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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - País de Gales

Caerphilly

Caerphilly (pron. caerfíli) se originou de uma fortaleza romana estabelecida no território das tribos celtas dos silures nos anos 75 d. C., abandonada em primórdios do século II.

Com a invasão normanda, a região acabou nas mãos de Robert FitzHamon em 1090. Como eram poucos, os normandos se estabeleceram na faixa costeira e deixaram o controle efetivo das terras no interior com as elites galesas. Os normandos transformaram a região numa área livre da autoridade inglesa.

O rei galês Rhys ap Tewdwr de início recebeu com satisfação a proteção normanda, mas depois os desentendimentos começaram. O rei foi morto em 1093 e o conde normando Roger se apossou do sul e sudoeste galês. Seu filho Arnulf de Montgomery ficou responsável pelo castelo de Pembroke.

Arnulf mutilou Hywel, filho cativo de Rhys, e aprisionou o bispo de S. Dewi. Seu irmão Robert era conhecido como Demônio por sua crueldade. Em 1102 ambos decidiram afrontar o rei Henry I, da Inglaterra. Sublevaram-se e pediram o apoio do rei irlandês Murchadh do Leinster. Porém o rei não veio em socorro deles e o levante foi abortado.

Arnulf fugiu para a Irlanda, onde se casou com Iafracoth, filha de Murchadh.

Rhys teve também a filha Nest Tewdwr, que foi levada para Londres, onde cresceu e se tornou amante do rei Henry I. Foi mãe de um dos filhos bastardos do rei. Desse filho veio a dinastia inglesa dos Tudor (forma anglicizada de Tewdwr).

Os governantes galeses continuavam reivindicando seus direitos sobre as terras.

Por volta de 1160 Ifor ap Meurig (ou Ifor Bach, que significa Ivan, o Pequeno), o senhor do cantrefi (distrito) de Senghennydd (região que compreende os atuais condados de Mid Glamorgan e South Glamorgan), perdeu suas terras. Furioso, escalou os muros do castelo de Cardiff e sequestrou o duque de Gloucester, sua esposa e seu filho, pedindo resgate por eles.

A partir de meados do século XII as dinastias galesas das terras altas de Morgannwg periodicamente buscavam a proteção dos mais poderosos príncipes da terra: a princípio do lord Rhys de Deheubarth (morto em 1197) e, daí em diante, de Llywelyn ab Iowerth, o Grande, príncipe de Gwynedd (que morreu em 1240) e de seu neto Llywelyn ap Gruffudd, o Último (falecido em 1282).

Enquanto isso, os normandos se consolidavam na faixa costeira. Richard (falecido em 1090), filho de Gilbert, conde de Brionne, foi companheiro de Guilherme, o Conquistador, na batalha de Hastings. Ele passou a ser chamado Richard de Clare. Seus descendentes conseguiram o ducado de Gloucester por casamento e se tornaram os líderes do sudeste de March nos princípios do século XIII.

Outro Richard de Clare (1222-1262) expulsou os governantes galeses dos vales ocidentais de Glamorgan para além do Rhondda em meados do século XIII . Richard era um dos líderes do partido que se contrapôs à política real de diminuir o poder dos barões ingleses.

O príncipe galês Llywelyn ap Gruffudd, de Gwynedd, explorou essa dissensão entre os ingleses e, com a morte de Richard de Clare em 1262, invadiu o vale de Usk, capturando as terras de Brecon, pertencentes a Humphrey de Bohun (tutor do herdeiro de Richard de Clare).

Esse herdeiro de Richard, chamado Gilbert, o Vermelho (1243-1295), assim conhecido por ser ruivo, a princípio viveu em bons termos com Llywelyn ap Gruffudd. Todavia, com a série de eventos que se seguiram, a situação mudou radicalmente. Em maio de 1264 o duque Gilbert lutou ao lado de Simon de Montfort, duque de Leicester e líder do partido dos barões, mas em junho de 1265, Montfort entrou em aliança com o príncipe, o que pegou muito mal na Inglaterra e acendeu a desconfiança dos barões de March. Gilbert, então, rompeu com Montfort e uniu-se ao Lord Edward (futuro rei Eduardo I) na batalha de Evesham, onde Montfort foi morto e a causa baronial sepultada.

Gilbert tomou parte nas negociações que levaram à rendição do resto das forças de Montfort, sitiadas no castelo de Kenilworth. Ele ficou maravilhado com as defesas aquáticas do castelo, que consistiam de uma série de represas cercando o castelo, e que permitiram ao castelo resistir ao cerco da Páscoa até o Natal de 1266. Desse castelo Gilbert tirou as principais idéias que aplicou anos mais tarde, quando mandou erguer o castelo de Caerphilly.

O fim da revolta dos barões colocou frente a frente o rei Henrique III da Inglaterra e Llywelyn ap Gruffudd de Gales.

O príncipe galês conseguiu em 1267 um tratado de paz com os ingleses, o Tratado de Montgomery, onde foi reconhecido como príncipe e senhor feudal dos demais príncipes de Gales. O tratado não era claro se os lordes de Glamorgan estavam sujeitos à autoridade de Llywelyn ou não.

O rei inglês tinha autorizado o duque Gilbert se apossar das terras dos galeses de Glamorgan que apoiassem Llywelyn. Gilbert tomou para si as terras altas de Senghennydd, que pertenciam a Gruffudd ap Rhys. Mas temia que o Tratado de Montgomery extinguisse esse direito em Senghennydd. Sentindo-se ameaçado, Gilbert ordenou a construção do castelo de Caerphilly.

As tropas de Llywelyn invadiram o norte de Senghennydd no verão de 1268. O rei inglês intermediou uma trégua, que durou por dois anos. Acabando a paciência de Llywelyn por uma solução definitiva, o galês atacou e queimou algumas fortificações em Caerphilly. Os árbitros da disputa, os bispos de Lichfield e de Worcester, foram comissionados para tomar o castelo de Caerphilly em nome do rei. Llywelyn concordou em se retirar do castelo durante as negociações, desde que nada fosse adicionado às muralhas, fossos e demais proteções durante as discussões. O primeiro encontro ocorreu em julho de 1272 em Montgomery e o príncipe de Gales concordou em esperar por uma futura arbitragem sobre a posse de Caerphilly, arbitragem essa que nunca ocorreu.

Gilbert de Clare usou o castelo nos anos seguintes para reforçar suas posições e fazer novas alianças, principalmente com Humphrey de Bohun, senhor de Brecon.

Llywelyn foi forçado a retroceder a Brecon, saindo de Senghennydd. Após a volta do rei Eduardo I das Cruzadas em 1274, o trono inglês aumentou o tributo devido pelo príncipe de Gales e o príncipe levou mais de dois anos para renovar o compromisso de aliança com o rei, provocando uma guerra que em pouco mais de ano e meio retirou quase todo o país das mãos dele. Cinco anos depois, nova campanha resultou na morte de Llywelyn e a submissão total do País de Gales à Inglaterra.

O rei Eduardo mandou construir uma série de castelos nas costas do país.

No outono de 1294 os galeses se revoltaram, liderados por Madog ap Llywelyn, contra a má administração dos emissários reais no norte e oeste de Gales. Os tumultos logo chegaram a Glamorgan, sob o comando de Morgan ap Maredudd, chefe local, que havia sido derrubado em 1270 por Gilbert. O castelo de Morlais foi capturado e metade da cidade de Caerphilly queimada.

Os rebeldes se renderam não a Gilbert, mas ao rei. Gilbert morreu em dezembro de 1295 com 52 anos e suas propriedades ficaram para sua viúva Joan de Acre, uma das filhas do rei, até sua morte em 1307. O filho deles, também chamado Gilbert, foi morto em 1314 na batalha de Bannockburn, extinguindo a linha masculina da família.

O feudo foi, então, dividido entre suas três filhas. Até que os bens de Gilbert fossem divididos entre os herdeiros, o castelo de Caerphilly ficou sob administração da Coroa. Houve muitas reclamações contra seus síndicos Bartholomeu de Badlesmere e, depois, Payn de Tuberville, pelo modo com que tratavam os galeses, em particular a Llywelyn Bren, antigo agente de Gilbert de Clare.

O exército de Llywelyn atacou Caerphilly com 10 mil homens em 1316. Tão violento foi o ataque que mesmo algumas pessoas que estavam assistindo a uma sessão do júri foram mortas ou capturadas. A cidade e seus moinhos foram queimados.

Embora um dos portões e uma ponte tenham sido queimados, o castelo não caiu. O rei Eduardo II fazia tentativas febris de reconciliação. Forças normandas locais se formavam em Brecon e Cardiff para livrar o castelo do cerco. As montanhas de Caerphilly estavam fortemente protegidas pelos galeses, obrigando as forças reais a circundarem-nas para chegar ao castelo.

Llywelyn se rendeu diante das tropas reais e foi levado a Londres com sua família e ali executado. Na divisão do espólio de Gilbert de Clare, os castelos de Caerphilly e de Cardiff foram entregues ao novo lorde de Glamorgan, Hugh le Despenser, camareiro de Eduardo II e casado com a caçula de Gilbert de Clare, Eleanor.

Llywelyn Bren foi transferido para Cardiff em 1318 e ali morto. Despenser, com o tempo, passou a apropriar-se de terras dos vizinhos, valendo-se de sua amizade com o monarca.

Em 1321 a oposição dos barões era tal que eles atacaram e destruíram as propriedades de Despenser e obrigaram o rei a exilá-los, pai e filho. Mas no ano seguinte o rei se voltou contra os barões, os bateu na batalha de Boroughside e chamou de volta os Despenser.

Roger de Mortimer, vencido pelo rei em Boroughside, escapou da Torre de Londres em 1323 e se aliou a Isabella, a rainha repudiada de Eduardo. Três anos depois, esses exércitos conjuntos invandiram a Inglaterra, obrigando o rei a se refugiar no castelo de Caerphilly. O soberano foi capturado perto de Llantrisant, junto com Hugh le Despenser. Este foi enforcardo e o rei, forçado a abdicar, foi assassinado no castelo de Berkeley em 1327.

A posse do castelo continuou a ser de Eleanor de Clare, viúva de Despenser. Ela morreu em 1337, já casada com William la Zouche. O edifício ficou na família, nos sucessivos casamentos dos herdeiros com os Beauchamps, Neville, Tudor.

No século XV ele já estava em ruínas.

O castelo é um dos mais bonitos que já tínhamos visto até então. É o maior castelo de Gales e só superado na Grã-Bretanha pelos de Windsor e de Dover.

Gilbert mandou inundar uma área de 30 acres e fundou o forte sobre três ilhas artificiais. Na ilha do meio estabeleceu o centro da fortaleza, com um duplo circuito concêntrico de muralhas e quatro portões de acesso. Ele foi reformado, também a mando do 3º Marquês de Bute, sem perder a forma original. É enorme e cercado por água dos três lados.

Patos e marrecos nadam tranquilamente em suas águas. Dentro dele, outro fosso com água. Uma das torres tem paredes muito grossas, entre 1,5 e 2 metros, e está inclinada 10°, parecendo que vai cair a qualquer momento. É conhecida ironicamente como a Torre de Pisa de Gales.

O salão nobre é impressionante, parece coisa de filme. Paredes de pedra das quais pendem escudos e da qual saem escadas para os cômodos e para o pátio. Numa das torres um pequeno painel sobre o castelo e seus utensílios (domésticos e bélicos). Um filminho mostra como eram feitas e usadas as armas (entre elas, bestas gigantes para lançar catapultas). Numa outra saleta um filminho (em inglês ou galês) sobre a vida do príncipe galês Llywelyn.

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