Denver foi uma surpresa. Eu a imaginava encrustada nas montanhas, mas ela fica no Planalto (High Plains) . Chovia a dar com o pau. Pegamos o carro que reserváramos perto do aeroporto. Um micro-ônibus da Alamo leva os fregueses até lá.
O Hotel fica numa região perto da I-20 e do estádio de beisebol do Rockies (o Coors Stadium). A região estava em reforma. Era lama para tudo quanto é lado. Aliás, foi difícil achá-lo, porque na cidade há três ruas com o mesmo nome (Fox St.). Numa está o infeliz.Também perto dele a linha ferroviária e o rio South Platte.
No segundo dia a chuva abrandou e fomos explorar as redondezas do hotel. Primeiro o rio às margens do qual a cidade foi fundada, o South Platte (leia-se Plát). Para chegar lá tivemos de cruzar o barro da construção ao lado da ponte que o cruza. Um patinho nadava nele, que muito parece o ribeirão Mesquita (cerca de 5m de largura, águas escuras) e que corre bem veloz. Na margem direita dele há uma ciclovia, que estava meio estragada pelas obras.
Depois fomos rodar pela cidade. Ela parece uma cidade brasileira: suja, cheia de carros velhos, o asfalto todo remendado, neguinho ultrapassando pela direita, os limites de velocidade desrespeitados, etc...
Topograficamente, é como Brasília: aquela planura a perder de vista, exceto pelas Montanhas Rochosas que são visíveis no horizonte. Porém, cansa andar por aqui, devido à altitude.
O centro, contudo, muda de figura: é bonito, com aqueles tradicionais prédios cheios de vidros reluzentes.
Nossa primeira visita na "downtown" foi à chamada Larimer Square, a mais velha rua da cidade (coisa de um quarteirão pequeno), toda reformada, mantendo a arquitetura original, muito ajeitadinha.
No fim da rua está o Greek Front. Escadas abaixo, um lugar com fonte e uns desenhos que pareciam escudos de guerreiros africanos. À frente uns degraus para se sentar defronte ao Cherry Creek (o outro rio da cidade). Cerca de 3 metros de largura, águas escuras e velozes. Em cada margem uma ciclovia. Acima, as avenidas.
Subindo de novo as escadarias se vê dois grandes conjuntos de prédios da Universidade de Colorado. Ao longe um edifício tipo castelo, branco com teto azul, o fica o Tivoli (antigo hotel, hoje faz parte da universidade e que um crioulo indiano nos disse ser uma igreja).
De volta à Larimer Square, nos sentamos para ver uma apresentação de música caribenha, Agradável, mas nada excepcional.
Daí fomos "desfilar" na rua "quente" de Denver, a 16ª. Nela não há tráfego, exceto duas vias estreitas para uma linha de ônibus gratuita que leva o povo para cima e para baixo. É uma espécie de calçadão passando por lojas elegantes, pelo prédio maçônico (aliás, o que tem de templo maçônico nas cidades dos arredores não é brincadeira). Vários banquinhos de 3 ou pessoas para o povo sentar, árvores no passeio central, etc.
Essa rua acaba na chamada Praça Cívica (defronte o State Capitol). O conjunto lembra o Capitol Hill de Washington, exceto pelo tamanho. No topo da colina o State Capitol, com cúpula dourada. Defronte, em baixo, a Praça Cívica.
Não sei o que era, mas nesse dia havia uma festa na Praça. Uma "caubóia" loira cantava as chatas "folk-songs". Um grupo representava Shakespeare, outro fazia aqueles espetáculos medievais de equilibrismo e mágica, outro dançava ao som de batuque afro. Uma salada.
Demos uma olhada no Capitol (que estava fechado) e seguimos rumo à casa de Molly Brown (que se salvou do naufrágio do Titanic). No caminho uma surpresa: um pow-wow.
Pow-wow é uma festa de congraçamento de vários tribos. Esta estava ocorrendo na igreja de St. James, no cruzamento da Washington St. com a 12 th St. Comecei puxando conversa com um índio de cerca de 45 anos e quase um metro e noventa de altura. Ele quase não dava informação. Mais tarde perguntei a um outro, que parecia um dos organizadores. Ele contou que ali havia cerca de 40 tribos, desde o Minnesota e as Dakotas, até os Ute do Colorado.
Havia muito sorteio (de latas de cervejas, pinturas, etc.). Entre os sorteios bateiras de índios (que cantavam quase uivando) davam o ritmo para a dança. No meio dos dançarinos muitos brancos vestidos de índio (ou eram índios honorários ou "irmãos de sangue"). Roupas muito coloridas. Muitos índios eram bastante gordos e vários tinham uma cara enorme, desproporcional. Quase todos muitos altos.
Na dança umas garotas brancas pareciam estar pulando carnaval, mas a maioria tinha uma dança lenta e compassada. Os homens usavam sininhos de alumínio nos tornozelos, que tilintavam enquanto eles dançavam.
Lá pelas tantas saímos à procura da casa de Molly Brown, mas o céu prenunciava chuva forte e eu fui em passo acelerado buscar o carro. Fim do dia.
Outros lugares a visitar em Denver são a Catedral da Imaculada Conceição (na Colfax, a avenida que corta a cidade e as vizinhas) e a casa da insubmergível Molly Brown, que ficou assim apelidada por ter sido uma das únicas sobreviventes do naufrágio do Titanic. A casa dela é uma mistura: estilo vitoriano, com leões de pedra na porta, esfinge egípcia, objetos gregos, etc.
O último passo em Denver foi o Colorado History Museum. A parte térrea é decepcionante, quase apenas objetos das décadas de 30 a 50 (geladeiras, máquinas de costura, anúncios de filmes, coisas da guerra, etc.).
A coisa que mais chamou a atenção (mas os americanos não divulgam isso) foi a existência de uma espécie de campo de concentração para japoneses, mesmo nascidos nos EUA. Só podiam levar uns poucos bens, até um certo peso. Só podiam sair dali uma vez por mês. Uma carta publicada num jornal da época questionava o por quê de se gastar dinheiro alimentando os japoneses que matavam os "bravos" soldados americanos e o por quê de não se destinar esse dinheiro às viúvas e mandar os japoneses de volta. Também se deveria separar os homens das mulheres para que não mais tivessem filho. Assinado, uma índia.
No subsolo a coisa mudou de figura. Um salão cheio de fotos e dioramas das mais variadas facetas do cotidiano; índios caçando búfalos, roubando gado de outras tribos, preparando a carne, brancos mineirando e coisa-e-tal. Na parede centenas de fotos de tudo o quanto é possível se imaginar: soldados, foras-de-lei, empresários, madames, prédios ...
Uma tabuleta enorme à altura da cintura vai narrando as efemérides locais, desde 1500, quando Coronado entrou pelo Colorado com seus homens (alguns anos notáveis) e depois, ano a ano a partir de 1803 (a compra de Louisiana).
Uma outra sala era dedicada aos vaqueiros, outra aos cavalos, outra (salão La Gente) aos "vaqueros" mexicanos, uma outra aos índios, mineradores, caçadores de peles, animais selvagens, etc. Muito completo, muito interessante.
Segue Idaho Springs ...
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