Na costa norte da Cornualha fica a minúscula cidade de Tintagel (leia tintádgel), cujo nome córnico é Dyntagel. Ela é o amálgama de dois vilarejos antiquíssimos: Trevena e Bossiney (que aparece no Doomsday Book em 1086 como Botcinnii). Lá suspeita-se que nasceu o rei Artur, pois era o maior castelo da região. É um argumento frágil e todas as indicações sempre se referem ao rei no condicional.
Também nesse castelo teria vivido o rei Mark, cujo sobrinho Tristan teria se enamorado e fugido com Isolt, a noiva irlandesa de Mark. Outra lenda conta que o palácio pertencia a Gorlois, duque de Cornualha e marido da bela Igerna. O rei Uther Pendragon se apaixonou por ela e sitiou Tintagel. Com a ajuda do mago Merlin, que mudou seu rosto para que se parecesse com Gorlois, Pendragon entrou à noite no castelo e dormiu com Igerna, gerando Artur, que teria sido deixado na praia de Tintagel e ali encontrado por Merlin, que o educou.
Na região moravam os celtas da tribo dos cornúvios e suspeita-se que o castelo de Tintagel teria sido o forte de Durocornovium, que os historiadores nunca conseguiram localizar com segurança.
A região produzia estanho, que comerciava com o continente, mantendo os cornúvios em permanente contato com os bretões e os romanos de outras províncias. Mesmo depois da retirada dos romanos, o contato prosseguiu.
Cristãos iam e vinham da Cornualha ao continente, como mostram as inúmeras igrejas da região. Reis celtas governavam a região provavelmente do castelo, o que explica a lenda do rei Artur.
Parece que depois de 600 d.C. o castelo foi abandonado.
O castelo hoje existente parece ter sido construído no século XIII por Richard of Cornwall, irmão mais novo do rei Henry III. Os principais castelos da Cornualha nesse período eram os de Launceston, Tremator e Restormel. O de Tintagel sequer recebia muita manutenção.
No século XIV o Salão Nobre já não tinha teto. Em 1483, embora a capela de St. Julitte estivesse em uso, o castelo estava em ruínas e abandonado.
Uma estradinha cascalhenta desce por um grotão largo até o mar, que arrebenta com estrondo nas pedras, como em toda a região, devido aos fortes ventos. Em dia ensolarado, o mar é verde-garrafa, mas com o tempo ruim se torna cinza e tenebroso. À esquerda fica um morro avançado no mar.
A erosão do vento e da água seccionou o morro em duas partes: uma ficou como um ístmo, ligado à terra por uma faixa estreita de pedras. De cada lado o mar fustiga esse cordão umbilical de pedra e, com o tempo, a tendência é a de separar a parte avançada do morro, formando uma ilhota. Essa parte do morro é aproximadamente redonda. Sobre ele fica a parte principal do castelo de Tintagel.
A caverna de Merlin, cavada na base de um dos morros, pode ser visitada no período de maré baixa.
O centro de informações fica perto da praia. Dali, uma escadaria cavada na pedra leva ao castelo. Lisa e estreita, requer extremo cuidado. No topo do morro está o portão que dá acesso à torre principal do castelo. As construções estão todas em ruínas: a capela de St. Jullitte, o salão nobre, tudo. A vista é magnífica, mesmo com o tempo ruim.
Uma pontezinha liga as duas partes do castelo. Nela começa uma escadaria de tirar o fôlego que leva às outras ruínas do castelo, no topo do morro. Nesse outro lado do castelo, os produtores e a população vinham comercializar, num pátio ainda claramente identificável. Mais alto que esse pátio está a torre de guarda, onde ficava o portão que dava acesso ao vilarejo.
Ambas as partes da fortaleza são cercadas de muros de pedra, uma parte da qual já desmoronou.
Nos subúrbios da vila está a igreja de St. Materiana, um obscuro santo celta. Dela se vê ao longe o castelo de Tintagel. Essa igreja foi construída pelos normandos no século XII, em meio a estranhos montículos de terra que cobrem túmulos humanos. Como tais sepulturas não se afiguram como normandas e nem pré-históricas, acredita-se que sejam de cristãos que lá moravam.
Segue para Glastonbury ...
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