Dia 14 de maio. Fomos a Mont Saint Michel, um morrote rochoso na foz do rio Couesnon. Tinha originalmente o nome de Mont Tombe (Monte Tumba) e depois passou a ser conhecido como Mont-Saint-Michel Au Péril de la Mer (Monte São Miguel, no perigo do mar). Ele se liga à terra firme da planície ou dela se destaca conforme a maré é alta ou baixa. Quando a maré sobe, possantes correntes marítimas tornam a travessia um perigo de vida.
Nas lendas dos povos, os abrincates celtas ou talvez mesmo dos povos mesolíticos que os antecederam, o cerro era morada das almas dos homens que pereciam afogados no mar.
Para extirpar tais crenças pagãs, os cristãos decidiram erguer no monte um símbolo da sua religião, como que mostrando sua superioridade sobre as deidades antigas. Como vimos no museu em Avranches, foi erguido a mando do bispo Aubert. O presságio de um touro amarrado sobre o Monte Tombe anunciou o local do santuário.
Para chegar ao sítio, dirigimos por cerca de meia hora pelos prados salgados. A certa distância do monte, ficam enormes estacionamentos, onde obrigatoriamente se deixam os carros. Micro-ônibus levam as pessoas por uma passarela de concreto, há pouco construída, até a uns 100 metros da base do morro.
Como a mare estava baixa, eu e o Paulo andamos pela areia úmida e dura. Para quem conhece, parece-se com a areia da Praia Grande, em Santos. Porém mais clara.
A ilhota é tomada por uma abadia, depois fortaleza dotada de enormes torreões circulares. No topo dela, a igreja de São Miguel, que ostenta uma agulha altíssima, tendo no topo a imagem do Arcanjo.
As ruas no interior da abadia são estreitas e tortuosas, como em qualquer aldeia medieval, porém quase sempre inclinadas.
Ali conhecemos uma capela que serviu de prisão (que os detentos chamavam de Le Cachot du Diable) no tempo em que era fortaleza até os anos 1860. Ali ficou o rei Luís XI, trazido em uma jaula de madeira em 1472. Também ali estiveram presos políticos da Monarquia de Julho, como os socialistas Amand Barbès e Auguste Blanqui. Ou Mathurin Bruneau, encarcerado em 1821, um picareta que se apresentou como nobre francês nos Estados Unidos, voltou com passaporte de cidadão americano, e até se apropriou da identidade do já defunto rei Louis XVII.
Ou, ainda, o patriarca armênio Avedik, supostamente o Máscara de Ferro capturado pelos otomanos, que lhe puseram a máscara, em 1706. Ele tinha sido acusado de perseguidor dos cristãos e ao abade de São Miguel foi ordenado que o mantivesse lá, sem qualquer questionamento ou pesquisa sobre quem seria ele. Transferido à Bastilha, em Paris, foi obrigado a tronar-se padre e morreu nessa capital em 21 de julho de 1711.
Seguimos morro acima, até a igreja de São Miguel. Diante dela, um pátio enorme, de onde se divisa o mar e a planície vizinha. Ficamos ali um bom tempo, apreciando a subida da maré. Havia algumas pessoas que tinham ido pelas areias e agora voltavam a passo apertado, pois a maré montava. No ar, um helicóptero vigiava toda a área, sobrevoando incessantemente o monte, pronto para resgatar quem fosse apanhado pelas correntes do mar.
Entramos na igreja dos miquelots (devotos de São Miguel). A enorme igreja abacial de São Pedro,em estilo românico, abriga a capela de N. Sra. Sob-Terra, de estilo pré-românico carolíngio (coisa que li, mas que desconheço o significado). Ao lado da igreja, um grande claustro é aberto ao público quando não usado pelos monges.
Na abadia foi instalada uma enorme roda de madeira, ao estilo gaiola de hâmsters, onde os prisioneiros tinham de caminhar para gerar tração, pois ela funcionava como um primitivo elevador que levava material de construção ou víveres para o alto do edifício.
No mosteiro, o prato típico é um omelete local. Ali são feitos também deliciosos doces, em particular uma geléia de pera. Huuuummmmmm!
Segue para Saint Malo ...
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