CADERNOS DE VIAGEM
AMÉRICA DO NORTE - Estados Unidos - Novo México
Pueblo Acoma, Caverna do Gelo e El Morro
No dia seguinte rumamos para Flagstaff. No caminho entramos para ver o Acoma Pueblo (Sky City, como dizem). Anda-se cerca de 30 km no meio do deserto até o Centro de Visitantes.
Há na região duas mesas (termo espanhol para designar morros baixos, com topos planos e laterais escarpadas, como se fossem bolos). Uma é a Enchanted Mesa. Diz a lenda que era lá que os acoma (leia ácoma) viviam até que um dia foram caçar e uma chuva repentina e violenta tornou lisas as paredes da mesa. Lá no topo ficaram uma velha e sua neta, que pularam, suicidando-se para não morrer de fome.
A partir daí os acoma se mudaram para a Cidade do Céu, onde em 1540 a expedição de Francisco Vazquez de Coronado os encontrou.
Os missionários jesuítas ali fundaram em 1629 a missão de São Estevão do Rei, quando a vila tinha cerca de 300 famílias. Hoje cerca de 15 famílias ali moram, embora outros ali tenham casa, por considerarem o lugar sagrado.
A vila tem casas de adobe, algumas em sobrado, com acesso via escadas altíssimas feitas com troncos compridos. As paredes são de barro arenoso e capim. Umas poucas usavam janelas de mica , que deixavam entrar um pouco de luz, mas não a areia que o vento levanta permanentemente.
Só se pode subir ao pueblo num ônibus dos índios, acompanhado de um guia. Para levar câmara fotográfica é necessário pagar uma taxa. A visita passou a ser vigiada quando acharam um grupo de turistas se refrescando na água que eles coletam em depressão na pedra para consumo dos moradores.
Também no alto da mesa está o cemitério. Muitos dos índios tinham sobrenome espanhol. E na parede do cemitério há um buraco que, segundo a guia, serve para a alma dos defuntos voltarem a seus corpos (certamente no Juízo Final).
Os velhos, ainda segundo a guia, eram jogados do topo para a morte, pois a comida e a água eram escassas.
Muitos dos índios foram levados como escravos para o México pelos exércitos desse país, no século XIX.
É muito difícil imaginar porque pessoas se estabelecem em lugares tão secos, áridos, rochosos, de difícil agricultura e rara água.
Deixando Acoma se chega a um belvedere lindo. Dele você tem a visão do vale inteiro. Lá no fundo, a muitos quilômetros de distância estão as montanhas. Você está no topo de outra. No centro uma planície árida, arenosa e pedregosa, branco-amarelada e com esparsa vegetação. Esse vale tem a regularidade da superfície lunar. Apenas é visível um laguinho de águas azuis. O vento continua quente. Quebrando a monotonia da paisagem apenas as duas mesas.
A próxima parada foi num lugar fora da estrada e que deve ser colocada na agenda como imperdível. São duas atrações separadas por pouco mais de uma milha.
Uma das estradinhas leva à Ice Cave, uma caverna pouco mais de 20 metros abaixo do nível da terra, onde acontece naturalmente um processo semelhante ao dos aparelhos de ar condicionado. A insolação fortíssima resseca a superfície da terra, que suga a umidade do ambiente no interior da caverna. O ambiente excessivamente seco se torna o ar no interior da cova muito frio, semelhante ao de uma câmara frigorífica. As gotas de água que descem pelo teto da caverna formam estalactites de gelo. No piso da gruta, um laguinho de águas congeladas.
Voltando ao Centro de Visitantes, uma outra estrada peatonal corre quase u'a milha em terreno pedregoso e íngreme. Muitos param para tomar um fôlego durante o percurso. No fim da trilha chega-se à Lava Beds, a cratera de um vulcão extinto. Ela é cinza chumbo e de encosta lisa. Não convém cair lá.
Mais adiante passamos por El Morro, um "oásis" onde os espanhóis que iam do México a Santa Fe paravam para descansar. Muitos gravaram seus nomes e cargos nas pedras. A mais antiga "assinatura" é a de Juan de Oñate, de 1609. Não deu para ir lá em virtude da hora, mas vimos um vídeo no Visitor Center mostrando as inscrições. Uma ranger simpaticíssima aproveitou para me perguntar como se pronunciavam alguns nomes em espanhol (êta americanos ...).
Segue Gallup ...
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