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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Inglaterra - Somerset

Bath

Diz a lenda que Bath foi fundada por Bladud, pai do shakespeariano rei Lear (Laoighire) cerca de 500 a.C. Certo é que em 577, na batalha de Dyrham, os saxões conquistaram Bath e ali estabeleceram um sub-reino da Mércia.

A cidade é de porte médio e cortada pelo rio Avon. Sobre ele pontes de pedra, inclusive uma delas,a Pulteney Bridge, parece mais uma casa sobre o rio, que passa sob seus três amplos arcos. Minúsculas lojas ocupam a ponte no nível da rua que passa sobre ela.

Aos pés dessa ponte fizeram no leito do rio três desníveis de cerca de um metro de altura, em forma de bumerangue, de modo que o rio se encachoeira num belo efeito visual.

Uma longa passarela vai acompanhando a margem do rio. Começa na Pulteney Bridge e desce o rio dentro da cidade. Botes ali ancoram para o embarque de turistas para um passeio pelo rio.

No centro, o rio é contido num canal, tendo de um lado essa passarela e do outro um paredão ornamentado por uma série de colunas romanas sustentando a avenida Grand Parade.

Não longe da Pulteney Bridge ficam a Catedral, o Pump Room e as Termas Romanas, numa pracinha acanhada para a magnificência desses edifícios.

O rei Osric nomeou Bertana abadessa de Bath em 676. E em 781 o rei Offa de Mércia tomou para si a administração do mosteiro local. Na abadia local, Edgar, o primeiro rei da Inglaterra unificada, foi coroado em 973, no Domingo de Pentecostes, pelo arcebispo Dunstan. A abadia abriga um museu muito interessante no subsolo. Já de cara mostra o monge Aelfridus escrevendo. À frente um fac-simile de seu escrito original (em latim) com uma traduçã o para o inglês.

Na mesma sala um túmulo de pedra aberto, mostrando os ossos de uma mulher entre 40 e 50 anos, que deve ter sido benfeitora da abadia, pois é a única mulher encontrada ali. Os demais ossos são provavelmente de monges.

Na sala seguinte há uma maquete da igreja. Apertando um botão ela é superposta por um mapa atual da cidade. E fac-similes: um trata da votação para abade. Nele aparecem frades de origem saxã (Anselmo, Alldred, Edmund...) e normanda (Martin, Richard, Robert ...). Ao lado das assinaturas aparece a ocupação deles (enfermeiro, tesoureiro...). A assinatura do frei Hugo está tremida. Talvez ele fosse muito velho ou estivesse seriamente doente. O outro é de um manuscrito em saxão, um registro de terras, acho. Adiante salas com objetos mais modernos.

A abadia atual é de 1499 e é bem menor que as outras que visitamos. Cercada de vitrais coloridos com cenas de santos e com uma infinidade de lápides tumulares no chão e nas paredes. Seu teto, com leques curvilíneos entalhados na pedra, formando rendados harmônicos, são simplesmente maravilhosos. Não é possível descrevê-los. Só vendo.

A abadia de Bath não conta com muitas capelas laterais como as outras abadias. Destaca-se nela uma placa em homenagem a Sir Isaac Pitman, inventor da taquigrafia. Na nave o único mausoléu é o de James Montague, bispo de Bath e Wells no período 1608-1615 e bispo de Winchester mais tarde.



Bem ao lado da abadia, ficam as termas de Aquae Sulis (Sulis era uma deusa celta das águas) construídas entre 65 e 75 d.C. As águas tinham um caráter religioso e cerimônias eram levadas a cabo antes da imersão. Com a partida dos romanos as termas foram se arruinando e cobertas. Escavações recuperaram tanto a piscina principal quanto as termas (onde 1,17 milhões de litros de água à temperatura de 46,5° C jorram por dia nas únicas termas da Inglaterra cuja origem não é vulcânica).





O dreno é o original e ainda leva a água das piscinas ao rio Avon, onde é despejada. Antigamente a piscina era coberta, mas o teto desmoronou e não foi reconstituído. Assim, hoje se vê uma piscina descoberta, rodeada por um edifício retangular de dois andares. A parte de baixo é uma varanda interna também retangular que circunda a piscina de águas verdes escuras e mornas. A parte de cima, uma varanda a céu aberto é sustentada por colunas. Na parte superior uma imagem de um centurião parece supervisionar a piscina.

Dali também se vê a catedral praticamente encostada às termas. Na parte de baixo, em um museu, dioramas mostram imagens do cotidiano de uma casa romana. Numa sala há uma maquete do tempo e das termas, enquanto tevês sobre a maquete vão mostrando uma reconstituição computadorizada deles. No fundo das termas foram encontradas folhas de pelter ou chumbo nas quais se escreviam pragas lançadas contra inimigos, desafetos, ladrões, etc, escritas em latim. Adiante se desce ao pátio da época, onde estão pedras com inscrições originais, em latim, é claro. Uma em louvor à deusa Sulis11, outra lápide de Gaius Calpurnius Receptus, de 75 anos de idade, marido de Calpurnia Trifosa, mulher liberta.



Em outro salão algumas lápides contam histórias sobre as pessoas que moravam na região, tais como:

  • - Julius Vitele, da 20 ª Legião Valeria Victrix, com 9 anos de serviço, 29 de idade, da tribo dos belgas;
  • Mercatilia, mulher liberta, filha adotiva de Magnus, com 1 ano e 6 meses de idade;
  • Antigonus, da tribo volante dos Sergianos, 45 anos de idade. Seu herdeiro Gavius Tiberios a ergueu;
  • Priscus, filho de Toutius, pedreiro da tribo dos Canutes;
  • Lucius Vittelius Tancinus, filho de Mantins, da tribo de Caurium, na Espanha, de 46 anos, 6 de serviço. Note-se a importância dada ao tempo de serviço. Pela legislação romana, após certo tempo nos exércitos, o soldado adquiria a cidadania romana, com todos os privilégios a ela inerentes, tais como receber pensões, de ser julgado pelas leis de Roma, poder recorrer ao imperador contra sentenças injustas, eleger e ser eleito para cargos públicos, inclusive o de César. Vários imperadores vieram das províncias.

A cidade foi também um centro de elegância desde o século XVIII. A melhor imagem disso é a praça chamada Circus. Nela, prédios de três andares acompanham o círculo da praça, formando um anel amarelado, de linhas clássicas, ímpar na Inglaterra. Os fundos desses prédios são áreas gramadas. Do alto parece um alternador elétrico.

As ruas que saem do Circus (Brock St. e Gay St.) são ladeadas por edifícios no mesmo estilo.

O auge da elegância na sociedade de Bath começou quando Richard "Beau" Nash chegou à cidade em 1705. Jogador e paquerador, foi logo um sucesso na cidade. Chegou a Mestre de Cerimônias do governo local. Incentivou a Câmara de Comércio local a consertar as ruas e regular o uso das carruagens. Proibiu o uso de espadas e botas de montaria no salão de baile. Escreveu um conjunto de regras de civilidade, que foram rapidamente aceitas pela sociedade, então enriquecida pelos lucros de navegação fluvial e sedenta de novidades. A etiqueta passava obrigatoriamente pelas vestimentas. Uma pessoa mal trajada seria certamente convidada a deixar os locais públicos, tais como salões de baile, igrejas, casas de chá.







11 Deae Suli L[ucius] Marcius Memor, harusp[ex] dono d[edit]. Ou, "À deusa Suli, doado por Lucio Marcio Memor, advinho".

 

Rica, Bath também passou a atrair companhias musicais e teatrais de renome. Óperas eram encenadas. Os oratórios de Haendel eram frequentemente dirigidos por Alexander Herschel, irmão do famoso astrônomo William.

Beau Nash morreu em 1761, com 86 anos, sem levar a elegância com ele. Já há anos vivia com Juliana Popjoy, sua última namorada.

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento das pedreiras na redondeza gerou uma febre de construção na cidade. Aí entrou o gênio arquitetônico de John Wood, que estabeleceu as bases georgeanas da arquitetura local. São de sua prancheta o Royal Forum, o Circus, o Imperial Gymnasium, os Parades. A ele seguiu Ralph Allen, criador do Prior Park em Combe Down (mansão com colunas coríntias gigantes) e John Wood Jr., que criou o Royal Crescent, os Upper Assembly Room (um imenso salão de bailes na Bennett St.) e os Old Royal Baths (onde os reis vinham se banhar).

Para quem gosta de arquitetura clássica, Bath é destino obrigatório. Bath é a única cidade inglesa que tem o status de Patrimônio da Humanidade.

Segue Bristol ...

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Criado e administrado por Marco Polo T. Dutra P. Silva

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