de Marselha bateu à janela que comunicava o conclave com o exterior para pedir pressa na eleição de um papa romano ou italiano, dizendo que os cardeais encerrados não sabiam o perigo que corriam, até de serem despedaçados, pois o povo enfurecido exigia um para romano ou, ao menos, italiano. O cardeal d’Aigrefeuille se dirigiu aos romanos prometendo que tal para seria eleito até o fim do dia. Depois, comentou ”melhor eleger o diabo que morrer”.
A tese de papa italiano virou axioma. O bispo de Marselha voltou a apressar os cardeais. Irritado, o cardeal Jacques Orsini gritou aos manifestantes: “ide, porcos romanos, vós nos atordoais” e depois aos soldados, ordenando que retirassem o povaréu do Vaticano.
Por fim, o arcebispo de Bari, Bartolomeo Prignano, foi eleito por treze dos cardeais, mas não foi imediatamente comunicado. Chamado ao conclave, aceitou o encargo e foi entronizado com o nome de Urbano VI. Só o cardeal Orsini se recusou a participar desta escolha constrangida. A turba, que havia bebido muito e estava impaciente, arrombou as portas do conclave.
Amedrontado, o cardeal Hughes de Montalais apontou o velho cardeal Tebaldeschi como o eleito. Ele não aceitou o papel. Montalais tentou meter à força a mitra pontifical em Tebaldeschi, que a tenta derrubar chacoalhando a cabeça. Por fim, consegue se livrar desse papel indesejado.
Os cardeais fogem, mas não se dirigem às suas casas, pilhadas pelos amotinados. Apenas o cardeal Pedro de Luna se mantém calmo. Pensa: “se devo morrer, que seja aqui”. Outro que ficou foi Bartolomeo Prignano.
Alguns cardeais se refugiam no Castelo Santo Ângelo, disfarçadamente. Outros, como Orsini e Roberto de Genebra, abandonam a cidade. Sentiu-se saudades de Avignon.
Doze cardeais voltam a Roma para entronizar o novo papa, Urbano VI, o que ocorreu a 18 de abril de 1378, dia de Páscoa. O novo papa tinha fama de santo homem, mas nenhum tato político. De início, decretou a reforma de modo de vida dos cardeais. Orsini foi taxado de maluco, Roberto de Genebra como rebelde. O cardeal Jean de la Grange, parente do rei Carlos V, que não participou do conclave, posto a par dos acontecimentos, defendeu a tese da nulidade de eleição e da necessidade de nova eleição longe dos romanos. A pretexto do calor, os cardeais saíram em pequenos grupos para a cidade de Anagni, de péssimas lembranças. Quando lá chegaram, manifestaram sua hostilidade ao Papa. Convidaram os cardeais italianos e juntarem-se a eles e o Papa a abdicar. Sem o aceite do Papa, escreveram a ele uma carta solene de 9 de agosto, assinada pelos treze cardeais não italianos, declarando nula a eleição e lançando um anátema sobre Urbano.
O Papa, vendo-se abandonado pelos cardeais, lança um anátema contra eles e designa 29 novos cardeais em 18 de setembro. Dois dias depois, os treze cardeais viventes em Fondi nomeiam um novo papa, Roberto de Genebra, entronizado como Clemente VII, que foi reconhecido pela França e pelo reino de Nápoles.
A Cristandade ficava assim com duas cabeças, no episódio conhecido como Grande Cisma do Ocidente. O concílio de Constança, em 1417, exigiu a renúncia de ambos e elegeu Martinho V como o único Papa da Igreja.
A visita passa diante da Sala do Concílio (hoje selada), a sala dos julgamentos, onde teriam sido conduzidas sessões do Santo Ofício, os aposentos papais, o consistório, a Grande Capela e a sacristia com cenotáfio réplica dos túmulos papais que pontificaram em Avignon.
Fomos ver a Catedral, conhecida pelo nome de Cathédrale Notre-Dame des Doms d'Avignon. Ela foi reerguida no século XII sobre uma igreja do século IV ali existente. Ali ficam, ficamos sabendo, o trono papal e onde estão sepultados os Papas João XXII (1316-1334) e Bento XII (1334-1342) e o antipapa Clemente VII (1378-1394). Não pudemos visitá-la, eis que estava em reformas.
Descemos em direção ao Ofício de Turismo e no caminho passamos pela Praça de l' Horloge, cheia de esplanadas dos cafés, cheias de turistas bebendo.
Ainda no caminho, paramos para visitar o Museu Lapidário, um salão grande, com lápides gaulesas, romanas e gregas, além de esculturas e ossuários destas duas últimas culturas.

Retornamos à praça do Palácio dos Papas, onde estava nosso carro. Subimos ao Jardin des Doms para ver a famosa Ponte de Avignon, para a qual foi escrita uma canção infantil, antigamente ensinada nas escolas, sobre o rio Ródano.

Segue para Orange ...

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