Chegamos a Avranches, nosso próximo quartel-general, no fim do dia 13.
Nela, hospedamo-nos em um hotel bem na entrada da cidade, ao lado do Jardin des Plantes.
Este jardim não é grande, mas muito rico em espécimes florais de diversas partes do planeta. Muito bem cuidado e com arranjos de canteiros por cor, num conjunto maravilhoso. De sua extremidade se divisa a planície de pastos com gramíneas salgadas pelo ar que vem do mar e pelas marés cheias. Os carneiros que ali pastam têm sua carne naturalmente salgada, o que a torna muito apreciada na culinária francesa. Ao fundo da planície, ao longe, o Monte Saint Michel.
A cidade é pequena, mas uma excelente localização para se alojar antes de uma visita ao Monte Sain Michel.
Dia 16. O dia amanheceu muito frio e chuvoso. Saímos para comer algo e o tempo foi aos poucos melhorando. Aqui na zona do Mar do Norte as coisas são bem instáveis.
Visitamos o Museu dos Manuscritos do Monte Saint Michel. Um museu aparentemente simplório por fora, mas magnífico por dentro.
Ascendendo, a gente passa pela povoação da área no Neolítico e depois pela tribo celta dos Abrincates. Mais tarde veio a romanização e o cristianismo.
A região de Avranches era tomada por florestas e mangues. Uma via romana cortava a região. Marés excepcionais (provavelmente tsunamis), com muito vento em 811, 1024, 1163 e 1191 ajudaram a salgar a terra e desflorestar a região. Com isso, foi-se criando o enorme espaço de areia que hoje é inundado na maré cheia.
No fundo do areal há um monte que era tido pelos celtas como lugar para onde iriam morar as almas dos mortos no mar. Perto há outro monte, Tombelene (*tum, de raiz indoeuropeia, designa um elevado), com a mesma lenda.
Conta a Revelatio Ecclesiae Sancti Michaeli, um livro sobre a história do Monte de São Miguel, na qual São Miguel apareceu ao bispo Aubert e pediu para construir uma capela cristã no monte sagrado celta.
A propósito, fomos conhecer a igreja de Saint Gervais (São Gervásio), na cidade. Ali está exposto o crânio que seria do bispo Aubert. Sua caveira mostra uma perfuração na testa. Conta a lenda que o anjo Miguel apareceu ao bispo em duas ocasiões pedindo que mandasse erguer uma igreja na ilha. Achando ter sido apenas um pesadelo, o bispo ignorou o apelo. Quando veio pela terceira vez, o anjo já impaciente tocou-lhe a testa, provocando o orifício, acabando com a dúvida do prelado. Corria o ano de 708, quando então Aubert começou a pedida construção da abadia de St. Michel. Estudos modernos sugerem um tumor benigno, já que o crânio pertence a um homem de muita elevada idade.
Seguindo a visita no museu, nos é contado sobre a construção da abadia pedida pelo anjo.
Adiante, ficamos sabendo que a posse da abadia sempre foi objeto de disputa política entre os normandos e os bretões.
Por fim, entra na seção de manuscritos. Havia uma dupla de moças estudando os quadros nas paredes. Mostram-se os estilos de letras (tipos) que os manuscritos usam. Suas iluminuras, os objetos dos quais eram extraídas as tintas para pintar as figuras etc.
Uma sala de projeções consolida o que vai sendo mostrado nos computadores durante o caminho: filmes sobre diversos assuntos relativos aos pergaminhos: tipografia, caligrafia, restauração de livros antigos, fabricação de papel para eles ...
Em suma, um museu que vale a pena visitar.
A fortaleza que o abriga não tem qualquer coisa de excepcional.
Um dia estávamos fazendo um passeio pela cidade e um rapaz parecia seguir-nos. A gente ía para um canto e ele atrás. Saíamos para outro lado e também ele ía para lá. Era estranho, pois só estávamos nós e ele na rua. Por fim, não se aguentou e veio perguntar-nos se éramos do Brasil. Ele estava nos seguindo para confirmar que estávamos conversando em português. Ha ha ha ... Contou que era de Campinas (se não me engano) e estava morando e estudando na França.
Visitamos o famoso Mont Saint Michel no dia seguinte. E no dia 17 de maio, saímos de Avranches para Lorient. Estava um dia brasileiro, bastante sol, a despeito do vento frio.
Segue para Mont Saint Michel ...
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