Saímos de Porto Alegre de avião por volta da hora do almoço. Sobrevoamos os pampas gaúchos e uruguaios, a represa de Tacuarembó.
No fim da viagem, o avião chega ao delta do Paraná. O estuário, iluminado pela incidência oblíqua do sol, parece uma enorme placa de cobre. Ao longe os rios Paraná e Luján. Em baixo o rio Uruguai, que divide o Rio Grande do Sul e depois o Uruguai da Argentina.
Do outro lado do rio de La Plata (em realidade, o estuário do Prata, onde se encontram os rios acima), espalhada por uma área imensa, Buenos Aires. Do alto, ela não parece ter muitos prédios o que de fato não tem (e a maioria não chega a 15 andares). Ali vivem cerca de 11 milhões de pessoas.
Pegamos um táxi pirata, que nos cobrou 40 dólares, mas depois cobrou uma sobretaxa de 10 dólares porque rodou um pouco conosco atrás de um hotel. Chegamos pela Av. 9 de Julio, que eles dizem ser a mais larga do mundo, com seus 144 m. De cada lado da avenida correm duas ruas secundárias (Calle Carlos Pelegrini e Cerritos), como os eixinhos em Brasília.
O motorista nos ofereceu um hotel no centro (Calle Esmeralda), que decidimos aceitar por falta de conhecimento do lugar. O apartamento duplo custava 130 dólares. No dia seguinte fomos para o hotel à frente, que cobrava 85 dólares e era praticamente do mesmo nível. É curioso que os hotéis, tanto no Uruguai quanto aqui, têm elevadores com portas que são fechadas manualmente por quem os usa. Parece arcaico, coisa que existia no Brasil na década de 30 a 50, mas são obviamente muito menos propensos a acidentes.
Fui ver a Plaza de Mayo. Nela estão a Catedral, uma igreja do século XVII, com fachada grega e abóbada imitando a da igreja de São Pedro, no Vaticano. Ela estava em reforma. Me chamou a atenção o fato de um pelotão de soldados entrar marchando nela. Parecia uma invasão, mas ninguém parecia assustado. Andando por dentro, percebi o porquê: ali está o mausoléu onde repousam os restos de José de San Martí, o general libertador do país. O mausoléu estava fechado e só pude ver o interior pelas grades.
Nessa igreja está, também, a imagem da Virgen de Luján, padroeira da Argentina e de N. Sra. de Itati. Nela estão enterrados dois dos arcebispos de Buenos Aires. O altar é todo ornado de figuras de anjos, panos ondulantes ... Tudo muito austero.
Dali fui ao Cabildo, o antigo parlamento construído em 1751, onde os poderosos locais se reuniram para decidir combater os ingleses que sitiavam Buenos Aires em 1810. Dentro dele, um museu com plantas da cidade e algum mobiliário do século passado. Hoje no Cabildo há feira de artesanato.
À esquerda de quem sai do Cabildo há um prédio da prefeitura, que fica no local onde havia uma casa que a municipalidade doou a San Martí, por sua luta pela independência. à frente do Cabildo, a Plaza de Mayo (espécie de Praça dos Três Poderes local), onde as mães dos desaparecidos políticos marchavam silenciosamente, protestando contra a repressão política.
Do outro lado da praça, a Casa Rosada, onde funciona a Presidência da República. Contam que é rosada para simbolizar a união dos partidos Blanco e Colorado, que por décadas lutaram pelo poder na Argentina.
Ainda na Plaza, à esquerda de quem olha para a Casa Rosada está a sede do Banco de La Nación Argentina, com telhados semelhantes ao do Parlamento Canadense, isto é, verde. À direita, a DGI (Direción General Impositiva), a Receita Federal deles.
Buenos Aires foi fundada em 1536 por Pedro de Mendoza. Crê-se que a primeira vila tenha se estabelecido onde hoje é a Plaza Lezama, em San Telmo. Os índios arrasaram esse vilarejo e em 1580 houve a segunda fundação, provavelmente na Plaza de Mayo, por Garay. Governada entre 1617 e 1776 por governadores, foi sede entre 1776 e 1810 do vice-reinado do Prata (que abrangia, na época, a Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Peru e, como parte deste, a Bolívia).
O último dos vice-reis foi Baltasar Hidalgo de Cisneiros. Em 1810, estando a Espanha sob tropas napoleônicas, o vice-rei foi substituído pela Junta de Mayo, que embora leais ao rei, representava as elites locais. Convocada a Assembléia Constituinte de 1813, patenteou-se a cisão entre os portenhos unitaristas (que não aceitavam dividir as rendas alfandegárias do porto de Buenos Aires) e as demais províncias, todas federalistas. Por várias décadas esta dicotomia iria tumultuar a república platina, gerando acordos e disputas entre os dois grupos.
Subi pela Avenida de Mayo até o Parlamento. No caminho, pouca gente, a maioria das lojas fechadas, como é comum nos centros das cidades. Fazia frio.
O Parlamento é enorme, no estilo Museu do Ipiranga, mas com uma abóbada alongada e verde. Em frente ao prédio uma praça enorme, com um monumento. Ali jovens se reúnem para prosear ou namorar.
Da praça saem as avenidas Avellaneda e Callao. Nesta segunda o número de casas de espetáculo lembram a Broadway de Nova Iorque. Restaurantes, padarias e outras casas de pasto. Livrarias também são muito numerosas. Tentei comer algo, mas os nomes das comidas não me diziam absolutamente nada e eu fiquei com medo de não gostar.
Desci pela Av. Corrientes, também repleta de casas de espetáculo. A vida noturna dali é agitadíssima, cheia de luzes e gente bem vestida na rua, a maioria dos homens com sobretudos marrons. Dali fui conhecer a famosa Calle Florida, que foi ponto de referência na década de 60, quando não existia rua para pedestres. Hoje não passa de um calçadão como outros. Muita gente de sobretudo ou vestidos de lã. Parece que o pessoal de lá também é friorento. Salvo um ou outro, não achei os platinos tão esnobes quanto pintam.
Na manhã seguinte, depois de mudarmos de hotel, saímos num city-tour. A guia era uma argentina lindíssima, com um português muito bom, mas que forçava um pouco a barra no sotaque carioca (cidáadji ao invés de cidade, gentchi para gente ... A todo segundo intercalava as frases com ahnn?. Acho que, para eles, a gente fala assim). O ônibus passou pela Plaza da la Fuerza Aerea (que até antes da guerra pelas Malvinas se chamava Plaza de los Ingleses), onde há uma torre idêntica à torre de Londres. Passou por Palermo, Palermo Viejo e pela Recoleta.
Nos Palermos nos foram mostrados vários parques. Consta que há cerca de 400 deles em Buenos Aires. No maior (Parque 3 de Febrero) há zoológico, planetário, um parque japonês ... Neles, durante a semana, jovens estudantes levam os cães das madames para fazer suas necessidades e ganham por volta de 100 dólares para isso. Ao lado do parque uma avenida larga (Av. del Libertador) e prédios chiquérrimos e muito bem conservados, embora não muito novos, tipo um-por-andar, onde só moram ricaços. Segundo a guia, Xuxa e Maradona teriam um apartamento ali.
A guia contou um detalhe interessante com relação a estátuas equestres: quando o cavalo está com as quatro patas no chão, é sinal que o cavaleiro morreu assassinado. Quando está com uma pata levantada, morreu de morte natural. Quando está com duas patas levantadas, o cavaleiro morreu em batalha Um gaiato perguntou por cavalo com as quatro patas levantadas. A guia só riu.
Daí para a Plaza de Mayo, descendo pelo Paseo Colón em direção San Telmo. Passamos pelo La Ventana, pelo Viejo Almacén Ali teria começado a difusão do tango, um ritmo que se desenvolvia perto do porto como u'a mistura de ritmos locais com italianos.
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