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CADERNOS DE VIAGEM

EUROPA - Portugal

Vila Real

Dia 14. Fomos a Vila Real, cidade entre os rios Corgo e Caril. Há indícios de que a área foi habitada desde o Paleolítico.

Nela vimos primeiramente a casa onde, dizem, teria nascido Diogo Cão, navegador que chegou às costas do Zaire. Fica bem próxima à Câmara Municipal. Há no local uma placa alusiva a isso.

Dali fomos ao Museu da Vila Velha, que guarda os objetos históricos encontrados na região. São peças de diversas culturas ali existentes, com destaque para os celtíberos e os romanos. É visualmente interessante, pois maquetes mostram eventos possíveis num vilarejo da época: as construções, cenas de caça, de preparação de peles e alimentos, funerais etc.

A moçoila que atendia na recepção do museu era simpaticíssima e deu valiosas informações. Contou-nos também que o bisavô dela era nascido no Piauí, mas que ela não sabia muita coisa sobre ele (aliás, nem estava segura de como se falava o nome desse estado brasileiro).

Rodeando o cemitério, chega-se a um miradouro que permite ver as áreas verdes circundantes, bem como a junção dos dois citados rios.

No cemitério há uma capela antiqüíssima, onde a moça do museu disse estar enterrado Pedro Coelho, um dos matadores de D. Inês de Castro.

Visitamos também a Catedral de São Domingos, de estilo gótico, do século XV, de decoração simples.

Tentamos ver o Palácio de Mateus, um requintado palácio e jardim senhorial do século XIX, acho. A atendente à entrada tinha as feições de chinesa, mas falava português com um sotaque lusitano. Mas o preço é alto e tínhamos preferência em conhecer o Santuário Romano de Panóias.

Neste recinto sagrado romano, de finais do século II e inícios do século III, realizavam-se cerimônias de iniciação de catecúmenos, com um ritual muito preciso. O santuário é dedicado a Serápis, deus dos deuses Severos ou dos Infernos. Senhor dos baixos mundos e da vida, trazido da Ásia Menor para o mundo romano. O santuário foi construído a mando de Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial e provável alto funcionário do governo provincial.

O santuário é composto de três fráguas ou fragas (grandes blocos de rocha granítica aflorantes do solo). Nas laterais das duas primeiras há inscrições em latim e uma em grego. Dizem elas:

  • DIIS (loci) HVIVS HOSTIAE QVAE CA / DVNT HIC INMOLATVR / EXTRA INTRA QVADRATA / CONTRA CREMANTVR / SANGVIS LACICVLIS IVXTA / SVPERE FVNDITVR

    Aos Deuses e Deusas deste recinto sagrado. As vítimas sacrificam-se, matam-se neste lugar. As vísceras queimam-se nas cavidades quadradas em frente. O sangue verte-se aqui ao lado para as pequenas cavidades. Estabeleceu Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial;

 

  • DIIS CVM AEDE / ET LACV M. QVI / VOTO MISCETVR / G(neus) C(aius) CALP(urnius) RUFI / NVS V(ir) C(larissimus

    Aos deuses, com o aedes e o tanque, a passagem subterrânea, que se junta por voto (trad. deAntónio Rodriguez Colmenero)

    ou

    G. C. Calpurnius Rufinus consagrou dentro do templo (templo entendido como recinto sagrado), uma aedes, um santuário, dedicado aos Deuses Severos (trad. de Geza Alföldy)

  • DIIS DEABVSQVE AE / TERNVM LACVM OMNI / BVSQVE NVMINIBVS / ET LAPITEARVM CVM HOC TEMPLO SACRAVIT / G(neus) C(aius) CALP(urnius) RVFINVS V(ir) C(larissimus) / IN QVO HOSTIAE VOTO CREMANTVR

    Aos Deuses e Deusas e também a todas as divindades dos Lapitaes, Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial, consagrou com este recinto sagrado para sempre uma cavidade, na qual se queimam as vítimas segundo o rito

    ou, também se traduziu por:

    A todos os deuses e deusas, a todas as divindades, nomeadamente às dos Lapiteas, dedicou este tanque eterno, com este templo, Gaius c. Calpurnius Rufinus, varão esclarecido, no qual se queimam vítimas por voto;

  • DIIS SE(veris) MAN(ibus) DIIS IRA(tis) / DIIS DEABVSQVE (loca) / TIS (hic sacravit lacum et) / AEDEM (Gneus Caius Ca) LP (urnius Ru) FINVS (Clarissimus Vir)

    Aos deuses infernais irados que aqui moram, (dedicou) Gaius c. Calpurnius Rufinus, varão esclarecido

    ou

    Aos deuses, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo, com este (templo) oferece também uma cavidade para se proceder à mistura

E uma em grego que foi traduzida como "o esclarecido varão Caio Calpúrnio Rufino, filho de Caio, consagrou, junto com o destino e os mistérios, (um templo) ao altíssimo deus Serápis".

A primeira das inscrições acima está desaparecida e foi reconstituída a partir de registros antigos.

É interessante que se dedicava o recinto também a deuses nativos, da antiga comunidade dos Lapitas

No topo de cada uma fraga, cavilas (cavidades quadrangulares de cerca de 40 x 15 cm2, escavadas na rocha) serviam para receber o sangue dos animais sacrificados ou para queimar suas vísceras ou, ainda, para assar sua carne.

A última das fráguas elava-se sobre as demais, como que as governando, e servia para a cerimônia final de iniciação do neófito: a morte simbólica do iniciando, seu enterro e ressurreição.

Estudiosos dizem que Caio Rufino, senador que introduziu o culto de Serápis onde havia um culto a Lápitas, usava nos ritos a língua grega. Uma inscrição com a palavra mystaria em lugar de mysteria indica o uso do dialeto dório. Ademais, o centro de culto a Serápis estava em Perge de Panfília, cidade do mundo dórico na Ásia Menor.

O senhor que hoje gerencia o sítio é muito entusiasmado, mostrou-nos o site eletrônico do museu e deu-nos detalhadas explicações sobre cada elemento do sítio.

Segue para Lamego ...

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