CADERNOS DE VIAGEM
AMÉRICA DO NORTE - Estados Unidos - Nova York
Nova York (parte 3)
Estamos agora perto da Chinatown, talvez o mais bagunçado e sujo bairro de Manhattan. Ali é a cara de São Paulo. Pastéis sendo fritos nas ruas, lojinhas de bugigangas e eletrônicos, calçadas sujas e irregulares etc.
Vizinha à Chinatown está o Greenwich Village, o bairro boêmio da cidade, com seus cafés à parisiense e exposições de arte.
No extremo oeste da ilha ficam o estuário e a parte velha da cidade, hoje centro financeiro. Lá os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais estabeleceram um entreposto comercial, murado para defesa contra os índios manhattan. Ao lado do que restou desse muro se construiu a famosa Wall Street. Para quem gosta, o pregão da Bolsa de Valores de Nova Iorque pode ser visitado, mas custa uma pequena taxa.
Também nessa parte da ilha fica o porto de onde saem barcas para a Ellis Island, a Estátua da Liberdade e a Staten Island (uma ilha na foz do estuário). Do porto sai também uma pista para caminhada, conhecida como The Stroll, que acompanha o rio Hudson.
No cais é comum encontrar artistas amadores tocando jazz, blues ou reggae. Há também um monte de restaurantes e de turistas, a maioria japoneses ou americanos de outras partes do país.
Do porto se vê bem as pontes de Manhattan e do Brooklin, ambas com seu trânsito normalmente lento pelo congestionamento. Na ponte do Brooklin o metrô passa numa pista abaixo das dos carros.
No porto de Manhattan há uma dezena de edifícios recriando o aspecto que ele tinha no século passado. Alguns navios da época estão atracados para visitação.
Num outro dia, experimentei um passeio de duas horas de barco pelo estuário, entre a Roosevelt Island e o rio Hudson, na altura da Penn Station. O barco passou perto da Estátua da Liberdade. Decepcionante, ela não é maior que o Cristo Redentor. Toda esverdeada, há um mirante no topo da base dela e outro na tiara. Como o passeio não permitia dois desembarques, optei por descer na Ellis Island, onde fica o Museu do Imigrante.
Esse museu traz tudo que se pode imaginar sobre a explosiva imigração que Nova Iorque sofreu em meados e fins do século passado, primeiro com os irlandeses fugindo da Grande Fome e depois com os italianos e outras etnias. Já no salão de entrada há pilhas de malas, baús, sacos, tudo que os imigrantes usavam para trazer seus pertences.
Tinha um grande painel com o mapa dos Estados Unidos e uma pequena mesa à sua frente. Fui ver o que era: nela havia uma lista de países e seus códigos (os mesmos do DDI dos telefones) e botões. Quando você escolhe um código, aparece no painel o número de habitantes originários daquele país vivendo em cada estado. Por curiosidade, teclei 55 (Brasil) e, entre outros, achei 31 brasileiros vivendo no Alaska.
Noutro canto, armações de madeiras mostravam gráficos relacionados com a imigração anual, com a antropometria do americano, uma árvore com a origem dos vocábulos estrangeiros usados pelos americanos etc.
Nos andares superiores, as salas exibem fotos, documentos e explicações dos demais aspectos dos serviços de imigração: saúde, documentos, vistos etc. Não deu para ver tudo pelo adiantado da hora.
Perto do porto fica a Universidade de Nova Iorque. A vizinha St. Ann Street tinha cheiro de urina e era provavelmente albergue de sem-tetos.
Logo ali perto a Wall Street, o Banco Central de Nova Iorque e a Bolsa de Nova Iorque. A rua parece com o Largo do Café (na rua São Bento, em São Paulo), isto é, sufocada por prédios gigantescos, que praticamente só permitem que o sol atinja a rua quando ele está a pino.
No dia 12 estava passeando pelo centro da cidade e era Dia da Bandeira. Nessa data há a parada da polícia de Nova Iorque. É curioso como até aqui eles mantêm a identidade nacional dos grupos da cidade. Conversei bastante com os irlandeses, uns animais de mais de dois metros de altura, que desfilam tocando gaitas de fole. Eles acharam curioso um "irlandês" da América do Sul e contaram algumas coisas sobre a comunidade e reconheceram que os escoceses são melhores gaiteiros que eles. Há outros grupos na polícia, tais como os italianos, gregos e daí por diante.
A outra parada que vi foi a dos homossexuais, na 5ª. Avenida. Estávamos defronte a Catedral de St. Patrick. Havia tudo quanto era espécie de gays e lésbicas: os americanos, os latinos, os do tipo punk, os da polícia, os presbiterianos ... No final vieram membros de igrejas, as avós e os amigos dos homossexuais. Enfim, uma festa aquilo que por aqui é nódoa. Um grupo de moças à nossa frente cumprimentava gente em quase todos os blocos. Não deu outra, no fim elas aderiram (assumiram??). Num beco em frente à catedral alguns mais tradicionais (lembro-me de um judeu tradicional) com cartazes contra a parada, dizendo que viadagem era desvio e não motivo para comemoração. Uma puritana (pinta de crente) estava com a Bíblia aberta. Um desfilante gritou para ela "Deus está vendo", como a dizer que ele era muito mais honesto que ela. Outro leu o que ela mostrava e polidamente disse que tinha uma Bíblia em casa e que iria lê-la.
É também muito interessante a forma como alguns grupos assumem a identidade visual ditada pela coletividade a que pertencem. Na rua 47 (se não me engano) os judeus se vestem, mesmo sob sol escaldante, com longos sobretudos pretos e usam o gorrinho e as típicas suíças enroladas. Muitos dos pretos, mesmo sob sol quente, usam pesados tênis, calças "jeans" e blusas grossas, às vezes de náilon. Os latinos usam cabelos como os de Chitãozinho/Xororó.
As empregadas de escritórios e bancos se trajam com saias longas e cafonas, geralmente de cor escura, muitas vezes acompanhada de jaqueta tipo paletó. Os rapazes na maioria das vezes usam ternos escuros, mesmo no verão. Muitos desses "mauricinhos" e "patricinhas" usa tênis com os ternos ou vestidos quando estão andando pelas avenidas de Manhattan. Deixam para calçar os sapatos apenas nos escritórios.
Na hora de comer eles também não se apertam. Muitos comem pizza ou saladas, deixando os paletós nas sujas escadas ou se sentando nos degraus imundos.
As ruas são mais calmas que as do Brasil, exceto na hora do "rush", quando ficam iguais às de São Paulo. Geralmente se obedecem aos semáforos e avisos de preferências aos pedestres. Apenas os táxis avançam sobre os pedestres.
Há mendigos nas ruas, mas se você lhes nega ajuda, eles agradecem e se afastam, sem perturbar.
Eu, nessa viagem, fiquei hospedado numa universidade em Hicksville, em Long Island, condado de Nassau, também região residencial. Para chegar até esse lugar, o melhor meio é pegar um trem, que normalmente é usado por executivos que moram ali. O pessoal de Nova Iorque prefere andar uma hora de trem e morar nesses vilarejos residenciais a apartamento em Manhattan, tanto pelo sossego quanto pelo preço.
A cidade tem poucas pessoas nas ruas. O trânsito é calmo e as casas rodeadas de gramados, como em Cotton-Harmon. Elas parecem desabitadas, não fosse o ladrar dos cães.
Um outro passeio interessante é pegar o metrô para a ir conhecer a praia de Coney Island, ao sul do Brooklin, a praia dos nova-iorquinos e terra (dizem) do cachorro-quente e do sorvete de cone. É bem verdade que lá há mais latinos que americanos.
Pelo caminho, o metrô atravessa o distrito do Brooklin e a gente vê que a sofisticação e asseio de Manhattan é um fenômeno isolado. O Brooklin parece uma cidade grande brasileira, é desalinhada e suja. Latinos ouvem rádio em volume altíssimo nos vagões do metrô, sem qualquer consideração para com os outros.
Um enorme parque gigante e um aquário marítimo são duas das principais atrações locais. Uma larga passarela de madeira vai seguindo por sobre a areia da praia a uns 50 metros do mar. A areia é úmida e há gaivotas por toda parte.
De Nova Iorque pode-se pegar um trem para Niagara Falls. Mas sobre a cachoeira vamos contar em artigo sobre a província de Ontário, no Canadá.
Por mera curiosidade pegamos um trem para Crotton-Harmon, uma cidade da periferia escolhida a esmo. A composição sai de Manhattan atravessando o rio Harlem sobre uma ponte móvel, que gira sobre seu eixo para dar passagem aos barcos quando não é horário de trem cruzar o rio. Depois de passar ao lado do estádio de beisebol do Mets, no Bronx, vai acompanhado o rio Hudson, que se torna cada vez mais largo. Muitos minutos além, o rio forma uma espécie de bacia enorme, utilizada por muitos para brincar com jet-sky. Uma ponte altíssima (a Tappan Zee) cruza essa baía, ligando o estado de Nova Iorque ao de Nova Jérsey.
Em Crotton-Harmon apenas tomamos um lanche e comemos amoras de uma planta na calçada. É uma região residencial, com aquelas casas bacanas que vemos nos filmes (o do E.T., por exemplo) e ruas desertas. Não há sinal de vida ou de crianças nas ruas e jardins.
Segue Washington ...
Índice dos Estados Unidos
Criado e administrado por Marco Polo T. Dutra P. Silva
® Site registrado na Biblioteca Nacional desde 2003. A reprodução de partes de artigo é permitida desde que informado o título dele, seu autor e o endereço da página web correspondente.