Seguir a Apache Trail foi a tarefa desse dia. Por ela andavam as antigas diligências. Começa rodeando a Superstition Mountains e vai até a Represa Theodore Roosevelt.
A primeira parada foi na cidade-fantasma de Goldsfield, na beira do morro (mais ou menos 2 km dele) Massacre Grounds, onde nos anos 1840 a família Peralta mineirava ouro. Eram os irmãos Pedro, Ramón e Manuel. Os apaches não atinavam com o porquê de brancos estarem procurando pedras, mas se incomodavam porque o faziam no monte sagrado deles. Ademais, ficaram sabendo que atrás desses homens sempre vinham outros atrás das mesmas pedras, destruindo ou espantando a caça deles índios.
Manuel e Ramón pegaram sua parte de ouro e foram para Sonora, no México. Pedro contratou uma dúzia de homens e, a despeito das escaramuças dos índios (que assustaram Manuel e Ramón), voltou às montanhas onde em 1848 os índios atacaram e não sobrou ninguém vivo.
Voltando à cidade-fantasma de Goldsfield, ela é de madeira escura como as cidades do gênero e da época (por isso tão poucas construções originais sobreviveram até hoje. Elas eram abandonadas quando as minas se exauriam, as madeiras secavam e o fogo nas matas fazia o resto). Tem uma só rua/praça e meia dúzia de construções: hotel, saloon, cadeia, barbeiro, ferraria, estrebaria, etc.
A princípio achei estranho hotel nessas espeluncas, mas há de se compreender que chegavam homens do mundo todo atrás do ouro e não queriam perder tempo fazendo casa. Por isso se hospedavam em hotéis. O museu é modesto, com poucas peças, mas mostra a lenda mestra do local: a de que dois alemães chegaram juntos procurando ouro na Superstição, Jacob Watz (alcunhado Dutchman, ou holandês) e Wiser.
Perto dali um alemão chamado Jacobs e um holandês chamado Ludi estavam mineirando. Watz e Wiser ouviram o som de picaretas na pedra e se dirigiram para o pico chamado Weaver's Needle, de onde podiam ver a dupla Jacobs/Ludi prospectar a área. Atiraram neles para tomar a mina deles. Quando voltaram no dia seguinte, os feridos tinham escapado. Ludi morreu logo depois e seus restos foram mais tarde encontrados perto do local onde tinha sido baleado. Jacobs alcançou a cabana dos irmãos Star, onde contou o acontecido e morreu.
Waltz e Wiser tomaram conta da mina dos mortos. Achando que não havia ouro para dois, Waltz atirou no companheiro pelas costas e voltou ao acampamento para esperar a morte do companheiro. Wiser, contudo, sobreviveu ao balaço e fugiu da montanha. Encontrado pelos índios Pima, foi levado para o rancho de Walter, perto de Florence. Lá contou a história toda, mas ninguém deu ouvidos a ele, homem de má reputação que era. Ali ele morreu dias depois.
Waltz retirou muito ouro dali, cobriu a mina e se retirou para Phoenix, onde morreu em 1891. Antes de morrer, teria dado indicações de onde era a mina a uma pretinha que cuidava dele, mas ela não entendeu muito bem as orientações ou não prestou atenção a elas, achando que o velho delirava. O fato é que a mina não foi encontrada até hoje.
Em 1873 dois franco-canadenses acharam ouro e levaram uma amostra para ser analisada. Comprovado o valor das pepitas, voltaram à mina e nunca mais foram vistos vivos. Seus despojos foram mais tarde achados perto da Weaver's Needle, com marcas de balas. Um jogador sumiu do campo de mineração nessa ocasião e mais tarde apareceu no Alaska cheio de ouro. Acham que foi ele o assassino.
Em 1931 chegou ao Arizona Adolph Ruth dizendo ter o mapa original dos Peralta, obtido de um neto de um dos Peralta (o de nome Manuel). Ruth contratou dois vaqueiros para guiá-lo. Não foi mais visto vivo e uma expedição de arqueólogos o achou, no fim desse ano, com marca de tiro de rifle na cabeça.
O local virou atração para aventureiros de fim de semana, que aqui vêm às dezenas todos os anos atrás dessa fabulosa e perigosa (amaldiçoada) mina. A maioria por pura farra.
Em toda a Apache Trail, o que se segue a partir daí, o que mais se vê no deserto, são os cactos saguaro, aqueles famosos "bonequinhos". Ele só começa a formar os braços aos 75 anos de vida e com 200 anos atinge cerca de 5 metros de altura. Sua raiz pode armazenar até 8 mil litros de água.
Adiante de Goldsfield o asfalto termina e são quase 30 milhas na terra acascalhada. Se passa pelas represas construídas no Boulder Creek: Canyon (do ribeirão Boulder), Mormon Flat (perto de Tortilla Flat), Horse Mesa e Apache (depois de descer a garganta de um canyon). A estrada chega ao rio Salado, cujo leito é de pedras grandes, arredondadas e brancas. O rio ocupa metade do leito e tem águas de cor escura. O rio termina numa barragem de concreto altíssima que forma a represa Theodore Roosevelt com águas dos rios Tonto e Salt (ou Salado).
Segue a Reserva de Tonto ...
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