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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Irlanda

O Anel de Kerry

A paisagem muda à medida em que se aproxima do condado de Kerry. As montanhas aparecem, cobertas de pedras. São altas, bonitas. É a Minas Gerais da Irlanda.

Passamos por Killarney (Cill Airne). Se você quiser uma cidade linda na Irlanda, vá a Killarney, a Aspen local. Parece Petrópolis, Campos do Jordão ou as cidades da serra gaúcha.

Dali seguimos numa estrada estreita, serpenteante, subindo a serra. Passa-se por uma pontezinha sobre um riacho que desce a serra em cascata, rumo ao lago Lough Leane, perto de Killarney. Ali paramos para ver o vale do Leane à frente.

Centenas de pedestres e ciclistas disputam o exíguo espaço das pistas com os carros. Fossem os motoristas nervosos como os brasileiros, haveria morte às pampas. Os motoristas são pacientes com as freqüentes paradas e com os carros lentos.

Chega-se a um belvedere chamado Ladies View, onde se vê o vale do lago Upper Lake ao fundo, lá em baixo.

A seqüência natural da estrada é o Anel de Kerry. Uma estrada estreitíssima, disputada com ônibus enormes, circunda a península. Em alguns pontos se pode ver o mar quebrando nas pedras, tendo como fundo montanhas altíssimas, recortadas por fazendolas divididas por muros de pedras empilhadas. Nas encostas, ovelhas pintadas de azul, vermelho, verde.

Passa-se pelo lindo vilarejo de Sneem e pelo forte neolítico de Staigue, o mais bem conservado da Irlanda do Sul.

A estrada segue circundando a linda baía de Ballinskelligs. Perto de Waterville existe um belvedere onde se pode estacionar para apreciar o cenário, que é fantástico quando ensolorado.

No fim da península fica a ilha de Valentia, ligada à Irlanda por uma ponte de uns 200 metros, no vilarejo de Portmagee. Há um cruzeiro para ver de perto as Skellig Islands, mas o barco só sai duas vezes por dia, a primeira de manhãzinha e a segunda ao meio-dia, para uma viagem de 3 horas em volta do arquipélago. Há botes particulares em Knights Town que também fazem a volta.

Na entrada da ilha está o Centro de Informações e nele o Skellig Experience, mostrando tudo sobre o arquipélago.

As duas rochas chamadas Sceilig, palavra encontrada num texto antiquíssimo chamado Glossário de Cormac e cujo significado é dado como "lasca de pedra". O nome da ilha de Scilly na Cornualha, parece ser um cognato de Sceilig. As rochas são montanhas cuneiformes que emergem do mar. Estão a mais de dez quilômetros da costa e geralmente as ondas nelas quebram com violência. Trata-se de um paraíso para aves marinhas. Pelo menos umas sete espécies são comuns nela (gannets, kittiwakes, herring gulls, fulmars, razorbills, guillemots e puffins).

A maior das rochas, a Sceilig Mhichil (Skellig Michael em inglês ou Rocha de Miguel) tem 215 metros de altura e sua história mergulhada nas brumas do período mitológico.

Dizem que a rocha foi o local de sepultamento de Ir, filho de Milesius (o rei celta da Espanha). Ele teria remado com tal força que desmaiou e morreu no dia seguinte (do livro Leabhar Gabhala, lévar gavala, o Livro das Invasões). Além de Ir, uma sua irmã de nome Fial (esposa de Luigheach) também morreu de fatalidade, de vergonha por se banhar num rio.

De real, o relato mais antigo é de 490, quando Duach, rei de Munster Ocidental procurou refúgio em Skellig, perseguido pelo rei de Cashel.

Acreditam que Skellig Michael era local de rituais druídicos, mas não há evidência real disso. Parece sim ter sido outra imitação do mosteiro de São Miguel na Bretanha (França), como o de Marazion (na Cornualha). O nome indica isso.

Por volta de 600 d.C. se fundou um mosteiro na ilha. É na realidade um conjunto de seis casas no formato de um forno de carvão ou iglu de pedra ("beehive", colméia, é como chamam-no na Irlanda), cada um com uns dois metros de altura e uns quatro de diâmetro.

Para chegar a ele dever-se-ia tomar um barco na Valentia Island, desembarcar na enseada de Blind Man e subir por uma escadaria cavada nas pedras, pois o mosteiro fica a 160 metros do nível do mar. Todavia, para preservar as "iglus", a visita de turistas está proibida e o barco se limita a contornar as ilhas.

Em Skellig foi martirizado Suibhni em 790. Em 812 e 823 os viquingues noruegueses atacaram o mosteiro. Nesse último assalto, levaram Eitgall, que morreu de fome e sede nas mãos deles.

Os Anais de Ulster falam dos abades Flann MacCellach (falecido em 882). Os Anais dos Quatro Mestres registram abade Blathmach (falecido em 950) e Aech (falecido em 1040).

Conta-se que Olaf Trygveson foi batizado na Sceilig no ano seguinte em que seu pai, rei da Noruega, foi vencido e morto. Olaf voltou à Noruega, onde assumiu o trono e introduziu o cristianismo por lá. Os suecos e dinamarqueses se levantaram contra ele, que acabou morto em 1000 d.C.

Uma pedra inscrita em caracteres rúnicos foi achada em Beginish, no Porto Valentia, no ano de 1945, levando a se crer que nos anos 1100 os escandinavos habitavam Iveragh.

O mosteiro foi ampliado no século XI com a adição de uma igreja. Nele foram instalados monges beneditinos e augustinianos trazidos do continente, quando da reorganização diocesana da Irlanda.

Com um período de feroz atividade do Oceano Atlântico, a ilha foi definitivamente abandonada.

Perto de Knights Town, no outro extremo da Valentia Islands, um farol guarda a entrada da baía. Ali pertinho há uma gruta enorme, com um borrifo de água caindo do teto dentro de uma bacia circular construída pelos moradores do local. Dentro da caverna, figuras de animais e de construções conhecidas foram talhadas pelos pedreiros locais, em homenagem a Nossa Senhora.

De Knights Town voltamos por Chapeltown até a ponte que liga a ilha à Irlanda. Os hotéis por aí são raros e disputados.

Visitamos o vilarejo de Portmagee, e descemos por uma estradinha estreitíssima para Ballinskellig (Baila an Sceilig, ou cidade da "Lasca de Pedra"). Dali pode-se ver as Skelligs. Essa estradinha costeia a baía de São Finnan e passa por um vilarejo onde teria nascido o autor de "Wild Colonial Boy", uma canção tradicional irlandesa muito conhecida por lá.

Segue para Tralee ...

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