Vizinho a Salisbury fica Old Sarum, a antiga fortaleza celta e depois anglo-saxã, situada no topo de uma colina. Seu nome (Sarum) vem do celta Sorvia-dun ("fortaleza à beira do rio gentil", isto é, o Avon). Os romanos latinizaram o nome para Sorviodunum. Os saxões traduziram o nome para Searobyhr ou Searobuhr ou Serebrig (significando Cidade da Batalha), que foi latinizado pelos normandos para Sarisburia ou Salisburia. Daí vieram Salisburig e Sarum (uma abreviatura usada pelos clérigos Sar.um).
Old Sarum fica rodeada por dois anéis concêntricos de altas trincheiras (cerca de 30 metros de altura), o que dificultava os ataques dos povos vizinhos. Hoje está em ruínas e a edificação em melhores condições é o Palácio Real.
Embora caçadores já andassem pela região por volta de 4.000 a.C., foram os celtas que construíram o forte entre 500 a.C e 50 d.C. Eles viviam nas fazendas, plantavam grãos e criavam gado. O forte lhes servia como centro administrativo, mercado de trocas e local de abrigo quando do advento de ameaças externas como os vizinhos fortes Figsbury Ring e Clearbury Rings.
Fosso protetor do vilarejo e ponte de acesso |
A primeira construção no Palácio Real data dos primeiros anos do castelo e provavelmente era de madeira e pedras. Fora das muralhas ficava a catedral, que parece ter sido enorme como a de Salisbury. Depois o forte foi tomado e usado pelos romanos. Quando estes abandonaram a Inglaterra, o forte ficou abandonado por cerca de 300 anos, pois o povo desceu para mais perto do rio, onde ficava mais protegido do vento e perto da água (o rio Avon).
Foi usado novamente em 552, quando os celtas se defenderam do exército saxão de Cynric e foram derrotados.
A região ficava no reino de Wessex, pois um anel de ouro achado perto de Old Sarum ostenta o nome do rei Aethelwulf, de Wessex. Além disso, achou-se na Suécia u'a moeda de ouro com o nome do rei Ethelred (978-1016) de Wessex, cunhada na casa da moeda de Old Sarum.
Como toda a Inglaterra, os viquingues atacaram Salisbury. Os saxões revitalizaram o forte, ampliando as trincheiras. Isso trouxe bons resultados: embora a cidade de Wilton (a 2 km de Old Sarum) tenha sido saqueada e queimada pelo rei dinamarquês Sweyne, Old Sarum foi deixada intocada. Isso não a impediu de ter de pagar um tributo aos dinamarqueses (danegeld) nos anos seguintes para não ser incomodada.
A fortaleza, então, voltou a ser abandonada até a chegada dos normandos, em 1066.
No período normando, Old Sarum funcionou como o centro de governo, até 1070, quando, já tendo dominado todo o território inglês, o rei Guilherme pôde desmanchar seu exército.
Ao contrário dos povos anteriores, os normandos usavam os castelos para proteger a elite e não o povo. Assim, o Palácio de Old Sarum, como os demais fortes de colinas, passaram ao uso dos nobres, civis ou eclesiásticos.
Quebrando a tradição saxã, o arcebispo normando Lanfranc, de Canterbury, mandou aos bispos que centralizassem suas sés, trazendo-as do meio rural para centros urbanos (um dos instrumentos normandos para controlar a população).
A sede do bispado veio em 1075, quando o bispo flamengo Herman (1048-1078), do povoado rural de Sherborne, transferiu sua cátedra para Old Sarum. Herman tinha sido capelão do rei saxão Eduardo, o Confessor, durante seu exílio na Normandia.
Em 1078 Santo Osmundo, sobrinho e chanceler de Guilherme, foi nomeado bispo de Salisbury (1072-1099), e mandou construir a Catedral de Salisbury, mudando para lá a sede episcopal em 1092.
Em 1100 a Catedral de Old Sarum foi reconstruída por ordem de Roger, então bispo de Salisbury, natural de Avranches, na Normandia e tutor de Henry, coroado rei em 1100. Roger se mudou para Old Sarum.
O chanceler Roger foi escolhido bispo de Salisbury, mas o arcebispo de Canterbury procrastinou sua sagração por 5 anos. Roger era o representante do rei Henrique I quando este ia à Normandia e detinha um enorme poder temporal. Em sua administração introduziu um eficiente método de controle das contas reais, criando um órgão governamental denominado Exchequer (Tesouro Público).
Nesse período ele ordenou a reconstrução da Catedral de Old Sarum, da qual hoje só restam as fundações fincadas em um enorme gramado, e o Palácio Real, hoje também em ruínas.
Ele adquiriu enormes extensões de terras e inúmeras propriedades nos condados de Dorset e Wiltshire (onde fica Salisbury). Em 1139 foi preso pelo rei Stephen, sucessor de Henry, e teve seu palácio confiscado. Nesse mesmo ano o bispo morreu de febre em Old Sarum.
Depois de Roger, foram bispos em Old Sarum Jocelyn de Bohum (1142-1184), Hubert Walter (1189-1194), Herbert Poor (1194-1217) e Richard Poore (1217-1227), que levou o paço de volta a Salisbury.
A tensão entre o bispo e o governador militar em Old Sarum aumentou depois da morte do bispo Roger, principalmente pela concorrência na posse das águas. Os poços do Castelo e da Catedral não eram mais suficientes para a população, que crescera muito. O bispo Walter começou a pensar na mudança da cátedra de volta a Salisbury.
O clímax da discórdia ocorreu quando, voltando de uma procissão à igreja de São Martinho, em Milford, o deão da Catedral e o clero encontraram o Portão Leste fechado, sob alegação de ameaça de ataque estrangeiro, uma óbvia desculpa esfarrapada. Sentindo-se humilhados, eles pediram ao Papa Honório III autorização para mudar a Catedral, no que foram atendidos.
Em 1226 as tumbas dos bispos Osmundo, Roger e Jocelyn foram trasladadas para Salisbury e a velha Catedral abandonada em definitivo.
Apesar do abandono de Old Sarum, até 1832 o povo desse distrito tinha representação no Parlamento inglês.
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