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CADERNOS DE VIAGEM

AMÉRICA DO NORTE - Estados Unidos - Kansas

Kansas City

Chamei um táxi por telefone e pintou um crioulão folgado que no meio da corrida parou para por gasolina e comprar alguma coisa para comer. O hotel era novamente superlonge da cidade (a corrida deu cerca de 15 dólares por uma estrada chamada Metcalf), num local calmo como um bairro distante costuma ser. Era confortável, com piscinas etc. Aí não deu mais para encarar táxis. Em frente ao hotel havia uma agência da BUDGET e alugamos um carro na manhã seguinte. Que sufoco! A toda hora eu queria mudar de marcha e quando pisava no desembraio quase batíamos a cabeça no vidro (era em realidade o freio, pois o carro era automático). Até eu me recondicionar foi um festival de brecadas súbitas.


No mesmo dia fomos ao Old Shawnee Town, uma réplica de cidade do início do século passado, com as casas de madeira, prisão, saloon, lojas, agência bancária... Nela fica a primeira prisão construída no Kansas em 1843. O construtor foi também seu primeiro prisioneiro.


No dia seguinte estivemos numa festa chamada de Bullwhacker Days no condado de Olathe (leia Olêiça), na Mahafie Farmstead, pela qual cobram 2 dólares por pessoa. Esta festa é uma comemoração à partida dos pioneiros para o Oeste. Nela houve uma representação cômica dos desperadoes (os bandidos do Velho Oeste) e uma apresentação duma banda de bluegrass de fama local (a "Blue and Gray Pickers", numa alusão aos exércitos nortista e sulista da Guerra da Secessão). Deles trouxe uma fita cassete com as músicas que cantaram.

Na fazenda havia uma diligência (stage coach) que levava a criançada para uma volta, havia carroções (covered wagons), guarnição de soldados, tepees de índios etc. Em cada um desses lugares pessoas davam todas as explicações que você pedisse. A nós gringos faziam uma dissertação mais detalhada (por exemplo, como os índios manejavam a parte superior dos tepees para que a corrente de vento levasse embora a fumaça da fogueira que faziam dentro do tepee para se aquecerem ou cozinharem).

Um gajo vestido de caçador de peles (trapper) nos explicou onde eles viviam, quando e para quê vinham à cidade ... Um fulano vestido como mórmon tocava um instrumento que parecia uma guitarra havaiana.

Comidas e bebidas típicas eram vendidas na barracas. Todos os voluntários que estavam trabalhando ali se vestiam como em meados do século passado, como soldado, como índio, caçador de peles ou cidadão.

No centro da fazenda uma casa que no século passado havia servido como posto de provisionamento para as caravanas das trilhas para o Oregon e para Santa Fé.

Dessa festa fomos ver um cemitério indígena no centro de Kansas City, KS , no Huron Park. Esse cemitério fica numa colina e ali estão enterrados chefes da tribo chamada Wyandot (alguns desses chefes tinham nascido no século XVIII) e muitos brancos também. É interessante destacar que os chefes índios tinham nomes cristãos, tais como Henry Jacquis (1788-1848), James Washington (1787-1852), Francis A. Hicks (1800-1855).

O cemitério estava abandonado, quando o pesquisador William E. Connelley fez em 1895-96 um levantamento das lápides existentes. Hoje há placas de bronze indicando os locais das tumbas e os nomes dos sepultados. Alguns não puderam ser identificados, mas há pla-cas com os dizeres UNKNOWN (desconhecido) indicando que naquele local há restos mortais.

Do cemitério fomos à downtown . Ela fica numa alta colina. Comemos num restaurante italiano (até a música era italiana!!!) e saímos caminhando pelas redondezas. As lojas já estavam fechadas. Fomos ver a igreja da Imaculada Conceição e, ali perto, há uma praça de onde se divisa a baixada, o rio Kansas, os inúmeros ramais ferroviários e a parte pobre da cidade. Ela própria sem atrativos ou embelezamentos turísticos. Uma grande cidade tipo São Paulo, vivendo apenas para sua economia produtiva.

Numa praça, um bando de pessoas jogava malha com ferraduras. Perguntei o nome do jogo e, obviamente, é chamado "horseshoe" (ferradura).

Nas redondezas, no Quality Hill, fica a igreja de Chouteau (dedicada a São Francisco Regis).

A primeira igreja de Kansas City foi ereta pelos povoadores franceses católicos. Em 1690 os comanches levaram os paramentos e demais bens da igreja num saque. Os padres franceses abandonaram a região subindo o Missouri.

Em 1723-1734 o padre Mercier acompanhou Bourgmont de Kawsmouth até o território comanche, no centro do estado de Kansas.

Os jesuítas estabeleceram uma missão na vila principal dos índios kansas em 1727. Os padres Lutz e Roux se estabeleceram em 1826 e entre 1833-1834 ainda ali viviam ministrando os sacramentos de casa em casa. O padre Roux estabeleceu em 1835 uma igreja em Kawsmouth, a de Saint François Regis, onde hoje fica o cruzamento da 11th St. e Pennsylvania, num terreno doado pelo fiel Pierre la Liberté. Na igreja há um esboço da igreja original e um catecismo em francês.

Como a maioria dos paroquianos era parente ou empregado da empresa de Berenice Chouteau (viúva de François Chouteau), a igreja passou a ser conhecida como Igreja de Chouteau. Entre seus primeiros paroquianos estava Jean Baptiste Charbonneau, filho de Sacajawea.

Ao lado da igreja ficava o primeiro cemitério de Kansas City. Nele estavam enterrados principalmente as vítimas de cólera. Mais tarde os ossos foram transferidos para a seção francesa do cemitério de St. Mary. Entre eles, os restos mortais de Jacques Fournais (Vieux Pino), que teria chegado a 125 anos e assistido à Batalha de Montreal em 1760.

Defronte a essa praça há um instituto de saúde e ao lado dele uma coluna alta, como um prédio de três ou quatro andares, e no topo dela um boi de cimento. Uma homenagem cafona à base econômica da região. Por ali por perto há várias placas de bronze indicando locais onde tiveram residência ou estabelecimento comercial os povoadores franceses da cidade. Visitamos a igreja da Imaculada Conceição.

Ainda nesse dia estivemos num museu chamado Johnson County, onde eram mostrados apetrechos e coisas da região, tanto dos brancos quanto dos índios.

Já no final da tarde fomos dar uma volta pela downtown. É curioso que, embora Kansas City fique às margens de dois rios de alguma expressão (os rios Kansas e Missouri), não há passarela para pedestres andarem às margens dele. Dizem que um vapor tipo barcaça do Mississipi promove passeios pelo Missouri, mas ninguém soube afirmar com certeza. Fizemos questão de ver o Missouri bem de perto, como tinha feito com o Mississipi. Para chegar até ele tivemos de caminhar por um bairro estritamente fabril, cruzar a linha férrea e andar por picadas em terrenos baldios.

Das margens do rio se vê o centro da cidade atrás dos armazéns e fábricas. É uma cidade acinzentada e feia. O centro é um pouco mais bonito. Depois mudamos para um hotel ali no centro. Por perto há um estádio enorme e estava havendo um campeonato estudantil de vôlei feminino. Na lavanderia do hotel conversei muito com uma havaiana enquanto lavávamos roupa. A única coisa que ela sabia do Brasil é que nosso vôlei estava no topo do mundo. A propósito, um cartaz luminoso anunciava um show brasileiro, cujo nome esqueci (Nights of Brazil ou Nights in Rio ou algo assim).

 

Segue Leavenworth ...

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