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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Portugal

Coimbra/h3>

Coimbra no período visigodo foi sede real. Ali os reis Recaredo, Liuva, Sisebuto e Chintila mandaram cunhar moedas com suas esfinges.

Passou ao mundo mouro e ali permaneceu por três séculos. Desta ocupação ficaram até hoje as ruínas da alcáçova e de muralha, descobertas no pátio da universidade.

O rei asturiano Afonso III tomou a cidade em 878 e a entregou ao conde Hermenegildo Guterres, mas em 987 os mouros voltaram a retomá-la. Reconquistada em 1064, foi entregue aos cuidados do alcaide D. Sesnando Davides.           

Ela também foi sede real quando Afonso Henriques transferiu em 1143 sua capital de Guimarães para Coimbra.

Com a transferência do poder real para Coimbra, o bispo dali ganhou importância e praticamente governou a cidade e vizinhanças. O símbolo desta época é o majestoso Paço Episcopal.

De Conimbriga saímos para Coimbra trazendo um caronista: um professor italiano que esteve em um projeto de História Social na Universidade. Foi bom praticarmos o italiano e depois ele nos mostrar como chegar ao hotel. Simbiose.

No dia da chegada circulamos pelas margens do rio Mondego e fomos à Portagem, ver algo para comer.

Dia 3 de junho, segunda-feira. Já instalados, subimos o morro para a Universidade. Haja fôlego! Passei um tempo no Arquivo Distrital pesquisando (com sucesso, diga-se de passagem) mais algumas gerações de ascendentes. Tratava-se dos ancestrais de Manuel Francisco Bugalho, que foi para o Rio de Janeiro e de lá seguiu para Campos levando uma patente falsa de capitão. Danadinho!

Em seguida passeamos pelo Paço das Escolas. A universidade foi muito famosa na Europa e em 1765 ali estudavam 8.000 moços. Muitos brasileiros ali estudaram, principalmente Leis.

No dia seguinte, atravessamos o Mondego para ver o Mosteiro de Santa Clara Velha e o de Santa Clara Nova.

Na região foi erguido em 1283 um mosteiro a mando de dona Mor Dias, nobre recolhida ao convento de Donas, anexo ao mosteiro de Santa Cruz. A casa foi extinta em 1311, mas refundada em 1314 pela rainha D. Isabel de Aragão, com clarissas vindas de Zamora, na Espanha em 1317.

Após a morte de seu marido D. Dinis, a rainha D. Isabel passou a viver em Santa Clara a Velha. Próxima ao mosteiro ficava a Quinta das Lágrimas, onde foi executada D. Inês de Castro, amante do futuro rei D. Pedro.

O mosteiro novo foi construído em 1677 para abrigar as freiras e restos mortais de nobres enterrados no convento velho, constantemente afligido pelas enchentes do Mondego.

Da construção sobraram algumas paredes e o piso superior, construído justamente em razão das cheias do rio.

A Mithiko foi sozinha visitar o local. Pago, é claro. No museu estão objetos encontrados nas escavações, painéis detalhando a vida no claustro e um filme sobre o cotidiano das freiras.

Enquanto isso, eu passei pela praça onde está Portugal dos Pequenitos, um parque temático com réplicas em tamanho menor (mas não miniaturas) de edifícios célebres de Coimbra. E subi o morro onde estão o Convento de São Francisco (então fechado para reformas) e o Mosteiro.

Fiz uma visita guiada junto a um casal de jovens portugueses. O guia, pesquisador que trabalha no local, nos mostrou os significados dos retábulos, a maioria com imagens de Santa Isabel, esposa do rei D. Dinis, com as mãos cheias de rosas. Isso porque conta-se que ela era muito caritativa, o que não agradava o rei. Certa feita, saía do palácio com pães escondidos nas vestes, para amainar a fome dos mendigos. Cruzando com o rei, ele quis ver o que ela escondia. Quando tirou as mãos das vestes, apareceram rosas.

No topo do altar mor está a Santa em seu caixão secundário, todo em prata. O sepulcro original, em pedra, trazido do convento velho em 1616, está guardado numa sala ao fundo da igreja. Também ao fundo, mas na nave central, duas pessoas nobres jazem, uma delas (na parte direita de quem olha ao altar), uma neta da rainha-santa: dona Isabel de Aragão, condessa de Urgell.

Atrás de Santa Clara a Nova está a Gruta dos Alqueves, onde foram descobertos vestígios de ocupação no período neolítico.

Visitamos a igreja de Santa Cruz, construída em 1131 e onde estão enterrados nas laterais do altar mor, os dois primeiros reis de Portugal: D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Hoje as sepulturas têm estátuas jacentes e outras decorações, tudo um tanto amarronzado, dando um aspecto de bem envelhecido.

A igreja era parte integrante do Mosteiro de Santa Cruz, da Ordem de Santo Agostinho. Seu primeiro prior foi São Teotônio, primeiro santo português.

O mosteiro foi construído sobre o Balneum Regis, remanescentes dos banhos árabes, e sua fundação é devida a D. Telo, arcediago da sé conimbricense, junto a São Teotônio (primeiro santo português, hoje ali sepultado numa capela com seu nome) e de D. João Peculiar (depois arcebispo de Braga e patrocinador do reconhecimento do reino de Portugal pela Santa Sé).

Nela ia o rei Afonso Henriques fazer seus retiros espirituais entre as batalhas, sempre submetendo-se às regras da Ordem de Santo Agostinho.

Ante suas portas, um curioso arco triunfal construído no século XVI em estilo manuelino serve de entrada. O corpo externo do edifício é sóbrio, com paredes lisas. A sacristia é decorada com pinturas e azulejos.

Ao lado da sacristia estão expostas relíquias de São Teotônio, de D. Telo e de cinco mártires franciscanos, mortos no Marrocos.

Em seu interior o Claustro do Silêncio com sua fonte reforçam o ambiente de paz e recolhimento do mosteiro.

Parte do edifício é hoje ocupado pelo Café Restaurante Santa Cruz.

Dia 5. Visitamos a Sé Velha, uma igreja construída no reinado de D. Afonso Henriques, com aspecto de fortaleza. Seu destaque é o retábulo principal, em talha dourada feito por escultores flamengos. Os motivos florais e as figuras são minuciosamente detalhadas. Nas paredes, grandes telas em óleo.

Nela estão sepultados alguns bispos, como D. Tibúrcio e D. Egas Fafes. Também há a arca tumulada de D. Sesnando Davides, que foi alcaide de Coimbra.

Estivemos também na Sé Nova, que foi construída para servir de igreja do Colégio de Jesus, também chamado de Colégio das Onze Mil Virgens.

Em 1759 os jesuítas foram expulsos de Portugal e seus bens confiscados. A igreja foi dada ao Cabido e à Universidade. A partir de 1772 passou a servir de sé.

A Mithiko fez uma visita guiada ao interior da Universidade. Visitou a Capela de São Miguel e a sala dos Capelos, salão onde têm lugar as mais importantes cerimônias da universidade: defesas de doutoramento, imposição de insígnias doutorais, investidura do reitor, atribuição de títulos de doutor honoris causa.

Passou também pela fabulosa Biblioteca Joanina, que abriga mais de 2000 volumes de livros raros e antigos, caprichosamente enfileirados em bem trabalhadas estantes de madeira policromada. Esses livros só podem ser manuseados por pesquisadores cadastrados, examinadas as razões apresentadas para uso do original deles.

Nessa biblioteca há um ninho de morcegos pequenos, que não é exterminado porque os animais ajudam a controlar insetos bibliófagos. E para que o excremento dos morcegos não danifique as mesas enormes ali existentes, todas as noites um funcionário as cobre com toalhas de couro.

Mas não é só na universidade que se consegue ensinamento e cultura. Apenas na rua da Sofia (saber em grego) há sete colégios universitários. Entramos meio sem querer nessa rua e fomos caminhando até perto de Santa Justa. Retornamos à rua Fernão de Magalhães e chegamos ao hotel.

No fim da tarde, fomos assistir ao espetáculo Fado de Coimbra, aos pés da escadaria do Quebra-Costas. Ali são apresentadas três versões para o surgimento do fado: trovadores medievais, raízes mouras e, a mais provável, música trazida pelos estudantes brasileiros em princípios do século XIX.

O espetáculo consiste de 50 minutos de músicas, geralmente melancólicas, cantada por um tenor de voz maravilhosa, acompanhado por um violonista e um guitarrista com sua guitarra portuguesa. Todos de admirável desempenho. Como curiosidade, é dito que nas canções de amor não se aplaude ao final. Os ouvintes apenas emitem o som de limpar garganta e a homenageada apaga e acende a luz de seu quarto três vezes. Possivelmente isso seja apenas gozação para entreter a platéia.

Antes de deixar Coimbra, fomos conhecer o Museu Nacional Machado de Castro, ao lado da Sé Nova. Nesse local ficava o fórum de Aeminium.

Cada passo é orientado pelos funcionários, que também transmitem aos vigias a informação de que estamos nos dirigindo àquele ambiente indicado.

O primeiro trecho, no subsolo, é uma viagem pelo Criptopórtico Romano, as fundações do foro. Passeia-se pelos longos corredores ladeados pelas tavernas e lojas.

Em seguida vem a seção das esculturas portuguesas do século XVI e outra sala, com esculturas dos séculos XI a XIII..

A seguir, no piso térreo: a ala das esculturas portugueses mais modernas (século XVII e XVIII), entre elas a Deposição de Cristo da Cruz e o Cristo Negro, objeto de devoção antiga, mas cujas origens se desconhece. Há também a Pietà, obra do frei Cipriano da Cruz. Uma sala reproduz a capela do Tesoureiro.

Numa sala apartada fica a da Ouriversaria, com magníficas peças, geralmente relicários e ostensórios, decorados com pedras preciosas de cor vivíssima. Alguns dos destaques desta ala são o Cálice de D. Gueda Mendes, feito em honra a São Miguel, e o tesouro que a rainha Santa Isabel deixou ao Convento de Santa Clara (cruz processional, relicário do Santo Lenho e outras jóias) e o relicário de São Francisco Xavier. Este último está ligado a um evento ocorrido com o santo. Estava ele em uma nau no Oceano Pacífico, indo evangelizar os povos das ilhas Molucas. Na viagem, uma tempestade chegou e o santo jogou seu crucifixo no mar e acalmou a borrasca. Mais tarde, já nas Molucas, ele caminhava meditando pela praia, quando um caranguejo veio a seu encontro para entregar-lhe a cruz recuperada. Até hoje os caranguejos da região, que têm o desenho de uma cruz na casca, são chamados de caranguejos de São Francisco Xavier.

Há uma sala expondo azulejos cujas figuras são conhecidos teoremas matemáticos e geométricos.

A próxima etapa é percorrer as salas dos têxteis e mobiliários dos séculos XVI a XX e, no segundo andar, as esculturas dos séculos XVII e XVIII.

À medida em que se anda pelo museu, pode-se ver salas já percorridas, mas de um patamar mais elevado, permitindo ver de perto detalhes que antes estavam muito altos.

Também há janelas de vidro que permitem observar a cidade.

Há salas para outros aspectos etnográficos dos séculos XVI a XVIII: artefatos têxteis, mobiliário, cerâmicas etc.

Segue para Aveiro, Ílhavo e Gafas de Nazaré ...

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