A região de Coe é muito solitária. Nenhuma casa ou cidade. A estrada serpenteia por entre montanhas altas, de vegetação rasteira. O vale geralmente está sob cerração e chuva e nele alguns lagos se espraiam.
Num dos extremos do vale fica o Loch Leven e nele a Eileann Munde, centro de peregrinação religiosa desde que ali se estabeleceu em 600 d. C. por alguns anos um discípulo de São Columba chamado Munde. A ilha virou também um campo santo local.
Há uma lenda de que a terrível feiticeira Corrage foi levada para ser sepultada na Eileann Munde, mas o lago se levantou furioso e impediu a travessia do corpo dela para a ilha. Assim, ela foi enterrada em Tigh-phuirt.
Outra bruxa conhecida foi Bean Nighe, que ocasionalmente era vista lavando suas roupas no rio Coe. Quem a visse estava com os dias contados. Ela teria sido vista na noite anterior ao massacre de Glencoe.
Em razão do tamanho das montanhas, a área é também povoada por histórias de gigantes. Ali teria sido o lar de Fingal (ou Fionn ) (1) . Seu nome está em vários acidentes geográficos, tais como Sgòr nam Fiannaidh (a rocha de Feinn), Fionn Ghleann (vale de Fionn).
Pelas lendas (poemas de Ossian, legendário filho de Fionn), ele teria batido os viquingues liderados pelo rei Erragon de Sora, que subira o Loch Leven com 40 navios repletos de guerreiros. Os Feinn, guerreiros de Fionn, estavam na floresta caçando gamo e o esperto Fingal manteve os escandinavos conversando e batendo boca até que os Feinn voltassem.
Cento e quarenta guerreiros de cada lado se enfrentaram, por sugestão do rei Erragon, aceita por Fingal. Derrotados, os noruegueses fugiram e o rei foi morto e enterrado às margens do loch.
Com o tempo, o vale passou às mãos do clã Dougall, de origem escandinava. Eles fizeram ali um império sediado no Dunstaffnage Castle, perto de Oban.
Em 1308, os MacDougall se dividiram entre aqueles que apoiavam os sucessores do rei Balliol (que também contava com o apoio inglês) e os que eram partidários de Robert The Bruce. Bruce era apoiado por Campbells e MacDonalds. Na batalha do Passo de Brander os MacDougalls foram derrotados e Angus Og, chefe dos MacDonalds recebeu a área em nome do clã.
Angus teve o filho bastardo Iain Fraoch (João do Urze), que fundou o ramo MacDonald que seria massacrado anos depois. Iain morreu em 1358 e foi sepultado no Relig Odhrain, na ilha de Iona, ao lado de seu pai.
A região era fértil e atraía a cobiça dos vizinhos. Os MacDonalds de Glencoe e os MacGregors às vezes roubavam gado no sul (Lowlands). Os Campbells estavam estendendo seus territórios. Choques eram frequentes.
Em 1501 os MacDonalds de Glencoe tomaram a fortaleza dos Campbells na Innis Chonain, no Loch Awe, para resgatar seu parente Donald Dhu, único neto sobrevivente dos Senhores das Ilhas.
O Glen Lyon se tornou campo de frequentes escaramuças entre esses clãs. Uma ocasião 36 MacDonalds de Glencoe foram pegos e enforcados ao lado do Meggernie Castle por Mad Colin Campbell, de Glen Lyon.
O constante roubo de gado pelos MacDonalds irritou o rei James VI.
O apoio dos MacDonalds à causa do rei Charles I na Guerra Civil (1643) os levou a bater de frente com os Campbells. Em 1646 os MacDonalds atacaram Glen Lyon, onde os Menzies e os Campbells celebravam um casamento. Trinta e seis homens desses dois últimos clãs morreram.
O roubo de gado continuava em 1685. Dois sucessivos condes de Argyll foram executados em Edimburgo, enfranquecendo os Campbells. Os homens de Glencoe se aproveitaram da debilidade para atacar o território dos Campbells. Muitos Campbells foram arruinados, inclusive Robert Campbell de Glen Lyon, bisneto de Mad Colin de Meggernie.
Em 1689 ocorreu o conflito maior, quando Alastair, 12º chefe de Glencoe, estava entre os que apoiaram John Grahan de Claverhouse ("Bonnie Dundee") contra William de Orange. Desse apoio resultou o massacre que contamos logo adiante.
Passamos por Glencoe (Gleannchonnan), onde houve o massacre dos McDonalds de Glencoe.
O rei James VI perdeu o trono para William de Orange na batalha de Boyne. William sonhava com uma nova era de prosperidade comercial, onde o sistema de clãs não tinha lugar, principalmente porque eles se colocaram ao lado de James VI.
Foi decidido que os chefes de clãs fariam juramento de lealdade ao novo soberano. Os que se recusassem seriam punidos pelo fogo, espada e todas as hostilidades possíveis. A data do juramento (1º de janeiro) foi escolhida de modo a coincidir com o período mais difícil do inverno nas Terras Altas.
Todos os chefes fizeram o juramento, exceto os poderosos MacDonell (de Glengarry) e o velho MacIan MacDonald (de Glencoe).
MacIan tentou fazer o juramento em Fort William, mas na ausência de um magistrado, teve de ir a Inverary. O inverno estava medonho e ele não conseguiu chegar lá até a data aprazada. No dia 2 não havia oficial lá e o juramento não foi feito até o dia 6.
William determinou que o duque de Argyll mandasse 120 homens sob o comando do capitão Robert Campbell (de Glenlyon) fosse a Glencoe com uma ordem para alojar os soldados nas casas dali.
As tropas foram recebidas com a conhecida cortesia das Terras Altas. Durante 15 dias compartilharam a comida e a bebida com os MacDonalds de Glencoe. O cap. Campbell inclusive gostava de jogar cartas com o velho MacIan e seus filhos.
Então, a 12 de fevereiro de 1692, o cap. recebeu a ordem de massacrar os MacDonalds. Pela madrugada, enquanto estes dormiam, os soldados começaram a carnificina. MacIan foi baleado em sua cama, sua esposa teve os anéis arrancados de seus dedos pelos dentes de um soldado. Trinta e nove membros do clã foram atacados enquanto dormiam, tiveram pés e mãos atados e foram fuzilados na neve. As cabanas foram incendiadas.
Quando os outros membros do clã entenderam o que estava ocorrendo, correram para as cavernas. Muitos morreram na neve e apenas metade do clã sobreviveu.
John, o 13º chefe de Glencoe, obteve o perdão real e autorização para reconstruir o lar do clã em Corchoch. Seu irmão Alastair apoiou a causa jacobita em 1715 e lutou ao lado de John Campbell, filho do capitão que liderou o massacre. Ambos perderam suas propriedades quando sua causa foi vencida.
Trinta anos depois, Alastair, 14º chefe de Glencoe, que escapou do massacre quando bebê, lutou pela causa. Em Culloden partidários do Bonnie Prince Charles foram derrotados e o clã de Glencoe acabou-se definitivamente. As casas deles foram queimadas, o gado levado e o chefe aprisionado.
Passamos pelo centro de visitantes de Glencoe.
Depois de contornar o Loch Leven, a estrada sobe e se descortina uma vista linda do vale. Esta estrada acompanha o Loch Linnhe e o Loch Lochy por muito tempo.
Perto de Fort Williams está o Ben Nevis (Beinn Nibheis, morro Nevis em gaélico), o morro mais alto de toda a Grã-Bretanha, com 1.344 metros de altura. Ali perto, em Aonach Mor parte um bondinho que leva ao topo de um morro de 700 metros de altura (a chamada The Mountain Experience), de onde se pode ver o vale num dia claro.
No verão Fort Augustus, na cabeceira do Loch Ness, é palco de um Highland Games. Um círculo de barracas vendendo de tudo. No centro, os atletas animais fortíssimos atirando martelos, troncos de árvores e um sino pesado (de ferro, acho) à distância. Num canto, um concurso de gaiteiros. Trouxeram uma águia dourada, um falcão, uma coruja e outras aves para exibição. Foi legal.
Fort Augustus estava lotada. Pela cidade passa um pequeno canal com eclusas. As pessoas olham, fotografam, filmam, ...
Segue ilha de Skye ...
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