York tem um ar marcadamente medieval. As ruas são estreitas e sinuosas, ladeadas por construções de dois ou três andares, geralmente em tijolo marrom e telhado bastante inclinado. Uma das mais pitorescas é conhecida como The Shambels, onde ficavam todos os açougues da cidade. Shambel era o nome das prateleiras (ainda em uso), onde a carne era exposta.
Outra rua interessante é a Stonegate, onde uma casa tem um demônio vermelho entalhado na madeira como decoração.
Pelas frestas de algumas ruas se vê as torres do York Minster, a catedral local.
A cidade começou com o forte romano de Eboracum, onde a IX Legio se estabeleceu em 71-73 d.C. após bater a tribo celta dos brigantes e dos parísios. No século III Eboracum tinha se tornado uma colonia, o mais alto posto que uma cidade poderia conseguir. Era uma cidade cosmopolita, como se vê nas lápides guardadas no museu local. Ali viviam soldados de todo canto da Europa.
Em Eboracum morreu o imperador romano e lá seu filho Constantino foi proclamado imperador.
Pouco após a retirada dos romanos, a vila já era conhecida por seu nome anglo de Eoforwic. Em 625 era a sede do rei Edwin, casado com Ethelburga, filha cristã do rei de Kent (vide Whitby). Ali, em 627, o rei foi batizado. Era o início da segunda invasão romana, desta vez espiritual.
Os escandinavos começaram a atacar a Inglaterra. No ano de 867, segundo o bispo Asser, de Winchester, eles entraram pela East Anglia até York. Naquele tempo os nortúmbrios tinham deposto seu rei Osbert e em seu lugar nomearam o tirano Ella.
Osbert e Ella juntaram suas forças e marcharam sobre York. Os viquingues fugiram com a aproximação dos anglos. Para evitar o retorno dos dinamarqueses, os anglos destruíram as paredes da cidade. Mas, impelidos pelo desespero e pela necessidade, os viquingues pularam sobre os cristãos e praticamente os dizimaram.
A cidade passou a ser conhecida pelo nome adaptado de Jorvik. Tornou-se em 948 a capital viquingue por 50 anos e ali chegou a abrigar 10.000 pessoas. A marca dessa dominação ainda existe no sufixo gate (gata, rua), por exemplo. Ou nos nomes de ruas como Goodramgate (do líder dinamarquês Gutherum) ou Coney St. (de koning, rei).
Em 1069 os normandos reduziram a cidade a escombros. Até o Minster foi destruído. O arcebispo normando Thomas de Bayeux o mandou reerguer em 1079, obra que se encerrou um século depois, sob o arcebispo Roger de Pont l'Evêque.
No centro de York os rios Foss e Ouse (maior) se fundem. Uma passarela vai acompanhando parte do Ouse, coalhado de barcos para turistas. Essas passarelas eram os lugares favoritos para os duelos entre os gentis-homens da cidade.
Parte do centro da cidade está cercada por muros, com sentinelas redondas e portões para entrada. Dentro dela fica o Clifford's Tower, uma torre de observação antiqüíssima do século XIII, sobre uma colina perto do rio Ouse. A ela se chega subindo uma escadaria. Do alto da torre se vê toda a cidade e os restos de seus muros.
É uma torre arredondada e alta. Seu interior é grande, talvez do tamanho de uma quadra de tênis ou de futebol de salão. As paredes são lisas e altas. Umas poucas janelas e fendas.
Nela em 1537 foi enforcado Robert Aske, líder de uma insurreição conhecida como Peregrinação da Graça.
A torre ganhou seu nome de outro enforcado: Roger de Clifford. Roger apoiava Thomas, duque de Lancaster, em sua disputa com o rei Edward II. Os nobres foram vencidos pelo rei na batalha de Boroughside em 1322 e os partidários do duque (inclusive Roger) foram enforcados e suas cabeças espetadas na Micklegate Bar.
O Jorvik Viquingue Centre é caro, mas muito interessante para ter um conhecimento visual de uma vila viquingue. Um carrinho tipo bate-bate vai levando lentamente por um caminho semi-escuro. Figuras características de épocas vão passando, como se a gente estivesse recuando no tempo. Passa-se pela década de 20, pela fábrica de castanha açucarada da Sra. Craven (cerca de 1860), pelo conspirador papista Guy Fawkes (1605), pela Peste Negra (1348) ...
Depois ele vai passeando bem devagar pelas ruas e casas de uma vila viquingue. As pessoas falam em norueguês antigo, contando histórias, vendendo peixe. Os sons, cheiros, biotipos e arquitetura foram recriados com base nos estudos dos objetos pesquisados, inclusive fezes e crânios, da fonética e das esculturas deixadas.
A Catedral de York, a York Minster, é enorme e tem pé direito de uns 25 ou 30 metros. A catedral, como já dissemos, foi construída sobre os escombros da anterior. Ela é ampla, toda esculpida na pedra e com enormes vitrais.
Apesar da importância do Minster, a única tumba real é a do príncipe William de Hatfield, filho do rei Edward III, ali casado em 1328 e enterrado em 1346. O exato local do seu túmulo é desconhecido. Também alguns bispos ali descansam, como Thomas Savage (1501-1507).
Até a Dissolução, o bispado de York teve os seguinte titulares:
614 |
Eborius |
|
678 |
Bosa |
625 |
Paulinus |
|
705 |
John |
664 |
Chad |
|
718 |
Wilfrid II |
669 |
Wilfrid I |
|
|
|
732 |
Egbert |
|
1070 |
Thomas |
|
1317 |
William of Melton |
767 |
Aethelbert |
|
1101 |
Gerard |
|
1342 |
William la Zouche |
780 |
Eanbald I |
|
1109 |
Thomas II |
|
1352 |
John of Thoresby |
796 |
Eanbald II |
|
1119 |
Thurstan |
|
1374 |
Alexander Neville |
837 |
Wulfsige |
|
1143 |
William FitzHerbert |
|
1388 |
Thomas Arundel |
837 |
Wigmund |
|
1147 |
Henry Murdac |
|
1396 |
Robert Walby |
854 |
Wulfhere |
|
1153 |
William FitzHerbert |
|
1398 |
Richard le Scrope |
900 |
Aethelbald |
|
1154 |
Roger Pont l’Evêque |
|
1407 |
Henry Bowet |
|
Hrotheweard |
|
1181 |
Geoffrey Plantagenet |
|
1425 |
John Kemp |
931 |
Wulfstan I |
|
1215 |
Walter of Gray |
|
1452 |
William Booth |
958 |
Oskytel |
|
1256 |
Sewal of Bovill |
|
1465 |
George Neville |
971 |
Edward |
|
1258 |
Godfrey of Ludham |
|
1476 |
Lawrence Booth |
972 |
Oswald |
|
1266 |
Walter Giffard |
|
1480 |
Thomas Rotherham |
992 |
Ealdwulf |
|
1279 |
William Wickwane |
|
1501 |
Thomas Savage |
1003 |
Wulfstan II |
|
1286 |
John le Romeyn |
|
1508 |
Christopher Bainbridge |
1023 |
Aelfric Puttoc |
|
1298 |
Henry of Newark |
|
1514 |
Thomas Wolsey |
1051 |
Cynesige |
|
1300 |
Thomas of Corbridge |
|
1531 |
Edward Lee |
1061 |
Ealdred |
|
1306 |
William Greenfield |
|
1545 |
Robert Holgate |
No Museu do Castelo são apresentadas as guerras civis, como era a prisão no século XVIII, vestimentas femininas dos séculos XVIII e XIX, reconstituição de um centro de cidade do século passado, etc.
Como cidade rica, York abrigava corporações de ofício e grandes empresas mercantis (guilds). Uma dessas empresas era a Merchant Adventurer's Company, fundada em 1357, cujo Salão Nobre é muito lindo e merece uma visita.
York é conhecida como a cidade dos 140 fantasmas. Como os da tropa de soldados romanos que atravessam marchando o porão de uma casa (a Treasurer’s House) e desaparecem atravessando a parede. Esse porão fica na rota de uma antiga estrada romana. Teria a patrulha romana perecido em mãos de pictos?
Outro fantasma de York é Barguist, um cão de olhos vermelhos que vagueia pelos becos da cidade.
Alguns juram ter visto sangue escorrendo das paredes do Clifford's Tower. Crêem ter sido sangue dos judeus que cometeram suicídio em massa na torre em 1190 após um ataque anti-semita liderado por Richard Malebisse e um frade desconhecido, que tocaram fogo na torre esperando a rendição dos judeus que lá haviam buscado refúgio (não lembra a história do sítio de Massada em 70 d.C.?).
Uma certa Jane Evans recebeu o espírito da judia Rebeca, que esteve na Clifford's Tower durante o conflito. Rebeca descreveu a York medieval e a história do levante anti-semita e como sua família escapou da torre e se escondeu na cripta da vizinha igreja de St. Mary. A turba descobriu, invadiu a igreja e linchou a família.
Há várias versões sobre uma Dama Cinza que assombra a região do Petergate Bar: teria sido uma freira emparedada num porão séculos atrás por vingança de autoridades ou uma freira que se apaixonou por um cidadão e ficou grávida ... Ela é frequentemente vista no Theatre Royal.
Na Holy Trinity Church, na Micklegate, há o espírito de Sarah Brocklebank, filha de Thomas (porteiro de Micklegate Bar). Em 1797 ela perdeu as chaves do portão da cidade quando brincava com amigas no seu aniversário. O pai dela perdeu o emprego por não ter podido fechar as portas do burgo e a família foi expulsa da cidade. Ele ficou tão bravo que nunca mais falou com ela. Sarah ficou obcecada pela idéia de encontrar as chaves. Já era uma senhora velha e entrou atabalhoada no gabinete do Lord prefeito. De repente tornou-se jovem de novo e estava a ponto de revelar onde achara as chaves quando caiu morta e levou seu segredo para o túmulo.
Há na Olde Starre Inn, no lado de fora da Stonegate, os sons lascinantes dos fantasmas de soldados que ali agonizaram e morreram na época da Guerra Civil, quando a estalagem foi transformada em hospital de campanha. Cães levados a esse lugar costumam perceber algo diferente e rosnar para o “vazio”.
Uma outra história foi contada por uma família que se mudou para a casa nº 5 na College Street no começo do século. Uma noite o casal estava dormindo quando ouviu um choro de criança. Pensando tratar-se de um dos filhos deles, foram ao quarto dos meninos. As crianças também tinham ouvido o gemido e disseram ter visto uma garotinha correndo pelo andar superior. Logo os adultos também a viram. Ela teria uns sete anos. A família chamou um médium, que entrou em contacto com o espírito da menininha. Ela contou que séculos atrás a praga assolou York. A casa dela foi selada pela prefeitura até que a doença acabasse. Um a um, os adultos da casa foram morrendo da doença. A menininha acabou só e lentamente morreu de fome antes que a quarentena terminasse.
Diversas outras histórias são contadas no livrinho Haunted York, de Ruppert Matthwes.
Segue para Nottingham e Cambridge ...
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