Partimos cedinho. O sol só viria por volta das 8:00 horas. Cochilei um bocado pelo caminho, pois todas as vezes que olhava, a cerração cobria tudo.
Passamos por vários lugarejos, dos quais me lembro de um com o nome de Colonia Valdense, que depois soube ter sido uma vila de colonização francesa. Em fins do século XII, na França, surgiu uma corrente religiosa liderada por Pedro Valdo. Perseguidos, fugiram para o Piemonte (Itália), onde se estabeleceram no Vale Valdense. Parte dessa comunidade passaram em 1857 para o Uruguai, fugindo do édito que o rei Carlos Alberto assinou em 1848.
A viagem dura cerca de três horas. Em Colonia del Sacramento deixamos as tralhas na própria rodoviária, e lá fui percorrer a cidade. Pensamos a princípio num city tour, mas só haveria um por volta de meio dia.
A avenida principal é a Gen. Flores. A cidade é muito arrumadinha, bonita mesmo.
Fomos ao porto procurar saber se daria para atravessar o estuário pelo alíscafo (barco rápido que vai a Buenos Aires em 45 min.). Pelo nevoeiro, a travessia estava atrasada e não pudemos fazer a viagem. No porto vi a chegada de um "ferry-boat" da Buquebus. Um bichão parecido com os que fazem a travessia do Pudget Sound (em Seattle).
Dali fomos ver a ciudad vieja. Ela fica numa ponta de terra que avança sobre o estuário. Novamente, ele parece um mar de águas castanhas escuras e muito frias, mas que não chega a congelar a mão. Nada do outro lado. Esse é o mais largo estuário do mundo, medindo cerca de 100 km de largura. Defronte, as ilhas de San Gabriel.
A cidadela está muito bem conservada. Ela foi a única cidade portuguesa da América espanhola. Portugal plantou, pelas mãos de Manuel Lobo, a cidade em 1680, para controlar o trânsito de espanhóis e abrir um porto concorrente a Buenos Aires. Conseguiram, pois os buenos-airenses usavam a Colonia para fugir ao monopólio comercial da Espanha.
A cidadela fica numa colina baixa e era cercada por altos muros e um fosso hoje seco e gramado. Uma ponte elevadiça de madeira passa sobre o fosso e leva a um pórtico de pedra inaugurado em 1745 pelo governador português Vasconcelos. No topo do portal há um fac-símile em pedra do brasão da Coroa portuguesa.
Dali se vai à Plaza Mayor, uma grande praça de armas típicas dos países latinos. Ao redor, várias construções são originais, de pedras e adobes com telhados de quatro águas, cujo valor chega a 100 mil dólares. Em geral essas construções abrigam lojas de artesanatos ou museus.
As ruas são identificadas por placas de azulejo azuis e brancos com seus nomes (em espanhol). Várias delas descem ao rio da Prata, em particular a Calle de Suspiros, antes chamada Calle Ansina. Uma guia dava as possíveis origens do nome, desde uma beldade que por ali passava arrancando suspiros dos homens até ser a passagem dos condenados que iam cumprir suas penas em Buenos Aires.
Há as ruínas do convento de São Francisco Xavier (1683-1704), ao pé do farol, o local chamado Casa do Vice-rei Baltazar Hidalgo de Cisneiros (há interpretações divergentes para essa homenagem, uma vez que este vice-rei não morava na Colonia del Sacramento, mas em Buenos Aires). Numa pracinha minúscula (Plazuela del Gentilhomem) há uma parede coberta de placas em homenagem a um colonense célebre - Hipólito José da Costa, nascido em 1774 - dito patrono do periodismo brasileiro. De fato, há placa ali posta pela prefeitura de Pelotas e em Porto Alegre um museu ostenta seu nome.
Visitei primeiro o Museu Municipal, uma construção portuguesa também conhecida como Casa do Alm. Brown. No térreo informações sobre os índios (pouco abundantes no Uruguai, geralmente charruas), trajes e utensílios domésticos e bélicos dos colonos, documentos originais do século XVIII com respectivas transcrições datilografadas. Deles tirei que a Colonia foi sugerida em 1643 pelo governador do Rio de Janeiro Salvador Correia de Sá e Benevides (o mesmo que concedeu sesmarias em Campos cinco anos depois). Em 1671 o governador do Rio de Janeiro João da Silva de Souza recebeu ordens régias para povoar o local, mas não as executou. Em 1677 o mesmo Salvador Correia de Sá (que conseguira para seu genro e seu neto capitania que chegava a Santa Maria, pedia ao rei licença para construir fortificação em San Gabriel (onde é hoje a Colonia). O rei e o Conselho Ultramarino mandam o ten. gen. Jorge Soares de Macedo para fazê-la e escolhem a Manuel Lobo para governador (27 de agosto de 1680).
A primeira povoação foi chamada de Lusitânia. Nela governaram:
No segundo andar deste museu estão ambientes do século passado, documentos, uma capela com os paramentos sacerdotais, missais e livros de contabilidade. Noutro salão fósseis achados na região (inclusive uma tartaruga gigante e tigre-dos-pampas).
Visitei, também, o Museu Português, uma casa na Plaza Mayor, em arquitetura da primeira metade do século XVIII, onde se exibem dezenas de mapas desde o século XV até os mais modernos do período colonial, salas mostrando azulejos portugueses com retratos dos reis de Portugal, bandeiras, armas e brasões lusitanos. Há uma árvore genealógica do primeiro governador da praça.
Outros museus estavam fechados: o Museu Espanhol, o do Azulejo ...
A poucas quadras dali fica a igreja matriz, ereta em 1680 e que de original apenas conserva um ádrio. Ao lado dela, uma praça em obras, por onde se anda sobre passarelas de madeira.
Estava um dia ensolarado. A maioria dos visitantes parecia estar no Polo Sul, tão agasalhados, com luvas, capotes ... Acho que há nisso um pouco de exagero, pois eu estava em mangas de camisa e só necessitava do agasalho quando ventava, coisa que durava poucos minutos.
Do outro lado da cidade, uma enorme marina com os veleiros e iates dos mais abonados. É o Puerto de Yates, perto do Museo Español. Circundando a Cidade Velha há prainhas de pedras do rio da Prata, com algumas árvores e bancos para descanso. Para os carros, o Paseo San Gabriel.
Na parte nova da cidade, há uma Praça de Touros de 1910 com um arquitetura bonita e moderna.
Fim de tarde. Hora de retornar a Montevidéu.
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