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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Portugal

Santarém

Dias 27, segunda feira, saímos de Évora. Para comprar um folheto sobre a região, entramos em Montemor-o-Novo. Nada achando no centro, subimos ao castelo, mas a entrada estava em obras e nada feito. Circundamos o castelo por uma estreita estrada e fomos embora.

Estabelecemo-nos no Hotel Santarém, num quarto enorme, com janelão que permite uma vista espetacular do rio Tejo e do vale por onde corre. Os atendentes, a grande maioria mocinhas, eram gentilíssimos e parece que se divertiam vendo os brasileiros. Eu várias vezes os sabatinei a respeito de festas locais, músicas, eventos históricos, geografia ... Era uma tal reprovação em massa.

No restaurante, três eslavas eram presença constante durante o café da manhã. Só uma falava inglês e servia de intérprete. Dois casais de franceses ficaram alguns dias e também eram muito divertidos. Um dos senhores uma vez quis saber qual a carne de um certo prato. O garçom mal arranhava o francês e ele ajudou: "de quelle bête?" Foi uma gargalhada só na mesa (e na nossa também).

Também presença constante no restaurante era o que parecia um casal de turcos. Ele muito gentil e solícito para com ela. Mais tarde conversando com ela, disse que não eram um casal. Uma noite, eu e Mithiko acabamos de jantar e nada do garçom. De repente o vi no reflexo da janela e acenei para ele. Essa moça olhou assustada para trás, pois a janela dava para a piscina, muitos metros abaixo, e já era noite, escura como breu. Aí ela deu uma gargalhada gostosa, quando entendeu que eu estava me comunicando com o reflexo do garçom.

Esta cidade muito antiga terá sido contatada por fenícios, gregos e cartagineses. A fundação da cidade de Santarém reporta à mitologia greco-romana e cristã, reconhecendo-se nos nomes de Habis e de Irene, as suas origens míticas. Os primeiros vestígios documentados da ocupação humana remontam ao século VIII a.C.

Da Wikipédia lê-se:

A população do povoado teria colaborado com os colonizadores romanos, quando estes aportaram à cidade em 138 a.C. e a designaram como Scallabis. Durante este período tornou-se no principal entreposto comercial do médio Tejo e num dos mais importantes centros administrativos da província Lusitânia. Dos romanos recebeu o nome de Scalabi Castro. Com as invasões dos álanos e dos vândalos passou a ser designada por Santa Irene. Passou para a posse dos mouros em 715 até que D. Afonso Henriques a conquista definitivamente em 1147.

Santarém tem abrigado várias lendas acerca da sua origem. Uma delas está relacionada com a mitologia greco-romana e conta que o príncipe Abidis, fruto de uma relação do rei Ulisses de Ítaca com a Rainha Calipso, foi abandonado pelo avô – Gorgoris, rei dos Cunetas – que o lançou às águas do Tejo, dentro de uma cesta. Como por milagre a cesta que albergava o príncipe aportou na praia de Santarém, onde uma cerva o criou. Tempos depois, Abidis foi reconhecido pela sua mãe, Calipso, tornando-se assim legítimo ao trono. A Santarém deu o nome Esca Abidis (“manjar de Abidis) e daí teria vindo o nome Scalabis.

Outra das lendas mais reconhecidas pelos escalabitanos é a da Santa Iria. Esta lenda conta que Iria, uma donzela, um dia viria a ser violada, e posteriormente morta e atirada ao rio Tejo. O seu corpo fez-se chegar à Ribeira de Santarém e mostrou o seu corpo afastando as águas à sua volta. Por este pequeno “milagre”, esta donzela tornou-se Santa, a Santa Iria.

Como quase todo o país, ela foi tomada pelos mouros e ali viveram alguns dos mais importantes poetas e trovadores do mundo árabe.

De seu nome romano vem o gentílico local: escalabitano.

O terremoto de 1755 a atingiu fortemente, danificando boa parte de seu patrimônio material, que em seguida foi saqueado pelos próprios moradores.

Mas apenas alguns dias depois de explorar a região, dedicamo-nos a conhecer esta nossa anfitriã.

Saímos a pé ao centro velho. Logo no caminho passamos pela arena de touros (talvez antiga), que traz em uma de suas entradas o indicativo Santa Casa de Misericórdia. Adiante, entramos na igreja São Vicente de Paula (?), vizinha à Santa Casa da Misericórdia.

Passamos pela igreja do Santíssimo Milagre, antes chamada de Santo Estêvão. Nela, uma senhora procurou uma bruxa porque o marido a traía. A feiticeira pediu-lhe uma hóstia consagrada para fazer seu feitiço. Quando a mulher foi comungar na igreja de Santo Estêvão, dissimuladamente jogou a hóstia da boca para um lenço e o guardou. No caminho para casa, as pessoas viam a sacola com o lenço jorrando sangue e perguntaram a ela que ferimento tinha. Ela correu para casa e viu que o sangue saía da hóstia. Ela escondeu a hóstia em uma arca. À noite acordaram com a casa resplandecente e da arca saíam misteriosos raios de luz. Informado do fato, marido e mulher passaram o resto da noite em adoração e ao romper do dia o pároco foi informado e lá foi recolher a hóstia.

À porta, uma inscrição em português antigo diz: "Aqui jaz Lour° Glz', cavaleiro q. leixou aqui todos os chavoens da fabrica desta igreja, a qual estava fora da porta entera do (epasa moso?) ao quando se fez a porta ".

Rumamos para a igreja de N. Sra. da Graça.

A igreja da Graça é um mosteiro que servia de panteão da família Menezes. Ali estão D. Afonso Telo de Menezes e Guiomar de Vilalobos, primeiro condes de Ourém. Há outros nobres da família e ali enterrados. Por ser casado com Isabel de Castro, descendente dos fundadores do convento, ali também foi enterrado Pedro Álvares Cabral, que se desentendeu com o rei e se recolheu a Santarém.

No dia anterior ao que ali estivemos, cadetes de Porto Alegre (RS) tinham ido prestar-lhe homenagem, acompanhados pelo embaixador do Brasil.

Estivemos na Casa do Brasil, ou Pedro Álvares Cabral, mas não pudemos visitá-la, porque o senhor que ali trabalhava resolveu fazer-nos um sumário da história antiga e moderna de Portugal e discorrer sobre as causas da crise e a boa qualidade da educação e da tecnologia lusitana, até que chegou a hora de fechar. Ele recebeu uma ligação da esposa ou filha, disse que já estava saindo, mas continuou sua explanação ainda por pelo menos um quarto de hora.

Passamos pela frente da igreja de N. Sra de Marvila, que estava fechada, e é tida como a catedral do azulejo seiscentista, pelo seu revestimento interior.

Seguimos para as Portas do Sol, onde se situa a antiga alcáçova da cidade. Trata-se de um jardim bem simples, cujas paredes são as muralhas da antiga fortaleza. Delas se vislumbra todo o trajeto do rio Tejo pela cidade, as pontes que servem à cidade e os campos e cidades vizinhas. O rio se mostra bastante assoreado, com gigantes bancos de areia. Tem cerca de 150m de largura.

Num dos torreões conversamos com um casal de austríacos. A Mithiko com a senhora em alemão e eu com ele em inglês. Ele fez muitas perguntas sobre segurança e lugares interessantes no Brasil.

Ainda perto da entrada deste parque, há uma pequena rampa que leva a um edifício pequeno, de paredes de vidro, que mostra ruínas romanas achadas no local.

Voltamos passeando pelo centro histórico. Passamos pela Torre das Cabaças, ou Torre do Relógio, que estava fechada, mas contém um espaço museológico interpretativo do Tempo. À sua frente, a igreja de São João do Alporão, do século XII.

Desembocamos na praça Sá da Bandeira, popularmente conhecida como praça do Seminário. A igreja da Misericórdia, antes capela do Seminário, estava em obras e não a pudemos conhecer. Ela é do século XVII e foi construída sobre as ruínas do Paço Real.

Fomos comer num restaurante atrás do Mercado Municipal, este um edifício pequeno, com paredes de azulejos mostrando cenas do cotidiano rural da região.

A culinária local consta de sopa de peixe, enguias fritas, acorde de sável ou saboga, fataça na telha, magusto com bacalhau assado, espetados em vara de loureiro e entrecosto frito com arroz de feijoca. Não vou tentar explicar o que são. Peça e prove!

Na área de doçaria, as celestes de Santa Clara, os arrepiados de Almoster, pampilhos e queijinhos do céu (estes, com ovos e amêndoas).

Já alimentados, fomos ao Convento de São Francisco, seriamente arruinado pelo terremoto de 1755. Nas capelas laterais ainda se vê as estruturas dos sarcófagos dos nobres nela sepultados.

Fomos ao Convento de Clara, igreja do século XIII no antigo gótico mendicante. Mas também estava em reforma. Tomamos a avenida do Brasil de volta ao hotel.

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