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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Portugal

Barcelos

21 de junho, 6a. feira. Fomos a Barcelos, uma cidade pequena, mas de cujo concelho saíram inúmeros emigrantes para o Brasil.

O ponto alto é a zona arqueológica do Paço dos Condes de Barcelos, numa colina de onde se divisa o curso do rio Cávado e sua ponte medieval, construída no século XIV, ligando Barcelos a Barcelinhos.

O Paço está em ruínas e não parece ter sido enorme no passado. Foi construído no século XV por D. Afonso, 8º Conde de Barcelos e 1º Duque de Bragança.

No interior do sítio está também a Cruz do Galo, com uma imagem de uma pessoa na forca, mas suportada por São Tiago.

A lenda do Galo de Barcelos é semelhante à que contamos quando da visita a Santo Domingo de la Calzada, na Espanha. Em suma é a seguinte:

Os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento duma promessa.

Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.".

O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.

Em Barcelos corre também a lenda de Maria Fidalga, parte da tradição oral portuguesa, ligada ao Monte d'Assaia, no Concelho de Barcelos. A sua história ter-se-ia passado entre o Souto e Fonte Velha, na encosta deste monte, nos séculos XVI ou XVII.

Segundo a lenda, certo fidalgo de Arcos de Valdevez andava intrigado com o desaparecimento do anel de sua mulher, e já lhe nasciam suspeitas sobre a sua fidelidade. Como a fama da feiticeira Maria Fidalga lá chegara, vem então o fidalgo, acompanhado de um criado preto, em demanda do Monte d'Assaia para deslindar o caso. Chegado ao Herbatune, é recebido pela bruxa e informado de que só poderia regressar na manhã seguinte, uma vez que ela apenas à meia-noite receberia, do próprio Diabo, a informação desejada.

O fidalgo sujeita-se e a bruxa prepara-lhe dormida e aguarda a meia-noite. Tem então lugar o oráculo. O Diabo informa-a de que o anel está no bucho do «ruço», o porco do fidalgo, mas proíbe-a de lho revelar; a ele, confirmar-lhe-ia as suspeitas sobre a infidelidade da esposa. Por artes do próprio Diabo, porém, o criado negro, para quem o agasalho contra o frio da noite fora apenas a proximidade da lareira, por uma fresta do tabuado da cozinha, presenciou a entrevista. Na manhã seguinte, a bruxa comunicou ao fidalgo a tramóia engendrada pelo Diabo. O fidalgo partiu a galope para vingar a afronta. O negro, por sua vez, lançou-se no seu encalço para o prevenir do logro e salvar a ama; depois de muito esforço, conseguiu transmitir-lhe o que escutara. Furibundo, sentenciou o fidalgo:

— "Mato o porco, mas mato-te a ti com ela se não encontrar o anel".

O negro confirmou o que ouvira.

Chegados a Valdevez, desventram o porco e aparece o anel. Então o fidalgo regressa ao Assaia. Uma vez ali, prende Maria Fidalga ao rabo do cavalo e arrasta-a até à morte pelas lajes da encosta. O Diabo traíra a sua aliada.

Visitamos a igreja matriz, também do século XIV e dedicada a Santa Maria Maior. Em estilo gótico, é despojada e a parte inferior das paredes é revestida de azulejos com cenas religiosas ou históricas.

Por toda parte da cidade há referência ao Galo de Barcelos, com estatuetas dele em todo canto.

No centro histórico vimos o edifício da Câmara, visitamos a igreja do Bom Jesus da Cruz, cuja origem está relacionada com um aparecimento miraculoso de uma cruz escura no chão barrento do Campo da Feira, em 1504. Por mais que escavassem o local, a cruz reaparecia. Por isso, no local foi erguido um cruzeiro de pedra do mesmo tamanho da cruz aparecida.

No mesmo Campo da Feira fica o Barbadão, antiga torre do burgo medieval, assim chamada por uma imagem nela gravada de uma face com longas barbas. Diziam que representava Tristão Gomes Pinheiro, furioso com o duque D. Afonso, que embargou as obras da casa de Tristão e não deixou que ele elevasse a torre para não devassar o palácio ducal.

Demos uma volta no Jardim das Barrocas, fronteiro ao Campo da Feira. Moderno e muito bem cuidado. Interessantes são também seus banheiros, que de uma discreta entrada saem escadas sob um arco de arbustos e flores até os sanitários.

Almoçamos em um restaurante perto da Casa dos Becas de Menezes. O garçom, seu Américo, conversava com todos os clientes, sugeria pratos etc. Quando disse que finalmente estava ouvindo música em português, ele reconheceu Martinho da Vila. A Mithiko não queria tomar a sopa do dia, mas ele: "vai tomar, sim". E trouxe. No fim, perguntou a ela se conhecia um doce cujo nome não me lembro. Diante da negativa, disse: "então vai provar". E novamente trouxe. Mas não cobrou nem pela sopa, nem pelo doce.

Depois do almoço fomos fazer a ronda das citâneas. Primeiramente procuramos o Castro da Picarreira, em Carapeços. Não houve como encontrá-lo até que um senhor que trabalhava numa casa se dispôs a nos levar à colina da Picarreira. Tentou chamar os vizinhos que ali moravam, mas ninguém apareceu. Subi a colina e não achei nada. Enquanto isso, a Mithiko em conversa com alguns moradores ficou sabendo onde ficava. Subimos a colina uns 150 m. No topo havia, realmente duas construções circulares, como casas, e um cavado na parede que parecia um nicho ou câmara mortuária. O resto era coberto de arbustos cortados e capim. Consta que era um povoado de cerca de 2.000 anos de existência, fortificado por muralhas de taludes.

A seguir, rumamos para a vila de Balugães, à procura da Citânia da Caramona. Há placas de indicação até certo ponto. Subimos por uma estrada de terra para alcançar um desnível de uns 200 metros de onde partimos. Há vestígios de muralha, mas não consegui achar nada que parecesse com um vilarejo.

Ali Mithiko visitou um santuário de N. Sra. Aparecida, mas não é a nossa, mas uma senhora branca. Consta que em 1702, no alto do monte da Caramona, a Virgem Maria apareceu a um pastor que era mudo o o curou. Foi erguida uma pequena ermida a ela, que ainda existe. Mais tarde, em 1729, foi ereta uma igreja maior, onde hoje está enterrado o pastor vidente.

Dali fomos para Ponte de Lima. Uma cidade pequena, com casas muito bem arrumadas. O centro turístico corre ao longo de um rio largo e plácido.

Pelas indicações, há uma feira na margem do rio. Na calçada em frente ao caule do rio estão imagens em bronze de cenas do trabalho rural.

O rio é cruzado por uma ponte medieval. Já do outro lado existe uma pequena ponte romana.

Segue para Guimarães ...

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