Em Dublin se deve uma visita ao Trinity College, criado em 1591 como College of the Holy and Undivided Trinity, logo após a Reforma, para "civilizar os irlandeses e conservá-los fora da influência do Papismo".
Há a opção de um guia para mostrar a universidade. Das histórias do guia, as mais interessantes foram sobre uma árvore trazida de Oregon e que, devido à umidade, cresceu mais lá que em seu habitat natural e é a maior dessa espécie na Europa.
A outra diz respeito ao reitor que foi morto pelos estudantes. Ele não gostou dos estudantes atirarem pedrinhas na janela dele para atazaná-lo e deu um tiro para o alto. A estudantada ficou furiosa e travou-se tiroteio. O reitor foi morto. Quatro alunos foram presos e processados, mas absolvidos porque o juiz achou que tinha sido "peraltice de estudante".
Na universidade está a maior biblioteca do país, com cerca de 200 mil livros. O salão cheira a livro velho e não há ninguém consultando. Parece que é só para exibição.
Outros bens do acervo da universidade são bíblias antigas (dos séculos XII e XIII), documentos dos séculos VIII e IX (tais como os Annals Ulster, do século XII; uma genealogia de São Columba do mesmo século; o Codex Usserianus Secundus do século VIII ou século IX; várias bíblias dos séculos XII e XIII; um fragmento de um catecismo em copta (língua egípcia antiga que usava como escrita o alfabeto grego modificado) do século IX; o Código de Brehon (código de leis escrito em irlandês arcaico) do século IV e o famoso Livro de Kells, um código de textos do Evangelho em latim, ricamente adornados, compilados no século IV por Eusebio de Caesarea).
O livro foi escrito provavelmente no mesmo século IV, na ilha de Iona (perto da ilha de Mull, na Escócia) ou em Kells (Condado de Meath, Irlanda). De qualquer forma, estava em Kells por volta de 807, talvez para ali levado quando dos ataques viquingues à ilha de Iona.
Também à mostra estão os livros de Durrow, o de Leinster e o de Armagh, igualmente importantes.
Há também no acervo da Faculdade uma pedra com inscrição em ogham (alfabeto usado pelos celtas para gravar inscrições em pedra. Consiste num conjunto de linhas de tamanhos diversos, gravadas nas faces e quinas das pedras).
Recomenda-se a quem quiser apreciar melhor essas obras que escolha dia de pouco movimento. No verão sempre há uma fila enorme para vê-las e um segurança apressando as pessoas para olhá-las às carreiras.
A sede do governo da República da Irlanda fica no Dublin Castle, em realidade apenas uma modesta área fechada com uma torre normanda numa das entradas.
Às margens do Liffey fica também o prédio chamado de Four Courts, porque dentro dele estão os tribunais da cidade. Ali dezenas de advogados transitam usando uma peruca cinza anelada que mal cobre o topo da cabeça. O prédio tem uma torre cilíndrica larga, encimada por uma abóbada verde.
Um outro ponto imperdível em Dublin é a St. Michan's Church. Uma igreja que se acredita ter sido construída na era viquingue da cidade. Nela, em 1743, enquanto compunha o "Messias", Haendel passou um tempo na cidade, usando o órgão da igreja, a única do lado norte do rio Liffey, em meio a uma floresta (que eles chamam de tropical por ser densa).
A igreja tem duas criptas diferentes, às quais se chega por diferentes portinhas no chão, como aquelas dos porões dos filmes americanos sobre furacões.
Na primeira delas, onde as paredes de pedras calcárias absorveram a umidade, o peso dos caixões uns sobre os outros, acabou por revelar alguns corpos que não se decompuseram. Embora não enrolados em panos, são chamados de múmias. Uma se acredita ter cerca de 900 anos e ser o corpo de um cruzado de quase 2 metros de altura. Suas pernas foram quebradas para que ele coubesse no esquife. Um outro corpo tem 200 anos. Sua mão direita e os pés foram decepados. Há várias hipóteses para isso. A de ser um criminoso não faz sentido, pois foi sepultado dentro da igreja (a menos que depois tenha se arrependido e se tornado um padre). A segunda hipótese trata de um acidente. Finalmente, uma amputação decorrente de doença.
Há duas múmias de mulheres. Uma delas, de cerca de 200 anos, tem inclusive os dedos e unhas. A outra, de 400 anos, está danificada.
Na outra catacumba estavam restos dos Lordes de Leitrim. O último deles, falecido em 1878, era tão perverso que a população tentou jogar seu caixão no rio Liffey. Seu caixão não tem o brasão da família e sua família não quis ser enterrada mais na igreja, para não ficar junto dele.
A outra visível (as demais eram privadas e os proprietários não autorizaram que fossem iluminadas) é onde estão os restos dos irmãos John (1766-98) e Henry Shearer (1753-98). Eles lideraram uma revolução que deveria contar com o apoio da marinha revolucionária francesa, para libertar a Irlanda da Inglaterra. Pelo mal tempo, os franceses não puderam desembarcar em duas tentativas e a revolta foi dominada. Os irmão foram sentenciados a serem enforcados, afogados, estripados e esquartejados. Ironicamente, foram executados no dia da Tomada da Bastilha, movimento que inspirou a Rebelião.
Dublin e Dun Laoghaire têm alguns monumentos neolíticos, mas não os fomos ver. Essa região era conhecida na Idade Média como The Pale, um condado real inglês na Irlanda.
Segue para Kildare ...
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