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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Irlanda do Norte

Armagh

Seguimos para Armagh (Ard Mhacha, o Elevado de Macha), para onde São Patrício se dirigiu no século V da Era Cristã. Ele fora capturado na Inglaterra quando era garoto e vendido como escravo na Irlanda. Anos depois ele escapou do cativeiro e voltou à Inglaterra, onde tomou contacto com o cristianismo. Estudou em Roma e voltou à Irlanda (Armagh) para pregar. Ali se formou uma grande comunidade religiosa, visitada por reis, aprendizes, peregrinos. Os viquingues lá estiveram diversas vezes, pirateando e queimando. Diversos reis foram sepultados ali.

Visitamos Navan (do irlandês An Eamhain, pron. á-nâvan), que foi a sede do Sumo Rei do Ulster.

O centro local é digno de ser visto. Uma exibição audio visual em três atos (o Começo, o Mundo Real, o Outro Mundo). No primeiro tem-se uma apresentação sobre os celtas. O segundo é um museu com peças da região. No terceiro, duas telas no alto vão apresentando vários caracteres (em particular São Patrício) e um telão central, cortinado, obscurece o fundo, onde vento em panos, fumaças e cores vão dando um clima para as quatro lendas mais famosas do Ciclo de Ulster, que vão aparecendo em primeiro plano no telão central. Conta-se como surgiu o nome de Emain Macha, as tristezas de Deirdre das Mágoas, a lenda do cão de Culáinn e o roubo do gado de Cooley.

A lenda de Eamhain Macha (âuan márra, modernamente escrito Emain Macha) conta que Crunniuc, um homem valoroso que morava ao norte de Navan, viu uma mulher correndo pelos vales e colinas mais rápido que qualquer coisa que ele já tinha visto antes. E se enamorou dela. Perguntou o nome dela, mas ela se esquivou respondendo que só poderia contá-lo num outro lugar.

Anos depois, o rei dos Ulaidh (pron. úli), Conor (Conchobor Mac Nessa) convocou seus heróis e o povo do Ulster para as olimpíadas locais. Numa das provas, a carruagem real voava como o vento, mas Crunniuc começou a se gabar que sua mulher corria mais que aqueles cavalos.

Sendo informado, o rei exigiu que a moça disputasse com os animais. O marido argumentou que ela estava nos últimos dias de gravidez e pediu adiamento da corrida, mas o rei não quis saber.

Para salvar o marido ela decidiu correr e venceu os cavalos do rei. Conor, penalizado, perguntou o nome dela e ela respondeu: "Macha". Logo em seguida deu à luz a gêmeos (emain). Nessa hora ela rogou uma praga sobre os guerreiros de Ulster de que eles sofreriam de uma febre violenta cada vez que surgisse uma guerra, o que os impediria de lutar.

Há outra versão da origem do nome Emain. Havia uma rainha de nome Macha, que se casou com um rival de nome Cimbaeth neccFintain.

Essa rainha atraía seus inimigos para a floresta e ali os derrotava um a um, escravizando-os e obrigando seus povos a construírem uma fortaleza. O forte ficou parecendo um broche (eo-mhuín em irlandês antigo). Nele a dinastia de Macha reinou sobre a Irlanda por 855 anos.

A segunda lenda é a de Deirdre (Deirdriu) das Mágoas. Quando ela nasceu, o druida Cathbad profetizou que ela cresceria a mais linda das filhas do Ulster, mas que também havia nascido para a mágoa e que levaria guerreiros à morte.

Em razão dessas profecias, os guerreiros do rei Conor quiseram matar o bebê, mas o rei a desejou para futura esposa e decidiu que ela cresceria longe das vistas dos outros homens até a idade do casamento.

Certa ocasião, ela já era uma jovem e bela moça, Deirdre encontrou casualmente com Noisiu, terceiro filho na linha sucessória da casa de Uisliu. Eles se apaixonaram à primeira vista e fugiram para Alba (Escócia) com um irmão de Noisiu.

Conor ficou furioso, mas após alguns anos, mandou uma mensagem de perdão por intermédio de Fergus MacRoigh. Os amantes voltaram para o Ulster, mas num acesso de raiva o rei ordenou a seus guerreiros que matassem os irmãos Uisliu.

De desgosto Deirdre morreu. Fergus MacRoigh, irritado com a traição do rei, levou seus guerreiros para servir à rainha Medb de Connaught, entre eles Ferdia, amigo de Cú Chuláinn, das duas lendas seguintes.

A terceira das lendas é a do Cão de Culáinn.

Conta essa lenda que a irmã do rei Conor teve o filho Setanta, que em tenra idade foi para Emain como tropeiro do rei, para aprender a arte da guerra.

Embora sua pouca idade, ele era o mais forte e rápido dos seus pares.

Num dia, Conor foi convidado para uma festa em casa de seu amigo Culáinn, o melhor fabricante de espadas do Ulster. O rei levou seus guerreiros mais valentes. Setanta ficou de ir mais tarde, assim que ele terminasse seu jogo de "hurling". O hurling é uma espécie de polo a pé, jogado com uma bolinha de borracha e taco em formato de colher, no qual os participantes arremessam a bolinha num gol, como no futebol americano. Se a bolinha passar por cima do travessão, vale um ponto. Dentro do gol vale seis pontos. Os jogadores podem conduzir a bola repousando sobre o taco em até três passos. E podem fazê-la quicar sobre o taco. É talvez o jogo mais exigente em preparo físico do planeta e seu movimento lembra o futebol australiano.

Partindo mais tarde, Setanta chegou à vila de Culáinn depois que os portões tinham se fechado para a noite e Culann tinha libertado seu cão feroz, uma fera com olhos vermelhos como fogo e dentes afiados. Sem saber do perigo, Setanta entrou no cercado e foi atacado pela fera. Após uma luta renhida, embora desarmado, Setanta matou o animal.

Ouvindo o barulho da briga, os guerreiros saíram e encontraram Setanta ao lado do cão morto. O jovem guerreiro se desculpou com o dono e prometeu tomar o lugar do bicho como guardião da vila. Daí em diante passou a ser chamado de Cú Chuláinn (o Cão de Culann).

A quarta e última lenda diz que a rainha Medb e seu marido Aillil estavam na cama numa disputa inocente sobre os bens que tinham trazido como enxoval. Lá ia tudo empatado, quando Aillil se referiu a seu grande Touro Branco. Medb, muito temperamental, se irritou por estar em desvantagem frente ao marido. Tendo ouvido falar do Touro Marrom da península de Cooley, decidiu tomá-lo para completar seu dote.

Os guerreiros dela atacaram o Ulster para roubar o boi. Debaixo da praga de Macha, os soldados do Ulster estavam incapacitados de se defenderem. Apenas Cú Chuláinn estava imune à praga, por ter nascido depois do incidente. Assim, ele sozinho fez frente aos guerreiros do Connaught.

Cú Chuláinn ia matando um a um os soldados de Medb, até que essa enviou Ferdia como seu campeão.

Embora com o coração cheio de pesar, Cú Chuláinn aceitou lutar contra seu amigo e finalmente cravou sua lança no peito de Ferdia. Isso quebrou o encanto de Macha e, liberados, os guerreiros do Ulster vieram em auxílio a Cú Chuláinn e expulsaram os soldados do Connaught para sua região. Essa é a lenda do Assalto pelo Gado de Cooley (Táin Bó Cuailgne).

Nos fundos do centro de informação fica a colina que tinha o forte no topo. Os fossos estão lá, mas em cima não há sinal de construção. Ali teria sido o craobh ruadh (leia críiv rúa) ou salão vermelho, onde os reis davam suas festas e audiências.

Bem pertinho da colina fica o (lago) Lough na Shade, onde trompetas de bronze foram encontradas no fim do século XVIII. Ali também foram achados vários crânios humanos e ossos de animais. Crê-se que entre 907 e 911 d.C. pessoas eram ali sacrificadas por afogamento e que o lago era tido como sagrado.

Há duas catedrais São Patrício. A católica é mais nova e fica no topo de uma colina (a Druim Saileach ou Colina do Salgueiro). Uma longa escadaria leva até ela.

A protestante teria sido fundada em 445 por St. Patrick e foi um afamado centro de estudos monásticos. O rei irlandês Brian Boru (Brian Boroi mhe) foi enterrado em 1014 nessa catedral, conforme uma placa existente na parede exterior da igreja. Embora ela seja antiga, a história escrita dessa igreja principia no século XIX. A única coisa antiga é a lista de primazes da Irlanda, contendo a série ininterrupta desde St. Patrick. Mas não cita as fontes. Igualmente existem as listas dos abades, bispos e arcebispos de Armagh.

Dali fomos ver o St. Patrick Trian (pronuncia-se trían. É uma palavra irlandesa que tanto significa "terceiro" como "bairro"), um complexo de edifícios com uma grande exibição que junta a história de Armagh e a de Gulliver, ambas interessantes.

Uma outra ala é dedicada ao reverendo Jonathan Swift e à sua obra prima Na Terra de Lilliput, de 1726.

Há uma sala com um boneco grande, de cabeça oval e lisa. Sobre ela é projetado um filme com a cara de Gulliver contando sua história. Parece que o boneco está vivo, inclusive porque ele apresenta as expressões faciais gravadas no filme. Na frente e nos lados miniaturas do castelo e seus habitantes. Inicialmente às escuras, cada quadro é aceso quando se está falando deles.

Para quem não conhece o livro, o dr. Lemuel Gulliver embarcou em Bristol como médico do navio Antelope. A 4 de maio de 1699 o navio naufragou e o médico foi o único sobrevivente, chegando a uma ilha onde o povo tinha 1/12 avos da altura normal.

Exausto, dormiu na praia e acordou todo amarrado. Depois de negociações, foi libertado sob a condição de não sair da ilha (por razões de segurança nacional).

A ilha de Lilliput estava em guerra com a vizinha ilha de Blefuscu e Gulliver ajudou a derrotar os inimigos. Noutra ocasião ele foi acordado por gritos de "fogo no palácio do rei". Ele pegou água do mar com sua mão e apagou o incêndio, sem saber que jogar água no palácio real era crime grave. O rei condenou-o a morrer de fome, mas Gulliver decidiu ir-se embora. Vadeou o mar até a ilha de Blefuscu e lá tomou um navio de volta à Inglaterra.

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