De Machynlleth fomos para Llangollen. Visitamos a abadia do Vale da Cruz (Vallis Crucis), onde alguns restos de lápides existentes dentro da igreja mostram que ali estão sepultados corpos desde 1290, pelo menos. Foi fundada por Madog ap Gruffudd Maelor, último rei do norte de Powys, em 1201. Ele era aliado do príncipe Llywelyn Fawr (falecido em 1240) e guardava o principado de Gwynedd de ataque dos ingleses. Madog morreu em 1236 e consta que foi sepultado na abadia.
O mosteiro foi ocupado por monges cistercienses vindos de Strata Marcella. Em poucos anos os monges mostravam sua insatisfação com o abade, acusado de raramente celebrar a missa.
Durante as guerras dos galeses contra o rei Edward I (1272-1307), a abadia sofreu seriamente. Pelo fim do século, ela se enriqueceu pelo recebimento de tributos autorizados pelo Vaticano na Taxatio Ecclesiastica, de 1291.
Por essa época, os monges se envolveram com a literatura e daí saiu a Brut y Tywysogyon (Crônica dos Príncipes), entre 1282 e 1332.
Era abade nesse período o monge Adam (1330-1344). No ano de 1349 a Peste Negra se abateu sobre o vale, reduzindo o número de noviços. Durante o levante de Owain Glyndwr, novamente a abadia se colocou do lado galês e sofreu as conseqüências.
Em fins do século XV as regras de austeridade já estavam há tempos esquecidas.
As habitações dos abades eram suntuosas. Dois deles, Dafydd ab Ieuan (1480-1503) e Sîon Llwyd (1503-1527), inspiraram os suntuosos banquetes descritos pelo poeta Gutun Owain. Um outro, Robert Salisbury (1528-1534) foi acusado de perjúrio, assalto e apropriação indébita de propriedades em três condados. Ele foi deslocado para Oxford, onde passou a liderar um bando de assaltantes. Por isso, em agosto de 1535 foi aprisionado na Torre de Londres.
Com a Reforma, a abadia foi fechada e começou sua decadência. Hoje estão intactas a Casa da Capela, algumas paredes, principalmente a entrada ocidental. Do resto, só as bases sobreviveram.
Na Casa da Capela estão guardadas algumas lápides antiquíssimas. Uma delas foi reutilizada para cobrir parte da chaminé que ruíra. As lápides estão muito desgastadas e poucas permitem leitura. A maioria é de fins do século XIII.
Uma delas é de uma Eva de tal. Outra de Dyddgu.
As três melhor conservadas informam:
a) Hic iacet Gweirca filia Owenii (...) picietur (...) MCCLXXXX
ou "aqui jaz Gweirca, filha de Owain (...) tenha piedade (...) 1290".Ela provavelmente foi prima de Madog ap Gruffudd Maelor, que segue;
b) Hic iacet Madoc fil' Grifini DCI Vychan
ou "aqui jaz Madog, filho de Gruffudd, chamado Fychan".Madog foi bisneto do fundador da abadia e primo de Gweirca (acima). Foi bisavô de Owain Glyndwr, chefe do levante galês de 1401;
c) Hic iacet Ievaf a[p] Ad[dda]. Requiescat in pac[e]. Amen.
ou "aqui jaz Ieuaf ab Adda.Descanse em paz. Amém". Crê-se que seja a lápide de Ieuaf ab Adda ab Awr ab Ieuaf, poderoso senhor de terras na vizinha vila de Trefor.Seu avô Awr talvez seja aquele referido numa outra lápide, da qual só se pode ler AWR.
A uns 400 metros da Abadia de Valle Crucis está o resto de uma cruz ereta no século IX por Cyngen, último dos reis de Powys, em memória a seu bisavô Eliseg.
No pilar há uma inscrição em latim, num tipo de letra usado pelos monges da Bretanha e da Irlanda no século VI.
As crônicas conhecidas como Annales Cambriæ registram a morte de Cadell em 808 e a de Cyngen, o último rei de Powys, em 854, numa peregrinação a Roma.Com a morte deste, o reino passou às mãos dos reis de Gwynedd.
Por essa genealogia, Cyngen descenderia de Brydw, filho de Gwrtheyrn (nome galês para o chefe saxão Vortigern) e bisneto de Magnus Maximus (Macsen Wledig, ou Macsen, o Rei, em galês), um general nascido na Iberia (Espanha) e que tomou o poder na Inglaterra em 383, quando os romanos se retiraram para defender Roma, e invadiu a Gália, onde matou o imperador Grátio, mas foi dominado e executado em 388.
Pela lenda, Magnus Maximus se casou com a princesa Helen Luyddog (Helena das Hostes).
Era normal os governantes procurarem legitimar suas origens ligando-as a imperadores romanos ou a figuras mitológicas ou heróicas.
A estrada sai do vale chamado Horseshoe, caminhando por uma imensa curva (daí seu nome de "ferradura") e subindo até uma pedreira, num desnível de 400 metros.
De cima se divisa o vale todo. Carneiros pastam nas encostas. Vê-se longe dali. Essa região toda é conhecida como Snowdonia.
Segue para Llandudno ...
Índice do País de Gales
Criado e administrado por Marco Polo T. Dutra P. Silva
® Site registrado na Biblioteca Nacional desde 2003. A reprodução de partes de artigo é permitida desde que informado o título dele, seu autor e o endereço da página web correspondente.