ícone carta
Contate-nos
ícone
Receba notícias
ícone lupa
Pesquise no site
adicionar aos Favoritos
Gostou? Adicione aos Favoritos!

CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Inglaterra - Cúmbria

As Muralhas de Adriano

muralhas de Adriano

Ao norte de Carlisle estão as Muralhas de Adriano, construção de uns 2 metros de espessura que cortava o norte da Inglaterra de costa a costa, numa extensão de cerca de 120 quilômetros.

Seu lado oriental fica nas proximidades da fronteira entre as tribos celtas dos brigantes e dos votadinos. Servia para proteger a Inglaterra de ataques isolados dos pictos, hábeis charreteiros e principalmente como posto de fronteira, desarmando aqueles que quisessem entrar na Inglaterra.

Elas foram construídas entre os anos 120 e 128 da Era Cristã, embora os romanos já dominassem a área desde 80 d.C.

Ao contrário do que se propagava, elas foram construídas pelos soldados das três legiões da província (a Secunda, baseada em Caerleon; a Sexta, de York; e a Vintegesima, de Chester) e não por escravos. Aliás o uso de escravos para tal fim era prática totalmente desconhecida pelos exércitos romanos.

De milha em milha o muro tinha uma casinha de guarda e de tanto em tanto um forte (do qual há uma réplica em Vindolanda).

Os soldados, que ali serviam, vinham das províncias e treinavam nativos locais para servirem no exército romano. No Museu Britânico de Londres há uma placa de bronze de 17 de julho de 122, certificando privilégios a Gemellus, filho de Breuncus (nomes poucos latinos), que se aposentou na época do governador Pompeus Falco da Britania. A placa foi achada em Pannonia (Hungria), para onde o soldado se retirou aposentado. No museu de Chester está exposto um fac-símile dessa placa.

No forte romano de Richbourough (sul da Inglaterra) a especialista de plantão contou que no Museu Britânico há carta de um soldado sírio que servia nas Muralhas pedindo à família que mandasse meias de lã para suportar o frio de Cumbria/Northumbria.

Como os pictos permitiam longos períodos de sossego aos romanos, a atividade principal dos fortes certamente eram os jogos, que serviam de treinamento aos soldados, principalmente aos recrutados nas populações vizinhas ao muro. Nenhuma das correspondências achadas em Vindolanda se referem a ações bélicas contra os nativos. Muito dos soldados se ausentavam por meses em outras regiões mais problemáticas do império e suas mulheres aproveitavam para uma intensa vida social.

muralhas em Cawfields

O estabelecimento dos romanos afetou seriamente a vida dos nativos celtas. A região urbanizou-se. Os soldados romanos eram relativamente bem pagos, atraindo mercadores, sacerdotes e moçoilas procurando casamento. A agropecuária local progrediu. Por outro lado, o exército impunha a Pax Romana, acabando com a constante beligerância tão cara à cultura celta, que apreciava a morte em combate. Também há registros de rapinagem e violências cometidas por soldados, mesmo em período de paz.

Embora esteja parte submersa na terra e parte destruída, ainda 2.000 anos depois se vê a fileira de pedra serpenteando por sobre as colinas. Quatro pontos da muralha são magníficos: Birdoswald, Greenhead, Walltown Crags e Cawfields. O melhor museu das Muralhas está em Vindolanda. Em Birdoswald a muralha e as fundações do forte estão bem conservados. Há um museu nele também.

Perto de Greenhead há um pedaço das muralhas sobre um declive quase perpendicular que acaba em uma matinha.

muralhas em Cawfields

Outro ponto impressionante é Cawfields. Ali ficava um dos portões da muralha, por onde os habitantes da terra dos escotos entravam no país britânico-romano para comerciar, visitar parentes etc. Fundações enormes e quadrilaterais indicam que ali ficava um edifício de triagem dos imigrantes. Pode-se caminhar ao longo ou sobre o muro até o forte de Housesteads (distante uns 30 quilômetros dali). À frente divisa-se um amplo vale coberto de pastagens, gado e ovelhas. Atrás fica o "vallum", um impressionante valão duplo em linha reta. Ao norte do muro havia outro valo defensivo, exceto onde penhascos tornavam-no supérfluos.

muralhas em Cawfields

Há em South Shields (extremidade oriental da muralha) um museu fantástico, com lápides de soldados, altares a deuses romanos, etc. Em 138 d. C. o imperador Adriano morreu. Seu sucessor Antonino Pio decidiu abandonar as muralhas e construir outro muro defensivo 160 quilômetros ao norte numa extensão de 60 quilômetros ao longo do istmo de Forth-Clyde (de Bo'ness a Old Kil'patrick). São as Muralhas de Antonino. Essa ocupação durou meros 20 anos e ela foi abandonada pela de Adriano. Das Muralhas de Antonino só resta um longo fosso.

Mais duas décadas e os problemas começaram. Tribos do norte invadiram a Britânia e mataram um general romano e seu exército. Um novo governador, Ulpius Marcellus, foi enviado e depois de quatro anos logrou trazer a paz à região. Em dezembro de 192 o imperador Commodus foi assassinado e Clodius Albinus, governador da Britânia liderou um exército ao continente, reclamando o trono imperial. Foi derrotado por Septimus Severus (depois imperador) perto de Lyon em 197.

Um novo governador encontrou os caledônios e os metas prontos para a guerra. Incapacitado de montar uma ofensiva, resolveu pagar pela paz. Isso estimulou os pictos e a região esteve em estado de beligerância por mais de dez anos. Em 208 Severus trouxe dois filhos à Britânia e seus exércitos se impuseram sobre as tribos fronteiriças. Quando o imperador morreu em York em 211, as duas tribos estavam novamente em pé de guerra. Os filhos do finado imperador fizeram tratado de paz com os amotinados, evacuaram o território deles e retornaram a Roma.

Pequenas e frequentes escaramuças de fronteira continuaram ocorrendo até que em 297 os pictos começaram a se tornar uma tribo forte e o estado de guerra constante perdurou até 367, ano em que o conde Teodoro restaurou a ordem. As muralhas foram consertadas. Mas em 382 os pictos, ajudados por irlandeses do Ulster (os escotos) invadiram novamente a Britânia e foram repelidos pelas tropas do governador Magnus Maximus, pouco antes de ele cruzar o canal da Mancha numa frustrada tentativa de obter a púrpura imperial. As muralhas caíram na obscuridade daí em diante.

Em 407 o governador das Ilhas, Constantino III, se proclamou imperador e levou seu exército em direção a Roma. Logo depois os romanos voltaram ao continente, deixando a administração da terra para os celtas britânico-romanos que nela moravam.

forte em Birdoswald

Segue para Lindisfarne ...

Índice da Inglaterra



Criado e administrado por Marco Polo T. Dutra P. Silva

® Site registrado na Biblioteca Nacional desde 2003. A reprodução de partes de artigo é permitida desde que informado o título dele, seu autor e o endereço da página web correspondente.