Chegamos a Beja, a antiga Pax Julia.
A Wikipédia diz que:
Crê-se que a cidade foi fundada, cerca de 400 a.C., pelos Celtas ou mais provavelmente pelos cónios, que a terão denominado Conistorgis, e que os cartagineses lá se estabeleceram durante algum tempo. As primeiras referências a esta cidade aparecem no século II a.C., em relatos de Políbio e de Ptolomeu.
Com o nome alterado para Pax Julia, foi sede de um conventus (circunscrição jurídica) pouco depois da sua fundação, teve direito itálico e esta cidade albergou uma das quatro chancelarias da Lusitânia, criadas no tempo de Augusto. A sua importância é atestada pelo fato de por lá passar uma das vias romanas.
No século V, depois de um breve período no qual haverá sido a sede da tribo dos álanos, os suevos apoderaram-se da cidade, sucedendo-lhes os visigodos. Nesta altura passa a cidade a denominar-se Paca.
Do século VIII ao ano de 1162, esteve sobre a posse dos Árabes, designadamente no domínio dos Abádidas d a ta'ifa de Sevilha, que lhe alteraram o nome para Beja (existe outra cidade com este nome na Tunísia). Aqui nasceu o Al-Mutamid, célebre rei-poeta que dedicou muitas das suas obras ao amor a donzelas e também a mancebos homens.
No referido ano os cristãos reconquistaram definitivamente a cidade. Recebeu o foral em 1524 e foi elevada a cidade em 1517.
Conta a lenda que quando Beja era uma pequena localidade de cabanas rodeada de um compacto matagal, uma serpente assassina era o maior problema da população. A solução para este dilema passou por matar a serpente, feito alcançado deixando um touro envenenado na floresta onde habitava a serpente. É devido a esta lenda que existe um touro representado no brasão da cidade.
Começamos visitando o Museu Rainha Dona Leonor, antigo Convento da Conceição, fundado em 1459 pelos infantes D. Fernando e D. Brites, pais de D. Manuel I.
A entrada é pela igreja do convento, um surpreendente conjunto com detalhes em madeiras douradas e azulejos na borda inferior.
Logo na entrada, na parede esquerda, um sarcófago visigótico de pedra, sem inscrição, guarda os restos da primeira abadessa: Uganda.
O altar mor é esplendidamente decorado. Como um quarto elevado e no meio dele um enorme caixote todo filigranado, tendo no centro a imagem de N. Sra. da Conceição cercada de anjos e santos.
Também no altar há um sarcófago de pedra, igualmente sem marcação, com os ossos do infante D. Fernando e, no chão, de seu filho D. Diogo.
À entrada do claustro está a Sala dos Brasões, obviamente pelos brasões que traz nas paredes. No chão e paredes desta sala, também lápides ricamente gravadas, que tampavam as sepulturas de diversos nobres. Contrastando com elas, o jazigo de Dona Leonor, já no claustro, não tem qualquer adorno, a seu pedido, para mostrar simplicidade.
Juntas às paredes do claustro, estão expostas lápides e miliários do período de romanização do país.
O claustro é todo azulejado na parte inferior, possivelmente para evitar umidade. A Sala do Capítulo, onde as freiras faziam a orações mais solenes e onde faziam suas reuniões é em madeira filigranada e pinturas nos tetos.
Na parte superior do convento funciona um pequeno museu de arqueologia com peças desde o Paleolítico aos tempos medievais.
Seguimos, então, para ver a igreja de N. Sra. dos Prazeres, junto a uma das portas do burgo medieval. Estava fechada. Defronte a ela, o palácio de portas decoradas onde está instalado o Palácio Episcopal. Tomamos a rua junto ao Palácio, passamos pelo Hospital da Misericórdia, que também merece uma visita, e chegamos ao castelo. Era hora de almoço e ele estava fechado.
Fomos, então, conhecer a Sé de Beja, dedicada a São Tiago. Trata-se de um templo modestamente decorado, exceto algumas capelas, com imagens de madeiras douradas.
Asseguram os portugueses que em Portugal não há siesta, mas tudo fecha para descanso entre meio-dia e meia e duas da tarde. Por isso, fomos almoçar e fazer hora na praça de Santo Amaro, onde de um mercadinho saíram tipos que povoam nosso imaginário sobre como são os portugueses: uma senhora baixinha, toda de preto, de tamancos, falando alto com um rapaz que possivelmente era seu filho, vestido como um camponês.
Já à tarde entramos no castelo, fizemos a ronda nas sentinelas e subimos a torre de menage, que não chega ao topo por questões de segurança. Lá conhecemos e conversamos com um casal de belgas, numa verdadeira torre de babel, misturando português, espanhol, inglês e alemão. Como o senhor estava com os joelhos operados, o escoltei até a base da torre.
Saímos e logo ali perto fomos à igreja de Santo Amaro, uma das primeiras basílicas paleocristãs da região e hoje em serviço do Núcleo Visigótico de Beja. Nela há coleção de capitéis e partes de construções mediterrâneas, impropriamente chamadas de visigóticas, segundo um painel do museu. De qualquer forma o museu angariou para Beja o apelido de Capital da Arte Visigótica em Portugal.
Saímos correndo para o Núcleo Museológico da rua Sembrano. Pensávamos que estava para fechar, mas em verdade ficaria aberto até as 6 horas da noite.
Nele, o chão é composto de placas de vidros, através do qual se pode ver, uns 3 metros abaixo, as fundações da cidade. Painéis identificam as construções do Neolítico (apenas uma parede), romana e muçulmana. Vê-se os muros, poços, bases de casas etc. Mas a sensação é muito estranha, sempre parecendo que se vai cair daquela altura. Anda-se pisando em ovos. Em pantufas, para não arranhar os vidros.
Para encerrar o dia, estivemos na igreja de Santa Maria, uma das mais velhas da cidade. Interior muito simples, sem qualquer destaque.
Na manhã seguinte fui à Biblioteca Municipal José Saramago, onde consegui cópia de um livro com a transcrição e estudo das epigrafias regionais, "Epigrafia Romana do Conventus Pacensis", obra do prof. José d' Encarnação.
No dia seguinte, enquanto esperávamos as cópias, fomos ao Castelo e dali circundamos o centro velho à procura de duas portas romanas. Encontramos uma, decepcionantemente simples. Em continuação, passamos pelo jardim do Seminário e chegamos a uma rua denominada Senador José Erminio de Moraes, talvez ali nascido e pai dos barões do cimento no Brasil.
Fui também ver onde fica o Arquivo Distrital de Beja, na rua Vasco da Gama.
Durante a estadia em Beja, conhecemos outra hóspede, Cenira, dona da loja Companhia do Azeite, em Brasília. Ela nos contou que está sempre fazendo curso sobre o produto e que uns dias depois iria visitar seus fornecedores, para acompanhar a produção do azeite que vende no Brasil.. Sinal de que o produto dela é de qualidade.
Entre nossos planos estava ver a villa romana de Pisões. Todavia, a funcionária que tomava conta do sítio se aposentara poucos dias antes e não havia quem pudesse ir abrir o sítio para nós. Mais tarde ficamos sabendo que a diretora de um dos órgãos regionais poderia fazê-lo, mas já estávamos de partida para a nova base.
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